Os efeitos da falta de chuva que se regista no país, em particular na região centro, mais concretamente em Sofala, estão a deixar cada vez mais apreensivos e desesperados os camponeses nesta província.
As autoridades governamentais estão cientes desta realidade e não escondem a sua pretensa de a qualquer momento virem a lançar apelo de emergência.
O Governador da província, Carvalho Muária, esteve nos últimos dias a efectuar uma digressão pelos distritos do sul e norte da província para se inteirar da situação, e a constatação apurada é de que a situação é de facto preocupante – segundo relatou um colaborador que fez parte da comitiva do mais alto dirigente da província.
Enquanto a situação da falta de chuva prevalecer neste ponto do país, as autoridades do sector da agricultura estimam que mais de 101 hectares de terra trabalhada não terão rendimento.
Enquanto isso, as mesmas autoridades apoiadas com as da saúde dizem que de mais de 93 mil famílias já passam fome na província.
Segundo “O Autarca”, no Dondo, uma mulher camponesa que se identificou por Maria Ndambujua, 45 anos de idade, pousada debaixo duma sombra arrancada de mangueira, sob um sol violento e abrasante, com a mão a segurar o queixo, chora e pede a Deus para que faça um milagre e solte a chuva sobre aquela região.
“Porque mereço este castigo? Gastei todo o pouco que tinha a investir nessa minha machamba na esperança de ter comida e a chuva não quer cair, as culturas estão a secar” – afirmou precipitadamente para depois acrescentar “não sei o que será da minha família”.
Na realidade, são muitas as famílias camponesas em Sofala que vivem o mesmo desespero. A presente época agrícola em Sofala está seriamente ameaçada pela irregularidade de chuvas.
Para contornar o cenário da crise de chuvas, várias cerimónias tradicionais de evocação aos espíritos dos antepassados têm sido promovidas um pouco por toda a província de Sofala, onde as autoridades tradicionais clamam pela chuva.
Segundo “O Autarca”, alguns desses eventos, que têm sido bastante concorridos pelas populações locais, nomeadamente no periférico bairro da cidade da Beira, Cerâmica, e nos povoados e localidades dos distritos de Dondo (Manduruzi, Gandafuta e Chipende) e Nhamatanda (Lâmego, Metuchira, John Segredo e Chadea).
Todas essas zonas, coincide, são potencialmente agrícolas e declaradas celeiros da província. Todavia, a chuva teima em não cair o suficiente para o alívio das populações.
Há sempre um culpado Como tem sido costume na tradição africana, sempre que há ocorrência duma determinada crise existe paralelamente um culpado.
E, no caso vertente, o dedo acusador aponta alguns investidores estrangeiros cujos negócios não são compatíveis com o estado de tempo chuvoso.
Neste caso concreto, de Sofala, fala-se mais dos empresários chineses, na sua maioria os negócios estão orientados à exploração florestal e construção civil.
Coincide, porém, que essas duas actividades de grande impacto económico e social o seu desenvolvimento não se ajusta com o tempo chuvoso.
As famílias camponesas que se colocam na situação de principais vítimas da crise de chuva em Sofala não poupam a língua, acusando essa classe empresarial de estar a fazer algo para impedir a queda normal da chuva na província.
Na cidade da Beira caiu alguma quantidade de chuva nos últimos dias, o cenário galvanizou as famílias camponesas na província, mas sucedeu que a queda pulviométrica somente se concentrou nesta urbe, para a frustração das demais famílias na província.
Refira-se, entretanto, que para a primeira época da presente campanha agrícola 2011/ 2012, o sector da Agricultura em Sofala havia planificado uma área de 518 mil hectares, mas graças ao engajamento das famílias camponesas e do sector privado nesta província a meta sofreu incremento até se atingir 535 mil hectares.
De acordo com dados tornados públicos pelo director provincial da A gricultura de Sofala, Miguel Coimbra, até ao momento uma produção estimada em cerca de 201.007 toneladas de culturas alimentares diversas, o equivalente a 36 por cento da produção planificada é tida como perdida.
Caso persista a situação de escassez de chuva, o sector em referência prevê o risco de perda adicional de para além de 101 mil hectares, afectando principalmente as culturas de milho, arroz, mapira, feijão nhemba e amendoim, por sinal as principais cultuiras que compreendem a dieta da população local.
Os distritos de Nhamatanda, Beira, Búzi e Dondo são apontados como sendo os mais críticos.
Segurança alimentar
Dados obtidos junto do director provincial da Agricultura em Sofala revelam que as reservas alimentares neste ponto do país tendem a diminuir e, consequentemente, aumentam os casos extremos de redução da quantidade de alimentos em cada refeição diária no seio das famílias.
Isso está a acontecer de forma mais preocupante nos distritos de Chemba, Chibabava e Machanga, onde as reservas se estimam não poderão resistir para além de Abril próximo, segundo a nossa fonte.
Ainda segundo a fonte, um trabalho de monitoria sobre a segurança alimentar e nutricional levado a cabo pelo sector da Agricultura nos finais do ano passado, estimava que cerca de 2.550 famílias camponesas estavam em situação de vulnerabilidade aguda, devido a fraca disponibilidade de reservas alimentares.
Mas, de lá para cá, ainda segundo a mesma fonte, acredita-se que o número tenha crescido substancialmente.
Esforços para reverter a situação
Com vista a reverter a situação, o sector da Agricultura em Sofala está empenhado no desenvolvimento de um programa que consiste no reajuste do plano relativo a segunda época, apostando nas culturas resistentes a seca, como são os casos de feijões, milho e alguns tubérculos tais como a mandioca, batata-doce e batata-reno.
A horticultura com recurso a rega é também uma aposta. De acordo com o director provincial da Agricultura de Sofala, Miguel Coimbra, as famílias neste momento estão mais determinadas nos preparativos da segunda época da campanha em curso, contando com o quadro chuvoso reservado para o período entre os meses de Março e Abril.