Os combates entre rebeldes e forças do governo tomaram a parte antiga de Aleppo, património cultural da humanidade, e um incêndio destruiu um vasto mercado medieval, disseram os activistas da oposição, esta Segunda-feira (01).
Os rebeldes anunciaram, semana passada, uma nova tentativa de tomar a cidade, onde existe um grande número de comerciantes ainda leais ao presidente Bashar al-Assad.
O foco dessa ofensiva parece ser o labirinto de becos que compõem a Cidade Velha, cercada por muros. As forças do governo controlam a grande cidadela medieval no coração da Cidade Velha, segundo os rebeldes, e é quase certeza que outros tesouros culturais acabarão por ser destruídos nos combates.
“Os rebeldes controlam mais de 90 por cento da Cidade Velha agora”, disse o activista Ameer, que trabalha com brigadas rebeldes. Mas ele disse que os combatentes têm dificuldades para reter as suas posições sob o intenso fogo da artilharia governamental.
Segundo ele, os rebeldes continuam a dominar o Souk al Madina, mercado coberto com 13 quilómetros de becos recobertos e fachadas de madeira entalhada, que já foi uma importante atracção turística.
Os incêndios que atingiram mais de 1.500 lojas já foram debelados, disse Ameer, mas novos focos surgiram nos mercados de Zahrawi, Aqaba e Bab al Nasr, também na Cidade Velha.
Colunas de fumaça escura erguiam-se em muitos bairros, e tiros eram ouvidos. “É uma guerra urbana. Não posso atribuir os incêndios especificamente a nenhum dos lados”, disse Ameer pelo Skype. Aleppo foi séculos atrás a última parada antes da Europa para mercadores que percorriam a Rota da Seda, na Ásia.
Irina Bokova, diretora-geral da Unesco (agência cultural da ONU) disse que a Síria, como signatária da Convenção de Haia para a Protecção da Propriedade Cultural no Caso de Conflito Armado (1954), disse que a Síria tem a obrigação de proteger o seu património.
“O sofrimento humano causado por essa situação já é extremo”, disse ela em nota. “Que a luta esteja agora a destruir o património cultural que testemunha a milenar história do país, valorizada e admirada em todo o mundo, é ainda mais trágico.”
Um visitante na Cidade Velha disse, pedindo anonimato, que os incêndios, iniciados Sábado, foram um efeito colateral dos combates no mercado, famoso por seus tecidos e sedas.
“Um incêndio eléctrico começou durante os confrontos e espalhou-se rapidamente”, disse ele, acrescentando que vários grupos rebeldes, inclusive os da conhecida Brigada Tawheed, envolveram-se no avanço dos insurgentes, que até então tinham tido sucesso limitado na cidade de 2,5 milhões de habitantes.