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Auto-sepultura

Pois é, as minhas previsões para estas eleições, mais coisa menos coisa, confirmaram-se. E não se pode dizer que seja bruxo.

Bastava estar um pouco atento aos sinais que foram aparecendo neste último ano – nada que não faça parte das obrigações de um jornalista -, especialmente depois do pleito autárquico, para se prever uma vitória esmagadora de Armando Guebuza nas presidenciais e do partido Frelimo nas legislativas e provinciais.Quando estão contados praticamente 90% dos votos, o candidato da Frelimo segue com cerca de 75% enquanto o partido arrecada, pelo menos, 194 – é ainda previsão – dos 250 lugares no novo hemiciclo.

A Renamo, que chegou a ter praticamente metade dos assentos, não chega aos 50 e o MDM, a nova força política, queda-se pelos oito, número insuficiente para formar uma Bancada. Concluindo: a Frelimo irá pôr e dispor de tudo a seu bel-prazer, inclusive terá poderes para alterar a Constituição, hipótese que, desde já, está a preocupar muita gente. Há dez anos, após as mais disputadas eleições de sempre, quem dissesse que o cenário actual iria ter lugar era apelidado, no mínimo, de insensato.

Efectivamente, nem nas cogitações dos elementos mais optimistas do partido Frelimo tal panorama estava traçado. Vencer em todos os distritos deste país excepto na cidade da Beira – onde Simango venceu – e em Chibabava – ganhou Dhlakama, o filho da terra – era algo impensável para os homens do poder! Mas afinal o que permitiu que se chegasse a este cenário de quase partido único, onde a oposição passou a ser quase residual?

É certo, e todos sabemos disso, que as condições entre a Frelimo e os restantes partidos estão longe de ser as mesmas – os recursos do Estado foram claramente colocados ao serviço da campanha – mas, para mim, o grande responsável por este terramoto eleitoral foi a própria oposição que cometeu, nos últimos anos, constantes suicídios. A oposição, regra geral, se aspira verdadeiramente ao poder, devido à sua situação de desvantagem, tem de mostrar mais serviço, tem de trabalhar mais, tem de demonstrar duplo empenhamento, tem de ir a todas, não pode ignorar nada.

O povo tem de sentir que tem ali uma alternativa forte e credível, tem de sentir que existe um governo-sombra. E isso, senhor Dhlakama, o povo nunca sentiu. Nunca sentiu ideias estruturadas, nunca sentiu que do outro lado se estivesse a fazer um trabalho sério, nunca sentiu organização, nunca sentiu competência, em suma, nunca sentiu confiança para depositar o seu voto, esse bem tão precioso, na oposição.

Pelo contrário. Sentiu arrogância, prepotência, tiques autoritários, laxismo, despesismo, desorganização extrema e constantes tiros nos pés – a última e fatal foi a retirada do apoio autárquico a Davis Simango. Já depois das eleições, o líder voltou a pôr o pé na argola, agitando o fantasma do regresso à guerra. Só faltava esta para completar o ramalhete. Em muitos anos, não me lembro de um partido cavar tão bem e tão fundo a sua própria sepultura.

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