Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Como os artistas querem que sejam tratados os tópicos culturais

Muito recentemente, @Verdade celebrou o seu quarto aniversário de existência. Na verdade, também são igualmente quatro anos de cobertura cultural. Por essa razão, nesta edição o nosso repórter sociocultural colheu o parecer de alguns leitores sobre o nosso suplemento cultural. Saiba o que eles pensam sobre o semanário, as manifestações culturais e artísticas no país, bem como as suas sugestões para a melhoria do tratamento dos tópicos ligados às artes.

João Fornasini, artista plástico

Para mim, nas páginas culturais do semanário @Verdade está- se a fazer um trabalho positivo, sendo por isso positivo que elas existam. Basta que se tenha em conta as nossa obras, muitas vezes são adquiridas por cidadãos estrangeiros – os quais por diversas razões podem não ter acesso ao jornal impresso – mas eles lêem-no a partir da Internet.

Isso é o mesmo que afirmar que numa situação em que o hebdomadário em alusão é ofertado aos moçambicanos sem nenhuma cobrança monetária, só esta acção permite que os nossos compatriotas se inteirem sobre os desdobramentos das artes em Moçambique. A publicação possui um total de quatro páginas reservadas unicamente ao movimento das manifestações de artes e cultura, com maior enfoque para o que decorre em Moçambique.

Sinto, porém, que pelo facto de a arte que faço, o afro-surrealismo, ser de difícil abordagem pode condicionar o trabalho dos repórteres daí a sua raridade, em termos de tratamento, nas páginas do jornais por até estar fora de alguns tons em detrimento das artes com ritmos.

De qualquer modo, penso que a arte é assim, obedece a regras de moda e de épocas. Ora, a minha produção é mais clássica e menos contemporânea. Mas isso não retira mérito ao trabalho feito no @Verdade, porque se nota a preocupação de misturar as temáticas em função das diferentes áreas.

Domingos Macamo, secretário-geral da AMO

Na verdade, nos últimos dias não tenho recebido o vosso semanário. De repente pararam de o trazer. De uma ou de outra forma, penso que o @Verdade é uma publicação que dá gosto ler. A sua qualidade não se perde pelo simples facto de ser gratuito. Acho que a equipa que trabalha para a sua materialização tem-se empenhado para abordar os assuntos sem nenhuma tendência, o que é muito bom. Ou seja, fazem jus ao nome que carregam.

Em relação às páginas da secção cultural, penso que se está a realizar um trabalho positivo não obstante acreditar que podiam melhorar. Eu sempre defendi que havia muita informação cultural no país. O território moçambicano é muito vasto, daí que seria positivo que se desse alguma cobertura aos eventos que decorrem em todo o país. Penso que o jornal está um pouco mais limitado, cobrindo o que acontece em Maputo.

Infelizmente, a maior parte dos jornais nacionais tem a mania de considerar que a cultura é só música, o mesmo, ainda que em menor escala, acontece no @Verdade. Temos que abordar a literatura, a escultura, as artes plásticas, o teatro, o cinema, etc. Penso que é importante que se divulguem as demais manifestações de arte e cultura sob pena de a diferença entre elas e a música, em termos de tempo de antena, aumentar mais, o que não seria bom.

Por outro lado, acredito que há muitos artistas no anonimato, ou escondidos, mas a trabalhar. Muitos artistas, por si sós, não têm como se tornarem conhecidos na comunicação social. Portanto, o @Verdade pode muito bem ir ao seu encontro a fim de divulgar a sua história. Por exemplo, os escultores trabalham a madeira. Como é que a que adquirem? Como a transportam? Que custos a realização do referido trabalho envolve? Enfim, são apenas alguns exemplos que fazem a diferença.

David Bamo, radialista e apresentador de televisão

Na minha opinião, a profundidade na abordagem dos assuntos, o estilo artístico que se adopta no tratamento dos temas culturais no @Verdade fazem muita diferença no mercado, não obstante ser uma publicação gratuita. Penso que no mesmo semanário a cultura – nas suas diversas manifestações artísticas – tem sido tratada de forma muito abrangente. Basta que se repare que enquanto os outros jornais se limitam a produzir agendas culturais, o que em certo grau é bom, o @Verdade preocupa- se com uma linha de promoção da formação social por meio da informação.

Esta acção faz muita diferença sob o ponto de vista de qualidade de informação, porque eu acredito que, mais do que nunca, é tempo de os repórter ajudarem as pessoas a reflectir nas realizações culturais que decorrem no espaço nacional e não só. Colocar a sociedade a viajar dentro das artes e cultura.

Parece-me que esta é a vossa intenção. No entanto não há caminhos planos, todos têm sempre alguns obstáculos. No caso, as dificuldades talvez sejam o desafio de ter que se informar sobre todos os assuntos que decorrem em todo o país. Penso que nesse aspecto há muito que se fazer, pois parte-se do princípio de que o jornal @Verdade é lido em todo o país.

