O volume dos intercâmbios comerciais no mundo registrou uma queda de 12% em 2009 em consequência da crise, no maior retrocesso desde 1945, anunciou o diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. As previsões para 2010 também não são otimistas.
“O comércio mundial também foi vítima da crise e se contraiu 12% em 2009, na maior desaceleração desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, disse Lamy em uma conferência organizada pelo European Policy Center, um centro de reflexão de questões europeias em Bruxelas. O dado anunciado por Lamy é pior que o das últimas projeções da OMC, que no início de dezembro previa uma queda dos intercâmbios comerciais de 10% em 2009.
Em 2009, a atividade econômica mundial retrocedeu 2,2% e o número de desempregados alcançou o nível recorde de 200 milhões de pessoas, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo Lamy, a queda brutal dos negócios se explica principalmente pela desaceleração da demanda das principais economias, assim como pela queda dos empréstimos bancários para financiar as transações comerciais. “Em menor medida, também pesou o aumento dos direitos de importação e dos subsídios para proteger os mercados nacionais”, completou o diretor geral da OMC.
A tentação protecionista torna mais imperiosa, segundo Lamy, a necessidade de retomada das negociações da rodada de Doha para a liberalização do comércio mundial, iniciadas em 2001 e que deveriam ter sido concluídas em 2005. “É imperativo economicamente concluí-la este ano”, destacou, apesar do bloqueio das negociações desde 2008, nas quais falta um envolvimento forte dos Estados Unidos. Um estímulo à rodada de Doha, que pretende acabar com os obstáculos aos negócios comerciais para ajudar os países pobres, daria uma certa confiança diante das previsões econômicas medíocres para 2010, segundo Lamy.
Os primeiros sinais de recuperação econômica correm o risco de sumir na Europa e nos Estados Unidos, principalmente. Na terça-feira, o índice de confiança dos consumidores nos Estados Unidos registrou um retrocesso maior que o previsto e o das indústrias alemãs também recuou de modo imprevisto, pela primeira vez em 10 meses.
Na Eurozona, a inquietação retornou com a publicação dos dados sobre o crescimento no quatro trimestre de 2009. O Produto Interno Bruto (PIB) dos 16 países que compartilham a moeda única cresceu apenas 0,1% nos últimos três meses do ano passado, depois de um avanço de 0,4% no trimestre anterior.
A catastrófica situação das finanças públicas gregas e os temores sobre a saída da crise a médio prazo das economias espanhola e portuguesa reforçam a ideia de que uma recuperação econômica sólida pode não estar tão próxima como o imaginado.