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Como está senhor professor?

O país assinala, esta quarta-feira, o dia consagrado ao professor. Aquele homem incansável que no meio de muitas adversidades, suporta tudo. Num dia como este, festeja-se sim, mas vale a pena parar e perguntar: “como está senhor professor?” Certamente que dirá, que está bem, porque tem camisete, capulana, mas há muita coisa que não lhe deixa bem.

Foi dai que, nesta edição de hoje, centramo-nos para a vida do professor, depois de colher diversos depoimentos de professores de Quelimane, Maganja da Costa, Gurué e Alto Molocué. Se em Quelimane os professores dizem que ainda debatem-se com problemas de falta de material didáctico nas suas escolas, tais como carteiras, cadeira até para o próprio professor, imagine-se quando se sai das cidades.

Professores que falaram ao nosso jornal, sem darem a cara, na cidade de Quelimane, dizem que duma maneira geral, a sua profissão é exercida sem grandes sobressaltos. Mas os mesmos lamentam a maneira como são conduzidos os seus assuntos por parte do Sindicato Nacional dos Professores, que ao invés deste ser o elo de ligação entre estes e o empregador, neste caso o Governo, pelo contrário, o Sindicato, vem posicionar-se como defensor dos interesses deste empregador. “Isto deixa-nos cair lágrimas, porque o sindicato está longe de nos representar”- disseram as nossas fontes.

Por outro lado, os professores queixam-se da falta de diálogo entre estes e o contratante. “O diálogo não é permanente, daí que surgem muitos problemas”- sublinharam para depois acrescentarem que “os grandes problemas que enfrentamos no nosso dia-a-dia, resultam desta falta de diálogo permanente”-fim de citação.

Com estas lamúrias todas, aquela massa laboral que garante o ABC das nossas crianças, embora em alguns momentos sem qualidade, dizem estar dispostos a dar mais alguma coisa a este pais e a província em particular.

Neste grupo, encontramos também os que dizem que ser professor é última profissão nestas alturas, visto que como não há emprego, então solução, procurar Educação como salva-vida. Enfim.

E na Maganja da Costa? 

O nosso correspondente naquele distrito, avançou-nos que também haverá “festa”, mas com lágrimas no canto do olho. Tudo porque o Governo ainda não pagou as horas extra-ordinárias que os professores, alguns, claro têm como direito.

Tem carga horária, mas não ganham por isso. Ou seja, tudo de graça. Ainda de acordo nosso correspondente, os professores dizem que sentem-se lesados, porque são apelados a trabalharem para a pátria, mas que meia volta as pessoas que apelam trabalho a pátria, ganham muito mais em relação aqueles que estão no terreno.

Quanto ao trabalho, neste caso o acesso aos materiais didácticos, os professores da vila da Maganja da Costa, dizem que por vezes ficam sem um simples apagador, tudo porque a escola diz não ter orçamento. Isto, mais alguma coisa, deixa cada vez mais irritado os professores.

Que tal no Gurué como estão as coisas? 

Não bem, mas também não muito mal. Foi assim que o nosso correspondente começou a sua peca sobre o dia do professor que hoje se assinala. Gurué, dista a cerca de 300 km da cidade de Quelimane, numa estrada aceitável. É considerado o cartão-de-visita da província, olhando pela beldade que a cidade ostenta.

Lá, os professores dizem que não estão assim tão mal, mas também não se podem vangloriar. Os problemas quase que são os mesmos, só alteram-se um pouco olhando a natureza de cada região ou local.

Os professores de Gurué, dizem que a vida deles não está a desenvolver, concretamente quando se fala da questão de habitação. Dizem eles que há professores que vivem em condições péssimas e em alguns casos ficam meses sem seus salários.

As famosas horas extras, ainda continuam sendo um bico-de-obra. Há professores que estão a mais de dois anos, mas que dão aulas fora do seu normal e quando chega o fim do mês, só vem salário, mas as horas nada. Nada, nada, até hoje, fala-se e nada de concreto há. “São estas coisas que criam descontentamento e depois exigem melhor qualidade de ensino, donde virá se o professor está com fome?”-questionam os professores de Gurué.

Alto Molocué igual aos outros 

Já no distrito nortenho de Alto Molocué, a situação do professor também assemelha-se com as das restantes cidades ou distritos. Falta de condições de trabalho, habitação condigna, salários atrasados, embora com o tal SISTAF, mas nada.

Reclama-se também como noutros distritos. Os professores que exercem a sua actividade naquele distrito, afirmaram ao nosso correspondente que há colegas seus que alimentam-se mandioca ou batata-doce durante meses, isto a espera de salários.

Esta situação afecta principalmente aos recem contratados que não tendo saídas, acabam muitas ocasiões contraindo dividas com os comerciantes locais, e logo que recebem os seus ordenados, entregam quase que na totalidade no pagamento da dívida. No meio destas contrariedades todas, as vozes se usem e dizem, “vamos educar a nação”.

E com isto tudo, qual é o papel do sindicato’ 

Se uns olham o Sindicato do professor como defensor do contratante, neste caso o Governo, ate que podem ter razão, porque num debate radiofónico organizado pela RM emissor provincial da Zambézia, na última quinta-feira, cujo tema tinha a ver com a vida professor, o Secretario Provincial Sindicato dos Professores nesta parcela do pais, Felizardo Semente, deixou-se a nu e mostrou ser advogado ferrenho do Governo, deixando os seus colegas a solta.

Naquele debate em que esteve presente o director adjunto da Educação, o Secretário da ONP na Zambézia, disse de boca cheia que a vida do professor está melhorar e há esforços para que se melhore cada vez mais.

Que melhorias senhor Semente? Ora, depois destas palavras de Semente, um professor que exerce as suas actividades no distrito de Chinde, pegou no seu telemóvel e discou ao debate para contrariar e dizer que não pode falar de boas condições do professor, se em algumas escolas, como daquele distrito por exemplo, falta giz, um instrumento fundamental para o professor.

Um outro professor de Milange, disse que mais de 45 colegas seus estão desde Fevereiro do corrente ano sem auferirem os seus ordenados mensais e quando é assim, não se pode falar de boas condições para aquela classe.

Este facto foi reconhecido pelo secretario da ONP que na ocasião, disse estar já a encetar contactos junto da direcção provincial da Educação, no sentido de sanar esta questão.

São coisas destas que deixam cada vez mais a profissão de professor como sendo a mais maleável possível. Porque ficar desde Fevereiro até esta parte sem salários, ohh, isto só deixa cair lágrimas.

Neste dia de festa, resta-nos dizer aos professores desta província e do país em geral, que continuem a lutar para os vossos direitos, embora os sindicatos que vos representam, esteja agora como advogados claros do Governo. Nós estamos atentos. Num dia como este, desejamos festas felizes a aqueles professores honestos, porque também sabemos que há tantos professores que tentam manchar os mais bons.

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