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Benfica e Sporting de Nampula ameaçam abandonar o Nampulense

Numa altura em que faltam apenas quatro jornadas para o término do Campeonato Provincial de Futebol, o Nampulense edição 2014, os clubes Sporting e Benfica, ambos da cidade de Nampula, ameaçam abandonar a competição alegadamente por se registar sinais de corrupção no sector da arbitragem, promovida pelos dirigentes das equipas de Monapo.

Os presidentes do Benfica e Sporting, Abdul Hanane e Victor Sousa, respectivamente, apontam como prova disso os jogos realizados em Monapo que, na sua maioria, têm terminado em condições desfavoráveis às equipas visitantes.

A título de exemplo, na terceira jornada da primeira volta da prova máxima de futebol da região norte, numa partida envolvendo o Benfica local e o da cidade de Nampula em que os “encarnados” da capital provincial teriam vencido, com muito sacrifício, mas o jogo foi anulado.

Situação idêntica viria a acontecer aquando da realização da 8ª jornada da competição, na qual o árbitro teria invalidado a marcação de um golo dos “encarnados” de Abdul Hanane numa partida com o Benfica local.

Enquanto isso, o Sporting de Nampula teria na 7ª jornada, por sinal a última da primeira volta, defrontado o seu homónimo de Monapo, e o resultado foi um empate a uma bola, apesar de a equipa da cidade Nampula ter sido superior e estado em vantagem no jogo.

Face a esta situação, as equipas representantes da cidade Nampula no Campeonato Provincial de Futebol colocam como condição para a mudança de intenção de abandono da prova a intervenção urgente das autoridades competentes. Refira-se que este problema (corrupção) não é novo, mas, nos últimos tempos, tende a agravar-se.

Nesse contexto, jogar na vila municipal de Monapo e na cidade portuária de Nacala tem constituído um autêntico martírio para quase todas as equipas, sobretudo as oriundas da capital da região norte de Moçambique, que estão a caminhar a passos largos rumo à poule de apuramento ao Campeonato Nacional de Futebol da primeira divisão, o Moçambola, edição 2015.

Além da corrupção na equipa de arbitragem, Monapo já foi nas épocas anteriores líder nos casos de agressões físicas e psicológicas contra os árbitros e as equipas visitantes, na sua maioria, protagonizadas pelos adeptos e jogadores das formações locais.

Saliente-se que Monapo é uma vila desportivamente problemática. A título de exemplo, na presente temporada futebolística do Nampulense, especificamente na segunda jornada da primeira volta da prova, numa partida envolvendo o Sporting local e o Futebol Clube de Moma, seis jogadores da equipa visitante foram suspensos por três anos, devido a cenas de agressão aos árbitros por alegada má actuação destes.

Diante dessa situação, os presidentes dos clubes Benfica e Sporting de Nampula manifestaram-se indisponíveis a continuar na prova.

A decisão daqueles líderes desportivos foi anunciada depois da realização do balanço da primeira volta do Nampulense, através de uma carta direccionada à Associação Provincial de Futebol de Nampula (APFN), com o conhecimento das autoridades que velam pelo desporto e futebol em particular, nomeadamente a Direcção Provincial da Juventude e Desportos, a Comissão Provincial de Árbitros de Futebol (COPAF), a Federação Moçambicana de Futebol (FMF) e o Ministério da Juventude e Desportos.

Segundo Hanane, a decisão do seu clube de abandonar o maior Campeonato Provincial de Futebol visa preservar o bom nome da sua formação desportiva. “As equipas de Monapo já compraram os árbitros, mesmo que se faça um bom jogo tudo termina mal”, frisou.

O número um das “Águias” de Nampula falou sobre as constantes manobras da equipa de arbitragem que culminam, nalgumas vezes, na repetição dos jogos, em caso de vitória dos visitantes, como forma de favorecer as formações de Monapo.

