O Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA) avalia como “boa” a 1ª época campanha agrária 2017/18 esperando uma produção de 3,1 milhões de cereais, 800 mil toneladas de leguminosas dentre as principais culturas alimentares e de rendimento. No entanto a escassez de chuva no Sul e em algumas Regiões do Centro, aliada às pragas, afectaram 5,2 por cento da área semeada e deixaram em insegurança alimentar aguda e a precisar de assistência humanitária imediata cerca de 500 mil moçambicanos em 19 distritos das províncias de Tete, Gaza e Inhambane. Paradoxalmente o Governo de Filipe Nyusi só disponibilizou 22 milhões de meticais dos 291 milhões previstos para acção de emergência na agricultura.
Analisando a campanha em termos de satisfação hídrica, particularmente na cultura do milho, “constatamos que a Região Norte teve uma boa satisfação hídrica, como se previa no prognóstico, a Região Centro teve uma satisfação média a medíocre e a Região Sul teve uma satisfação hídrica pobre ou mesmo uma falha, essa satisfação hídrica depois está relacionada com os níveis de produtividade e produção”, começou por avaliar o engenheiro agrónomo Hiten Janttilal.
“Em termos de pragas e doenças temos a destacar aquelas que tiveram um impacto social e económico como a lagarta do funil do milho, o mal do panamá na banana, a tuta absoluta no tomateiro e também os ratos do campo” referiu o representante do MASA durante um encontro do Centro Nacional Operativo de Emergência que esta semana reuniu em Maputo para ponderar sobre a segurança alimentar.
Janttilal indicou as acções que foram levadas à cabo, com o apoio dos parceiros de cooperação para reduzir o impacto das doenças que afectaram a as culturas e reconheceu até o défice de recursos humanos para apoiar os produtores. “A rede pública estamos com 1815 técnicos de extensão, juntando com os privados temos 2871 técnicos que assistem aos produtores num universo de 4 milhões de pequenos produtores, desses estão sendo assistidos 1,1 milhão”, revelou.
O agrónomo disse que ponderando os impactos climáticos e das pragas, até final de Maio, “5 por cento da área ficou perdida ao longo da campanha, em relação a área prevista no início. A estiagem causou perdas acima de 200 mil hectares, a lagarta do funil acima de 63 mil hectares”.
Governo de Nyusi cortou fundos de emergência para agricultura
Para o MASA, “devido a boa precipitação na Região Norte e também em alguns distritos da Região Centro podemos dizer que a campanha foi boa, no cômputo geral, estima-se uma produção de 3,1 milhões de cereais, cerca de 800 mil toneladas de leguminosas, nas culturas de rendimento temos a destacar uma boa produção do algodão e também na castanha de caju em cerca de 140 mil toneladas, são culturas que ajudam a renda familiar do pequeno produtor”.
No entanto Hiten Janttilal recordou aos membros do CENOE que: “Há que constatar um aspecto que tivemos como constrangimento que foram fundos que estavam destinados para o plano de contingências que não foram disponibilizados”.
O Plano de Contingências previa cerca de 184 milhões de meticais apenas para prestar assistência às famílias mais necessitadas, garantindo insumos agrícolas e efectuando monitoria e avaliação permanente nas áreas afectadas pelas calamidades. Adicionalmente o Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar solicitou pouco mais de 107 milhões de meticais para lidar com a praga da lagarta do funil do milho. O @Verdade apurou que o Governo de Filipe Nyusi apenas disponibilizou 22 milhões de meticais.
Tete é a província mais afectada pela insegurança alimentar
Entretanto Dino Boene, do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), revelou que a avaliação preliminar feita pela instituição constatou que: “A escassez de chuva e pragas afectaram a disponibilidade dos alimentos, o acesso e a utilização dos alimentos”.
“Olhado para o índice da satisfação hídrica, no Sul de Tete e nas província de Gaza, Inhambane e Maputo tivemos problemas de satisfação hídrica para as culturas”, explicou Boene que referiu que a precipitação registada durante a campanha agrária esteve “abaixo da média dos últimos cinco anos”.
A província de Tete, que há mais de uma década recebe biliões de dólares de Investimento Directo Estrangeiro é de acordo com o SETSAN aquela que tem a pior taxa de qualidade da dieta adequada em Moçambique, 33 por cento dos “tetenses” vivem em insegurança alimentar crónica e mais de 50 por cento vivem em desnutrição crónica permanente.
Na mais recente avaliação do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional 78 por cento da população, já no passado mês de Maio, “não tinha reserva alimentares de milho assim como na província de Gaza”, referiu Dino Boene.
“Nas reservas alimentares de leguminosas, feijões e amendoim, as províncias mais críticas continuaram a ser Tete, com 86 por cento, e Gaza, com 82 por cento de agregados familiares sem reservas” indicou o representante do SETSAN acrescentando que “na província de Tete apenas 25 por cento da população ainda tinha culturas em campo (em Maio)”.
“500 mil pessoas em insegurança alimentar aguda a precisar de assistência humanitária imediata em 19 distritos”
O SETSAN constatou ainda que: “Apenas 38 por cento da população estava a usar a agricultura como principal fonte de rendimento, o que é preocupante. O mesmo acontece em Gaza onde praticamente metade dos agregados familiares não estavam a recorrer a produção agrícola como fonte de rendimento, tendo em conta as falhas na agricultura”.
Boene disse que a avaliação do SETSAN concluiu que “dos cerca de 28 milhões de moçambicanos 2 por cento estão em situação de insegurança alimentar, estamos a dizer que neste momento temos cerca de 500 mil pessoas em insegurança alimentar aguda a precisar de assistência humanitária imediata em 19 distritos” das províncias de Tete, Gaza, Sofala.
O @Verdade descortinou que 265.82 “tetenses” em insegurança alimentar nos distritos de Cahora Bassa, Changara, Chifunde, Chiuta, Doa, Mágoe, Marara, Moatize e Mutarara. Mandlakazi e Guijá são os distritos com a maioria do 178.482 cidadãos em insegurança alimentar na província de Gaza que estende-se aos distritos de Chibuto, Chicualacuala, Chigubo e Mapai.
O CENOE reuniu para esboçar um plano para atender a estes moçambicanos em situação de emergência alimentar que ainda não está quantificado, entretanto o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades “só tem disponibilidade de cereais e feijões para um mês”, declarou o seu porta-voz, Paulo Tomás.