Atravessada pela Estrada Nacional número 1 (EN1), que liga a cidade de Nampula à de Pemba, a vila de Chiúre, no distrito com mesmo nome, na província de Cabo Delgado, ascendeu à categoria de município em 2013. Os primeiros dois anos de municipalização são caracterizados por enormes desafios como, por exemplo, a falta de água potável, o saneamento do meio deficitário e o crescente índice de desemprego. A pacata vila, diga-se em abono da verdade, cresce à mercê das paupérrimas contribuições fiscais dos munícipes, cuja maioria não tem conhecimento de que Chiúre é uma autarquia.
Chiúre procura consolidar-se como uma autarquia, não obstante tenha sido criada recentemente, sendo este o mandato inicial da primeira edilidade. Porém, apesar de inúmeros problemas relacionados com o desemprego, as vias públicas deficitárias e os bairros desordenados, o novo município começa a dar os seus primeiros passos. Ao longo da estrada principal, desponta a construção de pequenos estabelecimentos comerciais.
A economia do município é impulsionada pelo comércio informal, em que diversas actividades sobressaem aos olhos dos transeuntes ao longo da principal artéria da vila. O desemprego continua a ser a dor de cabeça, colocando, sobretudo, os jovens numa situação dramática. Para a maioria, a solução tem sido o auto-emprego. Augusto Antina, de 28 anos de idade, é exemplo disso. Ele dedica-se à comercialização de acessórios para dispositivos electrónicos, recargas de telemóveis e outros produtos, de modo a garantir o sustento da sua família.
À semelhança de Antina, dezenas de jovens ganham a vida nas ruas do novo município, uma actividade que iniciou antes de Chiúre ser elevada à categoria de autarquia. Presentemente, o comércio informal tem vindo a ganhar vida, tornando-se numa das principais fontes de receitas da edilidade.
Água, saneamento e saúde
Não é apenas o desemprego que está a deixar os munícipes de Chiúre à beira do desespero, mas também a falta de água para consumo. A escassez de recursos financeiros é a desculpa mais invocada. Os moradores de diversos bairros, sobretudo das comunidades que circundam a vila, são obrigados a percorrer longas distâncias para obterem o precioso líquido. Esta situação faz com que a maior parte dos residentes consuma água imprópria.
Para ter acesso ao preciso líquido, os munícipes têm de acordar muito cedo e formar longas filas nas poucas fontes que existem na autarquia. A título de exemplo, o bairro de Meriha conta com apenas quatro fontanários, que servem mais de nove mil habitantes.
Aliado ao défice no abastecimento de água potável, o saneamento do meio é preocupante. No recém-criado município de Chiúre verifica-se o incremento na produção de lixo. A recolha de resíduos sólidos é feita de forma deficitária devido à escassez de meios circulantes. O município, que conta apenas com um tractor, ainda não dispõe de uma lixeira municipal, com condições de aterro, pondo a nu o problema de lixo na via pública que está longe de ser ultrapassado.
Vendedores de produtos diversos não só se queixam da falta de água como também do saneamento básico que é deficiente, comprometendo a saúde dos munícipes.
Apesar disso, nem tudo em Chiúre vai mal. A nível da autarquia, os moradores orgulham-se de benefeciar de serviços básicos de saúde. O município conta com um hospital rural, a única unidade sanitária que atende os residentes daquela região.
“Não tem havido demora no atendimento. O que mais preocupa a população é que, algumas vezes, tem havido falta de medicamentos, facto que dificulta o tratamento das suas doenças”, afrimou o munícipe Faruque Abdala.
Electricidade, vias de acesso e transporte
A rede eléctrica ainda é precária, havendo frequentemente restrições no seu fornecimento. Apesar de já contar com a energia de Cahora Bassa, a maioria dos bairros do município não tem iluminação pública, ou seja, a expansão da rede eléctrica na autarquia é praticamente nula. Os munícipes que vivem distante da vila não têm electricidade nas suas respectivas casas, e os que dispõem dela não a recebem nas condições desejáveis.
A nível do município, as questões relacionadas com estradas e ordenamento territorial são um problema bem patente. No que toca ao melhoramento das vias públicas, ainda há muito por ser feito. Nos últimos dois anos, não houve nenhuma intervenção digna de registo. As poucas vias de acesso que existem não oferecem as mais elementares condições de transitabilidade.
Aliado à precariedade das vias públicas, está o problema da falta de ordenamento territorial em alguns bairros periféricos. Todos os dias, cresce o número de construções desordenadas com materiais não convencionais.
Em relação ao transporte, Chiúre ainda não tem sido servido pelo município, até porque este serviço é assegurado por operadores privados. Na verdade, o facto de ser atravessada pela EN1, a edilidade conta com fácil acesso às cidades de Nampula, Pemba e Montepuez.
Munícipes desconhecem a municipalização de Chiúre
Alguns moradores interpelados pelo @Verdade não sabem que Chiúre ascendeu à categoria de autarquia há sensivelmente dois anos, não obstante terem exercido o seu dever cívico de voto. Além disso, ainda não há consciencialização sobre o trabalho a ser desenvolvido pelo Conselho Municipal local.
O vendedor ambulante Florêncio Joaquim do Rosário, de 31 anos de idade, disse que desconhecia que Chiúre é uma autarquia, para além de não saber a localização das instalações onde a edilidade funciona. “Não sabia. Eu votei porque nos disseram que tínhamos de votar”, afirmou o jovem comerciante, quando questionado sobre as últimas eleições autárquicas.
Farito Ali, residente do bairro de Muajaja, afirmou que há necessidade de a edilidade transmitir informações aos moradores sobre o processo de municipalização de Chiúre e o papel do Conselho Municipal para que seja do domínio de todos. “As populações conhecem apenas os órgãos da administração distrital, apesar de terem votado nas últimas eleições, razão pela qual não exigem uma melhoria de condições de via de acesso e outros serviços municipais à edilidade”, disse.