Embora Moçambique ainda não tenha nenhum doente infectado pelo coronavírus (COVID-19) o Banco central alerta que a epidemia deverá afectar a economia pois a China, epicentro da doença, é responsável por 9,1 por cento do volume total do comércio, o que poderá resultar na “menor disponibilidade interna de produtos provenientes da China, sobretudo material de construção e maquinaria diversa (…) agravamento do défice da conta corrente” e ainda “Moçambique poderá sofrer com a queda dos preços e procura das commodities no mercado internacional”.
O COVID-19, que até sábado (29), havia causado a morte de 2.924 pessoas em todo mundo e infectado um cumulativo de 85.403 cidadãos na China e em outros 53 países, em cinco continentes, vai afectar a retoma económica no nosso país de forma directa e indirecta.
“Na dimensão directa, destaca-se o facto de Moçambique possuir uma relativa exposição ao comércio com a China. Actualmente, a China é responsável por 9,1 por cento do volume total do comércio do país, sendo o destino para cerca de 5,8 por cento das exportações de matérias-primas moçambicanas e a origem de 11,8 por cento das importações de insumos e produtos manufacturados diversos”, alerta o Banco de Moçambique (BM).
Na sua mais recente análise sobre a Conjuntura Económica e perspectivas de inflação o BM alerta: “Com o prolongamento do vírus, poderá haver menor disponibilidade interna de produtos provenientes da China, sobretudo material de construção e maquinaria diversa, o que poderá comprometer a dinâmica de alguns sectores de actividade económica (construção e agricultura). Adicionalmente, aventa-se a possibilidade da redução do volume das exportações para a China, que resultaria no agravamento do défice da conta corrente”.
Dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que as exportações para a China tiveram um peso de 5,8 por cento, 2018, tendo Moçambique vendido ao país asiático principalmente minerais (grafite, pedras, granada, granito, arenitos, minérios de titânio, de nióbio, tântalo, vanádio ou zircónio, etc), madeira em bruto e semi-processada, produtos pesqueiros, algodão, frutas de casca rija, oleaginosas e outras sementes e desperdícios de plástico.
As importações da China representaram 11,8 por cento de tudo que Moçambique comprou no estrangeiro em 2018 principalmente alcatrão, cimento, ferro, alumínio, vidro, tintas e vernizes, arroz, farinha, açúcar, hortícolas e peixe, móveis e aparelhos electrónicos, vestuário e cosméticos, máquinas, automóveis de passageiros, tractores e aparelhos electrónicos, medicamentos, insecticidas, raticidas e fungicidas, papel, materiais de escritório, pneus e acessórios para viaturas e máquinas.
“Do ponto de vista indirecto, Moçambique poderá sofrer com a queda dos preços e procura das commodities no mercado internacional. Dados mais recentes da Balança de Pagamentos (2019) sugerem que os grandes projectos (incluindo exportadores de carvão térmico e alumínio) são responsáveis por 69,49 por cento das exportações globais do país. Assim, um abrandamento da procura global comprometerá não só a actividade produtiva destes projectos, como também a sua capacidade para disponibilizar divisas no mercado nacional, transmitindo os efeitos para a taxa de câmbio”, indicou ainda o Banco Central.