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Classificação para o campeonato mundial oferece raro raio de esperança para a Bósnia

Rojões e sinalizadores iluminaram a noite de Sarajevo, terça-feira, quando milhares de moradores saíram às ruas para comemorar madrugada adentro a classificação da Bósnia para o campeonato mundial de futebol de 2014. A cena de festa é algo raro numa cidade que ficou marcada por um brutal cerco sofrido durante a guerra de independência do país, entre 1992 e 95, um conflito que matou 100 mil pessoas e que mantém esta ex-república jugoslava como refém de nacionalismos e interesses políticos.

A vitória de 1 x 0 sobre a Lituânia, fora de casa, permitirá que o futebol bósnio dispute o seu primeiro torneio internacional desde a independência. “Esta é uma lição para todos na Bósnia sobre o que pode ser obtido com o trabalho árduo, persistência e talento”, disse a uma TV o diplomata austríaco Valentin Inzko, representante da comunidade internacional para a supervisão do Acordo de Paz de Dayton (1995).

“A vitória vai além dos limites do desporto e é uma mensagem a todas as pessoas de boa vontade no país de que um futuro melhor é possível. Os cidadãos da Bósnia-Herzegovina podem se orgulhar da sua selecção nacional de futebol”, acrescentou o diplomata, que foi a Kaunas, na Lituânia, para assistir à partida histórica. Quase duas décadas depois do fim do conflito, a Bósnia continua a ser um país disfuncional, afectado por divisões étnicas, instabilidade política e dificuldades económicas.

As divergências entre líderes rivais sérvios, muçulmanos e croatas atrapalham o processo de adesão à União Europeia. O acordo de Dayton, mediado pelos EUA, silenciou os canhões, mas criou um sistema de partilha étnica do poder que é tão complexo que muitas vezes paralisa o governo, prejudicando a recuperação e as reformas em um país no qual há 28 por cento de desempregados.

A perspectiva de disputar o campeonato mundial no Brasil deixou de lado, pelo menos em curto prazo, as preocupações com os salários atrasados e as aposentadorias minguadas, e injectou a confiança de que os políticos poderão seguir os passos dos jogadores da selecção, que formam um raro raio de luz e unidade.

“Esta vitória significa tudo para mim”, disse à Reuters a médica Sanja Mandic, 51 anos, na região central de Sarajevo, onde os jogadores foram recebidos por uma multidão de adeptos ao desembarcarem. “Eu os amo muito. Eles são a única coisa brilhante nas nossas vidas, e um lampejo de esperança nestes tempos terríveis.”

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