Mario Benedetti, poeta, romancista, contista, ensaísta, dramaturgo e crítico, que faleceu neste domingo em Montevidéu aos 88 anos de idade, foi o mais prolífico expoente da literatura uruguaia, com obras traduzidas em vários idiomas.
Em agosto de 2008 lançou “Testigo de uno mismo”, escrito em verso, livro mais introspectivo e afastado de seu habitual compromisso sócio-político. Atualmente, trabalhava em “Biografía para encontrarme”, um novo livro de poemas, gênero com o qual se sentia “mais confortável”, segundo confessou em uma entrevista para a Associação de Imprensa Estrangeira no Uruguai.
Autor de dezenas de livros, Benedetti recebeu vários prêmios literários, entre eles o Prêmio Internacional Menéndez Pelayo, em 2005, o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, em 1999 e o Prêmio Iberoamericano José Martí, em 2001. Em seus romances, Benedetti explora a natureza humana e retrata a classe média, em particular os burocratas, e em muitas ocasiões não disfarça nem dissimula seu compromisso político com os movimentos de esquerda.
Nascido em 14 de setembro de 1920 em Paso de los Toros (250 km ao norte de Montevidéu), Benedetti, cujo nome de batismo é Mario Orlando Hamlet Hardy Brenno, se mudou ainda criança com a família para a capital uruguaia. Doctor honoris causa de universidades latino-americanas e européias, o falecido escritor estudou no Colégio Alemão e em um liceu público, concluindo seus estudos secundários de forma livre devido às dificuldades econômicas de sua família, que o obrigaram a trabalhar desde os 14 anos. Seu primeiro emprego foi em uma loja de autopeças.
Em 1939 mudou-se para Buenos Aires, retornando a Montevidéu em 1941 para ocupar um cargo no funcionalismo público. Em 1945, ano em que editou seu primeiro livro de poesia, “La víspera indeleble”, Benedetti passou a escrever para a revista Marcha, da qual foi diretor literário de 1954 a 1974, quando a publicação foi fechada pelo governo da época.
A partir de 1949, co-dirigiu a Número, destacada revista literária. Em 1964, quando já havia publicado seus célebres “Poemas de oficina” (1956) e seu primeiro romance, “Quien de nosotros” (1953), passa a trabalhar como crítico de teatro e co-diretor de um caderno literário em um jornal, além de colaborar como humorista para a revista Peloduro. Nesse ínterim, foi nomeado diretor do Departamento de Literatura Hispanoamericana na Faculdade de Humanidades e Ciências da Universidade da República, em Montevidéu.
Quase toda a sua obra poética está reunida em “Inventário”, livro publicado pela primeira vez em 1963 e reeditado várias vezes. Entre seus romances se destacam “La Tregua” (1960), “Gracias por el fuego” (1965), “El cumpleaños de Juan Angel” (1971, escrito em verso), “Primavera con una esquina rota” (1982), “La borra del café” (1992) e “Andamios” (1996). Além de escritor, Benedetti foi dirigente político do Movimento 26 de Março, que fundou em 1971 junto com o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros.
Foi também representante na Mesa Executiva da coalizão de esquerda Frente Ampla, atualmente no poder no Uruguai. Exilado durante a ditadura uruguaia (1973-1985), o escritor morou na Argentina, no Peru, em Cuba e na Espanha, tendo regressado ao Uruguai com a redemocratização. Alternou-se entre Madri e Montevidéu até a morte de sua mulher, Luz López Alegre, com quem havia se casado em 1946.
Luz, que era sua amiga de infância, foi sua companheira e o grande amor de sua vida. “Demorei seis anos para dizer isso para ela, e ela levou um minuto e meio para aceitar”, contava Benedetti, que também costumava dizer que “se casar com alguém que tem luz e alegria no nome parece um bom investimento”. Depois da morte de Luz, em abril de 2006, Benedetti se instalou definitivamente na capital uruguaia, tendo decidido doar parte de sua biblioteca pessoal para o Centro de Estudos Iberoamericanos Mario Benedetti da Universidade de Alicante (Espanha).