Cerca de 80 porcento da população moçambicana vivem basicamente da agricultura, mas, apesar disso, e volvidas mais de três décadas de independência, o país não conhece nenhuma política claramente virada para o apoio à agricultura familiar, que é a que absorve a maior parte do universo de produtores. Esta situação é vista como uma das maiores causas da fragilidade do sector agrário no país.
Para além desta situação, a entrada massiva, nos últimos anos, de investimento directo estrangeiro (IDE) para financiar este sector e outros, principalmente nas zonas rurais, está a levantar uma frenética onda de preocupação por parte dos camponeses, que afirmam nunca antes na história terem sentido tão distante o seu sonho de alcançar a soberania alimentar.
É que o facto de Moçambique ter das mais “perfeitas” leis da terra a nível da região Austral da África não está ser capaz de evitar a emergência de conflitos de terra entre os camponeses e os investidores. Estes últimos, muitas vezes, agem a coberto do Governo ou das elites políticas nacionais directamente ligadas a ele, desde a nível central até a mais recôndita localidade.
No entanto, com o objectivo de discutir essa matéria, pouco mais de duas centenas de camponeses, líderes das associações agrícolas nacionais e estrangeiros estiveram reunidos durante dois dias, em Maputo, para reflectir sobre o assunto.
O Governo moçambicano tem como seu principal objectivo, no sector agrário, a transformação da agricultura de subsistência em comercial, o que, segundo afirma, será acompanhado pela transfiguração dos pequenos produtores em agricultores comerciais. Este artificioso desejo é visto pelos principais intervenientes nessa matéria, desde camponeses até aos académicos, como sendo impossível. Estes dois últimos não só reprovam a ideia como também argumentam que o agro-negócio não é o caminho mais viável para se alcançar o tão desejado desenvolvimento.