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Bitonga Blues – Entrevista fictícia a Mário Machungo

Bitonga Blues - Comprou chocolates e rosas para uma criança que já havia morrido
– Qual é a sensação de trabalhar no último piso de um prédio tão alto como é a sede do Millennium bim, usufruir de uma vista paisagística esplendorosa que inclui a beleza arquitectónica constituída pela geografia da Matola, Catembe, e a própria cidade de Maputo, ter quase a seus pés o arrebatador porto de cabotagem, ainda por cima saber que na cave desse mesmo prédio está instalado um forte cheio de dinheiro?
– É uma sensação de inferno.
– Aquele descanso do oceano que o senhor vê ao longe, e os navios e os barcos – pequenos e grandes – e as nuvens que se tornam mais perto de si, tudo isso aliado ao dinheiro, muito dinheiro, não lhe empresta um sentimento de estar no Céu?
– Na verdade há momentos em que me sinto no Céu, mas todos aqueles que lidam com muito dinheiro, estão em permanente tensão, eu também tenho um medo constante. 
– Há uma pergunta violenta que eu gostaria de lhe fazer, posso?
– Você já está a violentar-me desde que entrou no meu gabinete.

– O Siba-Siba Macuácua foi atirado do último andar onde trabalhava, com honestidade, como o senhor, – aliás, Mário Machungo é uma figura bastante respeitada no universo financeiro dos PALOP e da CPLP – esse episódio macabro (o do Siba-Siba) não o faz pensar que um dia pode acontecer com V. Excia?

– Quando aceitei o cargo de presidente do Conselho de Administração do BIM, o Siba-Siba Macuácua ainda não tinha morrido. Eu conheço todos os riscos que o meu trabalhado acarreta, mesmo assim aceitei, porque também sou um defensor de causas. Ou seja, estar num cargo tão elevado como este é defender uma causa. 
– Se pudesse voltar para trás e tivesse a prerrogativa de escolher os cargos de Primeiro-Ministro – que já foi – e de presidente do Conselho de Administração do Millennium bim, qual destes dois abraçaria?
– Como já provei os dois meles, e senti que são amargos no fundo, escolheria ser camionista de longo curso.
– Porquê?
– É uma das formas mais generosas de festejar a vida. Gostaria de palmilhar, em liberdade, o meu país inteiro. Conhecer muitas pessoas e ver animais que de vez em quando vão atravessar a minha estrada. Ser camionista de longo curso é também uma libertação.
– O que é que vale uma libertação sem dinheiro?
– Quem lhe disse que o camionista de longo curso não tem dinheiro?
– Não tanto como Mário Machungo!
– Quem lhe disse que tenho muito dinheiro?
– Até dizem que o senhor tem um fundo de maneio mensal para a sua casa, pago pelo Millennium bim, que ronda os cem mil meticais, para além do saco azul instalado no seu gabinete, calculado também em muitos milhares de meticais!
– Quem lhe disse tudo isso?
– Eu também não sei quem me disse.
– Ora essa!
– O senhor quando sai do seu luxuoso Audi, parece uma barata assustada. Vai a um passo largo para entrar no elevador privado e olha de esguelha para os lados. Ao seu redor há homens armados dissimulados. Para quê esse aparato todo?
– Não se esqueça de que sou também homem de Estado. Não sou um simples tecnocrata e, quando se é homem de Estado, a sua vida não vai depender só de si.
– Algumas pessoas dizem que o senhor devia abandonar o Millennium bim, por não ser já quem toma a última palavra, apesar de continuar a ostentar o cargo de PCA. Ou seja, Mário Machungo tem uma dimensão elevada com muito trabalho e responsabilidade e sacrifício, para aceitar humilhações. Tem algum comentário acerca destas vozes?
– A vida é feita também de muitas pedras. Nós temos de ter a capacidade de deixar essas pedras para trás e pegar naquilo que de mais valioso existe na nossa vida.
– Só mais uma questão: tenho visto o senhor, muitas vezes, em cerimónias culturais, como lançamento de livros, exposições de Artes Plásticas, homenagens a figuras da Cultura, diferentemente de outras figuras de Estado como o senhor. O que é que o impele para esses lugares?
– Eu também sou homem de Cultura.
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