As negociações sobre o clima foram retomadas esta segunda-feira em Bangcoc, com um apelo do representante das Nações Unidas em favor de um acordo mundial, caso contrário o planeta pode ser atingido por uma sucessão de catástrofes naturais.
“O tempo não pressiona, pois praticamente já acabou”, afirmou Yvo de Boer aos 2.500 delegados reunidos na capital tailandesa. A dois meses da Cúpula de Copenhague, um acordo ambicioso e quantitativo de redução de gases causadores do efeito estufa parece cada vez mais improvável após as discussões decepcionantes nos EUA.
Mas a urgência de um acordo como este foi tristemente destacada pelas inundações nas Filipinas, disse o responsável da ONU. “Uma das razões de estar aqui é garantir que a frequência e a severidade deste tipo de evento climático extremo vão diminuir com uma política ambiciosa”, explicou. “Não tem plano B, e se não conseguirmos realizar o plano A, o futuro nos responsabilizará por isso”, continuou. Para tentar limitar o aquecimento do planeta a dois graus centígrados, as emissões mundiais de gases poluentes devem parar de aumentar até 2015, segundo os cientistas.
Se a meta não for atingida, eles temem um acúmulo de catástrofes naturais, secas, inundações e outras elevações do nível do mar de uma dimensão sem precedente. “Nossos filhos e netos não nos perdoarão, exceto se tomarmos decisões. O tempo está contado”, declarou o primeiro-ministro tailandês, Abhisit Vejjajiva. O objetivo é claro, mas o caminho a percorrer é tortuoso, tanto sobre a questão das emissões de carbono como o financiamento das medidas para atingir a meta. “Os delegados trabalham atualmente com um documento de quase 300 páginas, com o qual é concretamente impossível trabalhar”, disse Yvo de Boer.
Na reunião de cúpula extraordinária da ONU em Nova York, em 22 de setembro, o principal encorajamento veio da China, que se comprometeu a reduzir suas emissões de CO2 por ponto de PIB “de forma notável” daqui a 2020, sem antecipar dados. Em Pittsburgh, na reunião do G20, a decepção foi nitidamente maior com uma declaração final extremamente vaga. Apesar da recente mudança na liderança do Japão após a chegada de Yukio Hatoyama ao poder (queda de 25% em 2020), o objetivo de uma redução para os países industrializados de 25% a 40% das emissões de gases causadores do efeito estufa até 2020 parece fora de expectativa, com uma faixa mais próxima de 15-20%.
Os olhares se voltam também para os EUA, onde a lei sobre o aquecimento climático, inicialmente esperada antes de Copenhague, corre o risco de ter de esperar por 2010. As propostas da administração de Barack Obama também são aguardadas. “Os EUA estão fazendo um esforço, ou seja, as duas semanas em Bangcoc podem dar o tom para um mergulho fatal em Copenhague”, comentou Antonio Hill, diretor do setor de clima da organização Oxfam International.