A Cidade da Beira completa esta sexta-feira, 20 de Agosto de 2010, 103 anos desde a sua elevação a esta categoria em 1907, 68 anos antes de Moçambique estar independente da dominação colonial portuguesa. Habitada por cerca de meio milhão de autarcas, a Cidade da Beira, no Centro do País, é a segunda maior e mais importante urbe moçambicana.
Passam algumas semanas que tudo começou, mas prevalece ainda o ambiente de tensão e medo no seio dos autarcas aniversariantes. A agitação caracterizada por desobediência e resistência alegadamente popular às autoridades, tendo depois da grande capital Maputo.
A urbe celebra 103 anos mergulhada num ambiente sócio-político menos pacífico se não mesmo conturbado, particularmente por causa da recente agitação decorrente da recusa por parte da Edilidade de acatar uma decisão judicial que ordena o Município a desocupar pelo menos quinze sedes de bairros reclamados pelo Partido Frelimo como sendo sua propriedade.
Passam algumas semanas que tudo começou, mas prevalece ainda o ambiente de tensão e medo no seio dos autarcas aniversariantes.
A agitação caracterizada por desobediência e resistência alegadamente popular às autoridades, tendo resvalado em violência que resultou agressão física e moral de agente oficioso do tribunal e obrigado a PRM a agir com tiros para o ar, é susceptível de retornar à qualquer momento porquanto o processo à sua volta permanece ainda sem desfecho e os seus promotores nunca se contrariaram a sua posição.
Centenas de autarcas supostamente mobilizados pela Edilidade para se oporem ao cumprimento da decisão judicial permaneceram semanas (noites e dias) acantonados nas sedes em causa, gerando um ambiente de agitação que semeava pânico e medo no seio dos moradores vizinhos os quais não sabiam o que poderia resultar caso os Administradores da Justiça não fossem mais moderados e decidissem recorrer a todos os meios que lhes são confiados pelo Estado para prosseguir avante a sua missão de garantir Justiça aos cidadãos e as instituições.
Se antes o ambiente que se viva na Beira já não era dos melhores, chegou-se muitas vezes a acusar a Renamo de ser o partido provocador de todas situações que resvalavam em desordem social; com o surgimento do MDM que tem o seu “ninho” praticamente confinada a Beira não se podia esperar menos. Pior na situação em que o partido emergente os seus recursos são basicamente suportados pela Edilidade, cujo Edil Daviz Simango é igualmente o líder do MDM.
Por exemplo, há quem diga que a maioria dos manifestantes que se opuseram ao cumprimento da decisão judicial são trabalhadores do Município, os quais – mesmo assumindo que a reacção é marginal às normas consagradas – terão sido claramente instruídos caso não acatassem a orientação que caiu vertical corriam o risco de perder o emprego.
Há ainda quem diga que por causa do receio de perder emprego e na tentativa de procurar ser bem visto ao nível dos dirigentes do MDM e do Município – que são os mesmos praticamente – alguns trabalhadores da autarquia até sacrificaram a integridade dos seus familiares obrigando-os a sua aderência às manifestações.
Mas o mau convívio na Beira não se resume apenas a isso.
Existe também a ausência de uma articulação eficiente entre o Governo da Cidade e da Província. Entre ambos poderes, infelizmente, prevalece a tendência de hostilidade, uma espécie de “braço-de-ferro”. A comunicação entre os dois poderes não é divina.
Esse amaranhado de situações desentediantes só é desfavorável à vida da própria cidade, os seus habitantes e as instituições qeu nela operam; e apenas contribui para retrair o desenvolvimento, fomentando a pobreza.
A Beira para desenvolver precisa os seus habitantes e as instituições actuarem de forma unida, consentânea, num ambiente de harmonia, de concórdia, de solidariedade; e nunca pensarse que níveis de crescimento desejado algum dia serão atingidos enquanto as forças locais continuarem a trabalhar isoladamente, divididas, desagregadas, num ambiente de total falta de inclusão.
Há exemplos claros de instituições locais interessadas em participar no desenvolvimento da urbe mas não encontram espaço porque pura e simplesmente os detentores do poder privilegiam a sua exclusão.
Caricato ainda é o facto desses mesmos detentores de poderes privilegiarem instituições de fora da Beira, beneficiando-as de recursos retirados do suor dos beirenses, em prejuízo dos que cá operam, dos que decidiram aplicar todo o seu saber e recursos, abdicaram de oportunidades noutros mercados por uma causa: Desenvolver a Beira.
Costuma-se dizer que o desenvolvimento parte de dentro para fora e nunca de fora para dentro, como se calhar alguns políticos na Beira ainda acreditam, a julgar pelos seus actos.
Infelizmente os políticos aqui na Beira colocam em primeiro lugar os sus interesses pessoais e, o pior nisso, é que os da maioria nem depois chegam a encontrar enquadramento.
O que vale as pessoas e as instituições daqui da Beira se vangloriarem do facto de a urbe possuir um carácter político diferente se isso não ajuda em nada para o seu bem-estar.
Uma conquista implica ser benéfica, ou seja, a particularidade política que a Beira procura preservar deve ser sentida no sentido benéfico pelos seus habitantes e pelas instituições nela existentes.
O Município que detém poder e controlo do espaço – por exemplo – não pode de forma alguma continuar a promover a sua postura de desfavorecer as instituições locais em benefício das que vêem de fora. Isso não revelaria nenhuma manifestação de discriminação. Está claro, em toda parte do mundo cada pai oferece abrigo primeiro ao seu filho – depois pode ser a vez de filhos dos outros.
Infelizmente, na Beira não é só o Município que fomenta isso, ou seja que faz tudo contrário. O mesmo sucede em relação ao Governo da Província, onde em algum momento tudo parece funcionar na base de amiguismo, servilismo ou até molequismo.
Quanto a nós, essa manifestação é sinónima de negar o desenvolvimento do que é local.
As instituições locais, nesse caso particular, reclamam atenção dos Governos da Cidade e da Província.
As instituições que vêem lá de fora que os detentores de poderes aqui na Beira preferem privilegiar são desenvolvidas porque os detentores de poderes nas suas zonas dão o devido tratamento à elas, aquele carinho e açolhimento que todo filho gostaria ter do pai; o que já não sucede com os “nossos” aqui na Beira que nem como enteados muito menos filho nos tratam. Olham-nos como autênticos estranhos. Esta tem sido uma das maiores angústias que encontra aquele que aposta investir o seu saber, a sua dedicação e os seus pacatos recursos na Beira.
Se calhar investindo pela Beira a partir de fora chame maior atenção dos poderes governativos locais, do que trabalhar na terra e com gente da terra. Bem haja Beira, bem haja a sua população, bem haja as suas instituições.