Pequenos protestos e saques ocorreram em algumas províncias venezuelanas nesta sexta-feira devido à falta de dinheiro vivo, depois de o governo socialista ter repentinamente decretado nesta semana que a nota de maior valor do país seria retirada de circulação em meio a uma grave crise económica.
O Presidente Nicolás Maduro deu no domingo alguns dias para os venezuelanos se livrarem das cédulas de 100 bolívares, argumentando que a medida era necessária para combater as máfias na fronteira colombiana, apesar do alerta de economistas de que a iniciativa poderia provocar uma situação caótica.
A oposição venezuelana diz que a medida é mais uma evidência de que Maduro está destruindo a economia e precisa ser removido do cargo. Autoridades bloquearam uma votação contra o líder de esquerda, contudo, deixando a possibilidade de protestos como alternativa no instável país.
As novas cédulas deveriam ficar prontas na quinta-feira, mas até agora ninguém as viu. Assim, muitos venezuelanos nesta sexta-feira não puderam encher o tanque do carro para ir ao trabalho, comprar café da manhã ou presentes de Natal. Muitos caixas electrónicos estão quebradas ou vazias, lojas estão com dificuldades para receber pagamentos, e as gorjetas desapareceram.
“Nós vemos isso como um deboche”, afirmou o motorista de autocarro Richard Motilva, que com mais 400 outras pessoas bloquearam a rua do lado de fora de um banco na cidade de El Piñal, no estado de Tachira, perto da Colômbia.
Maduro segurou as novas cédulas durante um pronunciamento na TV na quinta à noite e disse que elas entrariam em circulação logo. No entanto, há um nervosismo crescente nas ruas de que as notas não estariam prontas.
A circulação das novas notas “é um mistério para nós também”, disse uma fonte do banco central, que pediu anonimato.
Do lado de fora do banco central em Caracas nesta sexta-feira, milhares de pessoas faziam fila, sob observação dos soldados da Guarda Nacional, para trocar as suas cédulas de 100 bolívares antes do prazo final de terça-feira.
Um vendedor de laranja e abacate oferecia-se para comprá-las por 80 bolívares. A decisão surpreendente de Maduro aumenta a irritação de venezuelanos, que há anos têm feito filas para comprar comida e remédios em meio a problemas de abastecimento e inflação de três dígitos.
Seis lojas no isolado Estado de Bolívar foram saqueadas nesta sexta, depois que se recusaram a aceitar as notas que serão retiradas de circulação, afirmou o prefeito de El Callao, Coromoto Lugo.
Maduro diz que a culpa da crise é de uma “guerra econômica” travada contra o seu governo para enfraquecer a moeda e tirá-lo do poder. Os críticos responsabilizam os controles estatais e a excessiva impressão de dinheiro.
“Eu quero uma mudança no governo. Eu não ligo que mude as notas. De qualquer maneira, elas não valem nada”, disse Isabel Gonzalez, de 62 anos, na fila do banco central.