No último ataque do jogo, a bola caiu na mão de um jovem armador de 23 anos. O sérvio Milos Teodosic, que vinha de uma atuação má nos oitavos de final, decidiu gastar o tempo. A sua seleção estava empatada com a Espanha, atual campeã mundial, apinhada de jogadores rodados no elenco. E o relógio correu. Com o cabelo todo fora do lugar e a barba por fazer, Teodosic deixou o tempo passar. À sua frente, Jorge Garbajosa, bem mais alto e nove anos mais experiente. O garoto bateu bola como se quisesse furar o chão do ginásio Sinan Erdem, em Istambul. E soltou a bomba, bem atrás da linha de três pontos. Cesto. A vitória heroica por 92 a 89 põe a Sérvia nas semifinais do Mundial e encerra o sonho espanhol do bicampeonato.
Teodosic terminou a partida com 12 pontos, incluindo os três mais importantes da sua carreira, além de oito assistências e cinco rebotes. Até o momento do último tiro, o aproveitamento dele nos lances de três era 1/7. A decisão “egoísta” de não passar a bola e tentar resolver sozinho acabou dando certo, e ele passou de vilão a herói em apenas um arremesso.
Esta quarta-feira, Teodosic contou com a ajuda de Keselj e Velickovic, cada um com 17 pontos, além dos 15 de Savanovic e os 14 de Bjelica. Para destronar a Espanha é assim, todo mundo tem que colaborar. Para os sérvios, resta agora aguardar o rival das semis, que sai do confronto entre Turquia e Eslovênia, ainda esta quarta.
Os atuais campeões agora precisam contentar-se com a disputa de quinto a oitavo lugares. A equipe ainda lutou até o fim e viu o capitão Juan Carlos Navarro fazer 27 pontos. Mas foi ele que precipitou uma bandeja inexplicável no último minuto e acendeu nos sérvios a chance da vitória. Fora da seleção, o astro Pau Gasol viu tudo de perto, trabalhando como comentarista para um canal de TV. Ao fim do jogo, a expressão de desânimo no rosto do pivô era visível.
A Espanha tropeçou duas vezes na fase de classificação, contra França e Lituânia – este último, chegou a estar vencendo por 18 pontos. A derrota veio para uma seleção que descende da Iugoslávia, campeã nos dois mundiais anteriores a 2006 – e cinco vezes medalhista de ouro nas últimas 10 edições.
Equilíbrio desde o início
Após ganhar da Argentina no fim da primeira fase e da Croácia nas oitavas, a Sérvia não se intimidou com os espanhóis. No embalo de Bjelica e Velickovic, a equipe tomou as rédeas do jogo no primeiro quarto e, apesar dos 13 pontos de Navarro, virou na frente: 27 a 23. Enquanto o pivô Krstic cuidava dos ressaltos, o armador Teodosic se recuperava da atuação apagada contra os croatas. Ele brilhou no segundo período e ajudou a ampliar a vantagem na saída para o intervalo. Os campeões mundiais foram para o vestiário em apuros, perdendo por 49 a 41.
Na volta para o segundo tempo, o cenário mudou. A Espanha abriu o terceiro quarto com uma sequência de 8 a 0, com direito a cesta e muita vibração de Garbajosa para empatar o jogo. O técnico rival pediu tempo, e a partir dali o equilíbrio tomou conta do ginásio Sinan Erdem. Ainda assim, os sérvios seguraram a vantagem na vidada para os últimos dez minutos: 67 a 64. Com cinco pontos seguidos na abertura do quarto período, a Sérvia abriu oito e viu o sonho das quartas de final se aproximar.
Do outro lado da quadra estava uma das melhores seleções do mundo, e a vitória não viria assim tão fácil. A vantagem chegou a cair para três na metade do período, pulou para oito de novo e voltou a despencar. No último minuto, Navarro tinha a chance de empatar o jogo, mas esqueceu o equilíbrio de um capitão e partiu para resolver sozinho, numa infiltração atabalhoada. Perdeu a bola e só não foi castigado porque, no ataque seguinte, Marc Gasol enterrou para garantir o empate a 25 segundos do fim.
Teodosic bateu bola, gastou o tempo, deixou o relógio passar e, quando a prorrogação já ameaçava dar as caras, soltou uma bomba do meio da rua. O tiro saiu bem atrás da linha de três, mas o alvo foi certeiro, e a torcida sérvia explodiu em alegria na arquibancada, a três segundos do fim.
A Espanha ainda teve a chance de responder, mas enrolou-se na reposição e viu a esperança escorrer pelos dedos. Sergio Llul, frustrado, ainda pegou a bola e fez um lançamento para a arquibancada. Com ela, foi também a esperança do bicampeonato.