Cientistas completaram na segunda-feira um censo marinho que durou dez anos e resultou na descoberta de milhares de novas espécies exóticas, num projeto que ajudará a avaliar ameaças como as mudanças climáticas ou o recente derrame de petróleo num poço da BP no golfo do México.
O censo internacional custou 650 milhões de dólares e envolveu 2.700 especialistas de 80 países. Entre as descobertas estão um caranguejo de garras peludas, um peixe luminoso que vive nas profundezas escuras, um camarão que era considerado extinto desde o Jurássico e uma lula de 7 metros de comprimento. Mesmo assim, os cientistas admitem que muitas criaturas ainda estão por serem descobertas.
O projeto (www.coml.org) também documentou a pesca predatória do bacalhau e do atum, os riscos causados pela poluição por petróleo e outras substâncias, e os impactos do aquecimento global. “A notícia sobre os oceanos é ao mesmo tempo ótima e péssima”, disse Paul Snelgrove, da Universidade Memorial do Canadá, que compilou o relatório final de um censo que descobriu mais vida do que se esperava no oceano Ártico e nas fendas vulcânicas do leito marinho.
Com isso, o número de espécies marinhas de animais e plantas maiores que micróbios passou de 230 mil para 250 mil, mas os cientistas estimam que 750 mil espécies ainda estejam por descobrir, especialmente nas profundezas abissais, e também em partes do Ártico, Antártida e Pacífico.
O censo propriamente dito descobriu 6.000 espécies potencialmente novas, principalmente crustáceos e moluscos, e fez descrições formais de mais de 1.200 animais. O estudo permitiu, por exemplo, que os cientistas contabilizassem 8.332 espécies de peixes e mamíferos na área atingida pelo vazamento da BP neste ano. Comparar a situação do golfo do México com o banco de dados público ajudará a avaliar os danos e calcular os gastos a serem cobertos pela BP.
Dois dos cinco integrantes de uma comissão nomeada pelo governo dos Estados Unidos para investigar o acidente, Terry Garcia e Donald Boesch, trabalharam no censo marítimo. Em um prazo mais longo, o monitoramento dos mares pode revelar pistas sobre ameaças como a mudança climática e a maior acidez dos oceanos. Além disso, o estudo de algumas espécies animais e vegetais pode levar a avanços na medicina. Um projeto paralelo criou um “código de barras da vida”, inspirado nas etiquetas dos produtos, para que os cientistas possam identificar espécies apenas com um rápido teste genético. Isso já apontou sushis “enganadores” em Nova York, e pode ter um amplo impacto econômico na indicação de exportações pesqueiras fraudulentas.
Finalmente, segundo os cientistas, o censo ajuda a mostrar ao público a beleza e a variedade da vida marinha, assim estimulando os esforços de proteção dos oceanos. Algumas criaturas têm inspirado artistas, e o caranguejo peludo encontrado perto da ilha de Páscoa vem aparecendo em skates, segundo Snelgrove. “Esses bichos são uns tremendos embaixadores para nós”, acrescentou.