Um comboio do Corredor de Desenvolvimento do Norte (uma sociedade privada que integra a Vale Moçambique, a Mitsui e altos dirigentes do Estado e do partido Frelimo, na sua estrutura accionista), com mais de dez carruagens de passageiros e carga, descarrilou na manhã desta quinta-feira(03) numa área residencial da periferia da cidade de Nampula destruindo várias habitações e ferindo três cidadãs, uma das quais menor de idade.
O acidente aconteceu cerca das 11 horas quando a composição, que não transportava passageiros nem carga, estava a efectuar manobras numa linha férrea transversal à Linha do Norte (que liga Moatize, em Tete, ao porto de Nacala) e, aparentemente, não terá conseguido efectuar uma travagem tendo-se desgovernado e descarrilado acabando por destruir pelo menos nove casas no bairro de Carrupeia no coração da cidade de Nampula.
José Amade, uma das testemunhas do sinistro, disse que presenciou o comboio a fazer as habituais manobras, numa velocidade lenta, mas de repente viu-o “a sair da linha férrea, gritamos o que possibilitou a saída de quem estava em casa”, contou ao @Verdade.
“Tudo foi muito rápido consegui fugir junto dos meus filhos, porque sempre que há manobras de comboio tenho prestado atenção”, afirmou outra testemunha.
À hora do acidente os residentes das habitações, de construção precária, não se encontravam no local o que evitou uma tragédia. Porém uma cidadã idosa, uma cidadã adulta e uma menor, que se encontrava numa das residências, sofreram ferimentos, devido ao desabamento das residência onde se encontravam. As vítimas foi imediatamente socorrida e transportada para uma unidade sanitária privada.
Estas residências encontra-se localizadas dentro de uma área onde até 2001 eram depositadas sucatas da empresa ferroviária. Durante mais de uma década a linha do Norte teve pouco uso e quase nenhuma manutenção daí o abandono do local que foi ocupado por populares a procura de habitação próximo ao centro da cidade.
Segundo o @Verdade apurou existiram contactos entre a empresa ferroviária privada que gere a linha do Norte, uma parceria público privada concessionada no ano 2000 sem concurso público, e os cerca de uma centena de residentes que ocuparam o espaço mas nunca se avançou para o seu reassentamento.
Representantes do CDN estiveram no local mas não quiseram avançar os motivos do descarrilamento, decorre uma investigação, porém tudo indica que a composição não conseguiu travar pois até uma estrutura de travamento existente no local, justamente para evitar que as locomotivas saiam da linha, ficou destruída com a força do impacto.
O @Verdade apurou que as famílias cujas residências ficaram danificadas foram alojadas provisoriamente numa unidade hoteleira da cidade de Nampula, enquanto o Corredor de Desenvolvimento do Norte trata da remoção das carruagens que descarrilaram.
Parceria entre o Estado e a membros do Governo e do partido Frelimo
A empresa que proprietária do comboio ora descarrilado é uma sociedade anónima repartida pelos Caminhos de Ferro de Moçambique(CFM), com 49%, e pela Sociedade de Desenvolvimento do Corredor de Norte (SDCN), com 51%.
A estrutura de accionistas da SDCN alterou-se pelo menos quatro vezes aos longo dos 17 anos da sua existência, segundo um estudo do Centro de Integridade Pública(CIP). Actualmente são accionistas a Vale Moçambique, uma multinacional brasileira com 42,5%, a Mitsui, uma multinacional japonesa com 42,5% e um grupo de seis empresas moçambicanas (que integram figuras políticas do partido Frelimo e a altos quadros dos CFM) que detêm 15% da empresa.
As empresas moçambicanas são sociedades anónimas, porém o CIP conseguiu apurar alguns dos seus accionistas e beneficiários, nomeadamente: a Gestra – Gestão e Transportes (criada em 1997 e que tem como accionistas/outorgantes Francisco Ilídio de Rocha Dinis, João de Passos Fonseca Vieira, Manuel Henriques Teixeira, Júlio Dias Lopes Hingá, Rui Cirne Plácido de Carvalho Fonseca, Gabriel Mabunda, Carlos Fernando Bambo Nhangou, Eunice Maria António, Carneiro Maria António Rothenberger e Rui Ferreira dos Santos); a MG – Moçambique Gestores (criada em 1996 por Armando Emílio Guebuza, Maria da Luz Dai Guebuza, Mário António Dimande, Nora Vicente Maculuve, Teodato Mondim da Silva Hunguana, António Américo Amaral Magaia, Argentina da Conceição Nhantumbo Magaia, Benjamim Alfredo, Isabel Luís Chaúque Alfredo, Manuel Alexandre Panguene, Mário da Graça Fernando Machungo, Augusto Joaquim Cândido, Raimundo Manuel Bila, Cadmiel Filiane Muthemba, Maria Helena Paulo, Gabriel Mabunda, Miguel José Matabel, Armando Francisco Cossa, Bartolomeu Augusto Guiliche, Moisés Rafael Massinga, Filor Nassone, Venâncio Jaime Matusse, Fernanda Carolina Betrufe Manave Matsinha, Mariano de Araújo Matsinhe, Rosário Mualeia, Eduardo Silva Nihia, Bonifácio Gruveta Massamba, Orlando Pedro Conde, Abel Ernesto Safrão, Eugénio Numaio, Arnaldo Tembe, Flora Manuel Arnaldo Tembe, Feliciano Salomão Gundana, Aires Bonifácio Baptista Ali, António Correia Fernando Sumbana, Pires Daniel Manuel Sengo, Alfredo Fontes Selemane Namitete); o Consórcio Cabo Delgado (criada em 1998 e que representa os interesses de generais do norte, com Alberto Chipande à cabeça).
Fazem também parte dos investidores nacionais, cujos accionistas são desconhecidos, as empresas Gedena – Gestão e Desenvolvimento de Nampula, a Niassa Desenvolvimento e a STP – Sociedade de Tecnologias Portuárias (empresa ligada a Fernando Amado Couto).
Não são conhecidas as actividades produtivas, nem mesmo o número de trabalhadores que empregam, destas empresas moçambicanas que são accionistas do Corredor de Desenvolvimento do Norte.