Roberto Isaías, músico

Acredito que só o facto de o jornal aparecer no mercado a oferecer os exemplares de forma gratuita aos seus leitores é um aspecto positivo. Significa que está a prestar um serviço público valioso para a sociedade. Mas mais do que isso, penso que o @Verdade é um jornal que pauta pela diversidade de informação.

Por exemplo, analisando a componente cultural, penso que esta publicação tem estado a informar sobre todos as manifestações culturais que têm acontecido. Ou seja, apartando- se do aspecto da música que é o que eu exploro, penso que ? semanário tem conseguido abarcar todas as artes cénicas, incluindo outros movimentos e actividades artístico-culturais.

O aspecto mais importante, em tudo isso, é que numa situação em que vivemos numa sociedade de informação, ainda que nos dias que correm dominem as novas tecnologias de informação e comunicação, os jornais e as rádios que são os primeiros instrumentos de comunicação, em Moçambique ainda não caíram no desuso.

É aí onde se encontra o mérito do jornal @Verdade, na medida em que produz uma informação abrangente e completa, a publicação continua a ser um instrumento de contacto entre os artistas e os seus diversos públicos. Ou seja, o encontro entre os fazedores das artes e os consumidores acontece através do jornal.

Infelizmente, sinto que nos dias que correm temos um défice muito grande de jornalistas culturais para fazer face à actual realidade. Mas penso que isso resulta do facto de, por exemplo, os editores de economia, de política, de assuntos ambientais, invariavelmente, serem pessoas que estudaram ou que se especializam nas referidas áreas.

Ora, o mesmo já não acontece na secção cultural. É por essa razão que em alguns assuntos abordados no campo cultural, os jornalistas não conseguem aplicar uma linguagem cultural e/ou a terminologia certa.

Simão Mucavel, funcionário do Conselho Municipal de Maputo

Tenho lido o jornal porque o recebo periodicamente. Creio que os assuntos que têm estado a publicar no campo da cultura é tudo o que tem acontecido, sem nenhuma discriminação. Portanto, penso que a iniciativa do jornal @Verdade possibilita que os leitores tenham uma imagem do que se passa na cidade de Maputo e no país, em geral, em volta do movimento das artes e cultura.

Penso que se fosse para fazer uma crítica ao jornal teria de analisar com alguma profundidade, mas de uma forma geral tenho uma boa impressão em relação às páginas que são dedicadas à cultura.

Rui Michel, músico

O @Verdade é um jornal que veio para ficar e, em certo grau, divulgar a nossa cultura. Penso que está a fazer o seu trabalho de forma devida. Por isso eu devo congratular- -vos pelo esforço que têm feito para a promoção da nossa cultura e referir que, nesse mesmo aspecto, o @Verdade não tem nenhum adversário no país. Naturalmente que haverá um e outro aspecto que se deve melhorar, mas para se chegar a este nível precisaríamos de um outro tipo de crítica especializada no jornalismo.

No campo da diversidade de conteúdos, penso que há uma necessidade crescente de não somente olhar-se para os artistas famosos, como também para os pouco (ou não) conhecidos. É necessário que se procurem os novos talentos na produção cultural e, a partir deles, mostrar ao país de onde é que provêm as nossas referências. Infelizmente, a globalização conduz-nos a olharmos apenas para as elites. Penso que essa é uma mania que não devemos acatar no jornalismo cultural.

Mendes Mutenda, estudante de jornalismo

Penso que os textos da página cultural do jornal @Verdade carecem de uma linguagem simples, o que faz com que fujam aos cânones da definição básica da notícia. Ou seja, a abordagem que se faz sobre a cultura na publicação em alusão remete- nos à ideia de que aquele espaço está reservado somente para os homens de cultura, pessoas que se familiarizam com a mesma temática.

De qualquer modo, não penso que isso seja mau. Penso que tem a ver com o tipo de público-alvo para o qual se destinam as páginas. Em resultado disso, creio que há uma necessidade de os repórteres culturais abandonarem a mania de escrever apenas para as pessoas bem familiarizadas com a cultura.

Nas mostras de pintura, por exemplo, há certa linguagem que eu, na qualidade de leitor comum, não entendo. O mesmo acontece, por exemplo, nas páginas de economia não somente do @Verdade em que os repórteres utilizam termos muito técnicos que não são acessíveis aos leitores que não entendem da economia.

Há muita gente que não entende, por exemplo, o que é uma economia em recessão. Diz-se que a economia moçambicana evolui dois dígitos, mas eu não sei de que se trata. Está-se diante de uma linguagem que não me transmite significados.

Por isso, penso que faltam as histórias da nossa vivência nas páginas de cultura do jornal @Verdade. Seria importante que os repórteres conseguissem narrar ocorrências ou cerimónias como o lobolo e o xitique, por exemplo.

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