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Comemoração sob o signo de exclusão

O país comemorou, 4 de Outubro, a passagem de mais um aniversário da Assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), assinado em 1992, este ano, o país assinala a passagem de 18 anos sem os disparos das armas de guerra.

Personalidades políticas, da Sociedade Civil, da academia, das missões diplomáticas acreditadas em Maputo, que estiveram na Praça dos Heróis em Maputo, local que acolheu as cerimónias centrais da data, não hesitaram em reconhecer e convergir na ideia de que vale apenas viver em paz do ponto de vista de ausência de guerra armada.

Entretanto, nem todas as expectativas em termos de ganhos que os moçambicanos perspectivaram a partir de 4 de Outubro de 1992 estão sendo alcançadas. Segundo algumas personalidades, o grande problema está nos moldes da distribuição da riqueza nacional, em muitos casos feita na base de cor partidária e extracto social.

Este, defenderam, é o grande desafio que deve ser ultrapassado urgentemente sob o risco de constituir uma séria ameaça à paz e estabilidade social. Aliás, os últimos acontecimentos de 1 e 2 de Setembro último foram associados a deficiente distribuição da riqueza nacional, pois há a ideia de que os ganhos estão sendo distribuídos por apenas um grupo de pessoas.

Esta mesma percepção foi, igualmente, retomada no recém publicado relatório da Chatham House. O relatório descreve, através das respostas obtidas nas entrevistas a cidadãos particulares, instituições públicas e privadas, que os pobres continuam cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos.

O reconhecimento da degradação, cada vez mais acentuada, do nível de vida do grosso da população moçambicana foi estampado no relatório da 3ª Avaliação Nacional da Pobreza & Bem Estar em Moçambique.

Segundo o relatório, as províncias de Nampula, Zambézia, Manica e Sofala registaram um aumento considerável dos índices de pobreza absoluta nos últimos dois anos, tendo Zambézia registado maior aceleração dos níveis da pobreza ilustrado em 44.6% em 2003, para 70.5% em 2009.

Reacções

Presente na Praça dos Heróis, o então negociador Chefe da Renamo, Raul Domingos, voltou a velha questão da usurpação dos ganhos da independência no sentido de que o poder político do dia não aceita manter um diálogo frutuoso para que todos os moçambicanos sintamse donos do seu país.

“O diálogo e a tolerância são frutos da paz. Infelizmente quase que esse diálogo não existe. Nalgumas vezes sentimos que estamos perante um diálogo de surdos não só na componente política mas ao nível de toda a sociedade. O diálogo deve ser amplo e todos os moçambicanos têm direito de emitir a sua opinião porque toda a opinião, na verdade, é válida e é importante. Isso não acontece e vivemos, na verdade, uma exclusão política, económica e social. O que acontece é simples como isso: você não está do meu lado, então é contra mim e logo meu inimigo.” – referiu Raul Domingos para quem os moçambicanos precisam de se unir e o poder político do dia precisa de se abrir, admitir e aceitar que o país é de todos os moçambicanos e esses moçambicanos devem usufruir, de igual maneira, dos ganhos da independência.

Por seu turno, o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, figura que com o Presidente da Renamo, assinou os acordos em Roma é de opinião que o mais importante, nesse momento, é que os moçambicanos estão a conseguir manter a paz que, segundo ele, com muito sacrifício foi conseguida.

Entretanto, anotou Chissano, o país tem muitos desafios pela frente e os moçambicanos, sem distinção de características individuais de cada um, devem se juntar e avançar para a resolução dos referidos desafios.

Indicou a pobreza que continua a fustigar cerca de metade dos moçambicanos como o maior inimigo da paz e estabilidade, daí que o seu combate não pode ter como base cores político – partidárias, étnicas e raciais.

“Temos que avançar para ultrapassar os desafios actuais que estão relacionadas com o desenvolvimento. Devemo-nos encorajar e juntos dizermo-nos que sim, vale a pena a paz” – apelou o antigo Presidente da República.

Dinis Sengulane, figura incontornável na comunidade religiosa nacional e participante activo no processo negocial para a assinatura do AGP fez votos que o país não regresse nunca mais à guerra, pois os seus efeitos são devastadores e contrários à estabilidade e desenvolvimento.

“Quero que as gerações vindouras comemorem 1800 anos dos acordos de paz” – apelou. Entretanto, Sengulane colocou pequeno senão ao processo: “Temos paz institucional mas precisamos de cultivar a paz na família. Temos que trabalhar nesse sentido para evitarmos situações como as que vimos no início do mês de Setembro. As revoltas populares significam que algumas pessoas ainda não estão a usufruir os ganhos da paz”.

O embaixador da Itália em Moçambique, Carlo Lo Cascio que, também esteve na Praça dos Heróis referiu que o seu país vai continuar a envidar esforços no sentido de garantir a consolidação da paz assinada na capital do seu país depois de 27 meses de intensas negociações. Em todo o país houve cerimónias separadas nas praças e pracetas erguidas em memória dos heróis moçambicanos para marcar a passagem da data.

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