Almeida Figueiredo Dias e Júlia Bernardo Fernando formavam um casal perfeito aos olhos dos parentes. Em 1990, quando eles tiveram o seu primeiro filho, a quem lhe foi dado o nome de Betânio, a alegria instalou-se no seio de todos. Mas a felicidade foi sol de pouca dura. Quando os familiares se aperceberam de que o petiz nasceu deficiente físico e mental, eles passaram a isolar os cônjuges.
Almeida e Júlia vêm-se abandonados pelos parentes mais próximos, após o nascimento do Betânio Dias. O casal vive há 24 anos numa mar de tristeza, porque os familiares afastaram-se dos cônjuges por serem progenitores de um rapaz incapaz de assegurar por si mesmo, totalmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência nas suas capacidades físicas e mentais.
“Ele nasceu deficiente, mas nos primeiros 20 anos tentava andar. Em 2010, a situação agravou-se quando os seus membros inferiores ficaram totalmente paralisados”, explicou Dias, acrescentando que “Betânio teve sempre dificuldades na fala e a última vez que o levámos ao hospital, em 1997, fomos colhidos por uma informação segundo a qual não seria possível desenvolver a fala porque o erro foi ele ter ingerido alimentos salgados, o que agravou a prisão da língua”.
Num outro desenvolvimento, Almeida Dias disse que o seu filho não aceita que alguém se comunique com ele por mio de gestos, porque ele possui uma audição saudável, não obstante as dificuldades imensas de articular as palavras.
Conformados com o estado físico do seu filho, o jovem casal trata Betânio à semelhança dos outros oito filhos que nasceram sem deficiência quer física, quer mental. Mas Almeida e Júlia mostram-se preocupados com o facto de serem descriminados pelos seus familiares. “Os nossos parentes distanciaram-se de nós devido à situação do nosso filho. Talvez eles quisessem que nós o matássemos, mas não podemos porque ele também é pessoa e devemos tratá-lo assim como os outros”, desabafou a mãe do jovem.
O jovem casal disse que vive momentos extremamente difíceis, uma vez que Almeida Dias, chefe de família, é desempregado e sustenta o seu agregado familiar através de biscates. Júlia tem, por vezes, tentado trabalhar a terra com vista a produzir comida para o sustento diário. A sobrevivência do seu descendente, diga-se em abono da verdade, é garantida pelos crentes da igreja que eles frequentam. A congregação religiosa garante o vestuário e a assistência médica do jovem; para além disso, oferece 100 ou 200 meticais em dinheiro quinzenalmente.
Com o apoio do secretário do bairro onde reside, Betânio recebeu uma cadeira de rodas para a sua locomoção, mas esta não oferece condições, ou seja, não é compatível com a sua deficiência. Nesse sentido, os progenitores do jovem pedem ajuda a quem de direito para aliviarem o sofrimento do filho.
Refira-se que a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes nos seus artigos sete, oito e nove declara à comunidade internacional que as pessoas deficientes têm direito à segurança económica e social e a um nível de vida decente e, de acordo com suas capacidades, a obter e manter um emprego ou desenvolver actividades úteis, produtivas e remuneradas e a participar nas actividades dos sindicatos.
As pessoas deficientes têm o direito de viver com as suas famílias ou com pais adoptivos e de participar em todas as actividades sociais, criativas e recreativas. Nenhuma pessoa deficiente será submetida, na sua residência, a tratamento diferencial, além daquele requerido pela sua condição ou necessidade de recuperação. Se a permanência de uma pessoa deficiente num estabelecimento especializado for indispensável, o ambiente e as condições de vida nesse lugar devem ser, tanto quanto possível, próximas da vida normal das pessoas da sua idade.