No ano passado, os “encarnados” de Nampula teriam vencido uma partida diante do Benfica de Monapo, mas o jogo foi invalidado. Caso idêntico e mais recente verificou-se na terceira jornada da primeira volta da prova, na qual o Benfica da capital do norte, num jogo com o seu homónimo de Monapo realizado naquela vila municipal, teria vencido por três bolas sem resposta mas o jogo foi anulado pela equipa de arbitragem.

“Nós remetemos uma carta à Associação Provincial de Futebol em protesto contra o jogo ainda na primeira volta, e felizmente ganhámos a causa. O que nos deixa muito indignados é o facto de o resultado não ter sido homologado até esta segunda volta”, lamentou.

O presidente do Sporting de Nampula, Victor Sousa, mostra-se agastado com a má actuação da equipa de arbitragem quando os jogos são realizados em Monapo.

“As equipas de Monapo estão a investir muito, mas fazem-no na arbitragem. Isto choca-me bastante. Na avaliação da primeira jornada do Nampulense, levantámos esta situação e chamámos a atenção de todos de modo que não se volte a repetir na segunda volta da prova”, disse Sousa, tendo acrescentado que “se o problema prevalecer, vamos retirar-nos do campeonato”.

Aquele dirigente justifica a sua decisão com o facto de o seu clube estar a investir fortemente no desporto e outros estarem a fazer investimentos na corrupção. À semelhança do Benfica de Nampula, o Sporting também já tornou pública a sua decisão através de uma carta enviada aos órgãos que velam pelo futebol.

APFN “aplaude” decisão

A Associação Provincial de Futebol de Nampula (APFN) diz não ter recebido nenhuma carta das equipas a manifestarem o seu distanciamento da prova máxima de futebol a nível provincial, alegando a existência de casos de corrupção por parte das equipas de arbitragem.

De acordo com o vice-presidente para a Alta Competição da APFN, José Sarajabo, as duas equipas teriam apenas levantado a preocupação numa reunião que juntou os dirigentes das formações desportivas que militam no Nampulense e os órgãos que zelam pelo desporto em Nampula.

“Nós somos o organismo que deve penalizar as pessoas envolvidas em casos de corrupção, mas, até este momento, estamos à espera que os clubes venham para a associação comunicar quais são os mecanismos utilizados no processo de suborno porque não se deve punir somente por se assistir à má actuação de um árbitro”, explicou Sarajabo.

O nosso interlocutor disse ainda que as equipas devem ganhar coragem e apontarem o árbitro que, porventura, terá recebido dinheiro para prejudicar uma determinada equipa. “Se eles acham que devem abandonar o campeonato, são livres de fazê-lo ”, afirmou.

COPAF exige provas

A Comissão Provincial de Árbitros de Futebol (COPAF) também nega ter recebido alguma carta, comunicando a saída das duas equipas, por sinal a que estão a colher bons frutos, por alegada corrupção.

André Janna, presidente da COPAF em Nampula e árbitro com 15 anos de carreira, disse ao @Verdade que a sua agremiação nunca, em momento algum, teve a informação da possível retirada de uma equipa devido a casos de corrupção e, muito menos, recebeu uma denúncia de suborno de árbitros.

O nosso interlocutor reconhece haver uma e outra equipa que tentam subornar a equipa de arbitragem, mas ele afirmou que ninguém apresenta provas. “Neste momento, quatro árbitros estão suspensos devido ao incumprimento da lei de jogo, mas isso não tem nada a ver com a corrupção ”, referiu.

Janna acredita que a decisão dos referidos clubes é uma manobra de fugir à poule de apuramento ao Moçambola devido a questões financeiras, e avalia positivamente o estágio actual da arbitragem na província.

A falta de meios financeiros e de transporte para fazer a supervisão dos jogos do Nampulense, em alguns campos dos distritos que acolhem a prova, nomeadamente Monapo, Nacala-Porto, Angoche e Moma, é apontada pela COPAF como um dos problemas que contribui para o conflito entre as equipas e os árbitros.

Aquele dirigente disse ainda que o seu organismo tinha, em condições normais, de assistir a todos os jogos de modo a testemunhar o comportamento da equipa de arbitragem em campo, mas não possui fundos para o efeito.

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