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Caso Mozal: A procissão ainda vai no adro

A população que vive ao redor da Mozal entende que a empresa deve parar de operar enquanto estiver a reabilitar os centros de tratamento de fumos. Para aquelas populações, não constitui verdade o facto de que durante o tempo em que se vai trabalhar com recurso ao By Pass os problemas ambientais serão de pouca monta, pois mesmo no período normal a fábrica cria sérios problemas ambientais na zona.

Contam-se três semanas desde que o caso veio à superfície e pelo andar da carruagem tudo indica que a procissão ainda vai no adro. Numa ronda efectuada nas diferentes zonas da Matola, entre as quais os bairros Mussumbuluco, Malhampsene, Liberdade Txumene e outros, @Verdade constatou o receio das populações em relacção aos danos ambientais que resultarão das emissões directas que a Mozal pretende levar a cabo durante seis meses.

As opiniões e depoimentos recolhidos convergem no mesmo ponto: parar com os trabalhos da empresa, mesmo se a decisão significar perdas avultadas em dinheiro pois, segundo elas, não há quantias monetárias que comprem vidas humanas. Ainda assim as pessoas reclamam pelo facto de que até ao momento nada tenha sido feito para estejam a par da situação. “Quer por parte da Mozal, quer pelo governo ainda não fomos informados sobre que medidas adoptar para evitar os riscos”, disse um residente de Malhampsene.

“É muito estranho. Nestas alturas nós perguntamos, onde estão as autoridades locais, aquelas que geralmente em tempos de campanha eleitoral nos obrigam a votar em determinados partidos? Porque não aparecem neste momento? Não faz sentido que fiquemos a saber e sem precisão por via da comunicação social, portanto exigimos explicações”.

Para muitos cidadãos, mesmo nos momentos em que opera normalmente, é comum notar-se um ambiente estranho nas redondes da fábrica de alumínio de Beluluane, como o disse Wiliamo Cossa de 23 anos e residente em Mussumbuluko há mais de dez anos. “Desde que foi instalada esta fábrica o ambiente deixou de ser o mesmo. Há dez anos que sentimos um calor infernal, o rio aqui ao lado não demora a secar e o peixe que sai dali só nos provoca diarreias que não passam”, explica.

“As pessoas morrem de qualquer maneira e não sabemos porquê. Limitamo-nos apenas a justificar que foi por SIDA, tuberculose ou malária.

Quem nos garante que algumas doenças que abundam por aqui não são consequência dos trabalhos da fábrica? Será que está tudo sob controlo? Enfim, é desolador o cenário que se vive”.

Egídio Sitoe também mora no mesmo bairro que o primeiro. Chegou ali há mais ou menos 20 anos. Conhece bem a zona por isso diz que consegue muito bem perceber o que mudou ou não. Para este, além de saber que respira um ar impuro, diz que a Mozal só trouxe desgraça, pois matou-lhe as duas machambas de que dependia para viver. “Sem me aperceber, de repente as culturas dos meus campos começavam a secar e algum tempo depois deixaram de produzir definitivamente”, conta acrescentando que “quase todos residentes à volta da fábrica estão a par dos danos e sentem na pele os riscos que a mesma provoca ao ambiente, mas não se queixam porque o grupo constrói escolas, hospitais e faz doações diversas à população”

E agora?

Enquanto as populações reclamam e exigem explicações, as partes envolvidas (Mozal, MICOA e os grupos da sociedade civil) encontram-se divididas em relação à continuação do projecto. Esta semana, tomámos conhecimento através do MICOA, de que as obras de reablitação dos centros de tratamento de fumo arrancam dentro deste mês com as previsões a indicarem até meados ou finais.

“Neste momento, a Mozal está a receber o material e equipamentos adequados para as obras, bem como prepara o plano de monitoramento contendo o cronograma das actividades”. Por seu turno, enquanto aguarda pelo plano de monitoramento que virá da Mozal, o MICOA desdobra-se em encontros, visando esclarecer o processo.

Esta sexta-feira, 6 de Agosto, reuniu com estudantes do Instituto Médio do Planeamento do Ambiente enquanto prepara um seminário ainda dentro deste mês com o público da cidade de Maputo. Os ambientalistas continuam irredutíveis. Neste momento já estão reunidas 15 mil assinaturas a submeter à Assembleia da República em forma de petição.

Igualmente no rol das actividades está na manga uma marcha de protesto a acontecer nos próximos dias nas ruas de Maputo. Retrospectiva Após um certo período de silêncio, a empresa pronunciou-se com o resguardo do MICOA em três dos tão aguardados encontros decorridos nas últimas duas semanas.

Nos dias 22 e 23 de Julho a Mozal reuniu com a sociedade civil e a comunicação social. A 29 de Julho foi a vez do público e as partes interessadas no auditório municipal da Matola. Apesar de se dirigirem a públicos diferentes, o objectivo das reuniões foi exclusivamente o mesmo: esclarecer as dúvidas em torno do processo.

Foi garantido que as obras de melhoramento e reparação dos centros de tratamento de fumos obedecerão aos padrões internacionais, bem como serão acompanhadas por uma monitoria constante das emissões antes e depois do projecto. Através do presidente da instituição, Mike Frazer, ficou-se a saber que o processo vai garantir e assegurar que a exposição ambiental e pessoal esteja abaixo dos níveis prejudiciais, permitindo que a empresa passe a operar normalmente.

Em poucas palavras, significa que os riscos resultantes do período em que a empresa estiver operar a “céu aberto” serão escassos. A seguir, não tardaram as reacções quer por parte da sociedade civil, como para o público em geral.

Os que estão contra o procedimento entendem que a Mozal foi pouco convincente nos seus esclarecimentos, pois deixou de lado várias questões pertinentes como as alternativas ao By Pass, os critérios que levaram à sua escolha, as bases que definiram o período de seis meses, o paradeiro dos estudos tanto do MICOA como da MOZAL, bem como o plano de gestão ambiental e a autorização especial.

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