Um crescente número de soldados sírios está a desertar para a oposição, o que eleva o risco de uma guerra civil como a que aconteceu na Líbia, disse esta quarta-feira a alta comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Navi Pillay.
“Onde os direitos humanos básicos são pisoteados e as exigências pacíficas de mudança são respondidas com uma violência brutal, as pessoas acabam compelidas a recorrer à rebelião contra a tirania e a opressão”, disse Pillay ao Conselho de Segurança da ONU, durante um debate sobre a proteção a civis armados. “Aconteceu na Líbia, pode acontecer na Síria. Cada vez mais soldados recusam-se a serem cúmplices de crimes internacionais, e mudam de lado. Há um sério risco de a Síria mergulhar na luta armada.”
Num sinal disso, ativistas sírios disseram que um contingente militar do governo, amparado por blindados, invadiu esta quarta-feira um bairro na zona noroeste de Hama, perseguindo desertores contrários ao regime de Bashar al-Assad. Pillay reiterou a estimativa da ONU de que “bem mais de 3.500” pessoas já foram mortas na Síria desde o início das manifestações antigoverno, em março.
“Dezenas de milhares de pessoas, incluindo médicos, enfermeiras e pacientes feridos, já foram arbitrariamente detidas, e muitas continuam incomunicáveis, o que as coloca sob sério risco de tortura”, acrescentou Pillay.
A Síria aceitou em 2 de novembro um plano da Liga Árabe pelo qual o governo comprometeu-se a retirar o Exército de cidades conturbadas, libertar presos políticos e iniciar um diálogo com a oposição, que exige a renúncia de Assad.
Pillay disse aos 15 países do Conselho de Segurança que está “preocupada por o assassinato de civis não ter parado”. Ela pediu ao governo sírio que admita a presença de monitores de direitos humanos, que fiscalizariam a implementação do acordo da Liga Árabe.
No mês passado, Rússia e China vetaram uma proposta europeia de resolução no Conselho de Segurança que condenaria o governo sírio pela repressão e ameaçaria com sanções.