Uma atleta russa negou nesta terça-feira que o “selinho” dado numa colega no pódio do Mundial de Atletismo em Moscovo fosse um protesto contra a polémica lei local que proíbe a apologia à homossexualidade. Kseniya Ryzhova lamentou que o seu beijo em Yulia Gushchina tenha ofuscado a comemoração da vitória russa na estafeta 4x400m, no sábado.
“Não havia motivação política oculta”, disse ela sobre o beijo, mostrado por TVs do mundo todo. “Em vez de cumprimentar as atletas, (os meios de comunicação) decidiram insultar não só Yulia, mas toda a federação de atletismo (da Rússia). Antes de mais nada, Yulia e eu somos casadas”, disse ela, sob aplausos dos jornalistas russos.
Não é raro que amigas russas se cumprimentem com beijos nos lábios, mas o fato ganhou repercussão num Mundial de Atletismo marcado por polémica acerca da nova lei local que proíbe a apologia da homossexualidade para menores – parte de uma ofensiva conservadora do governo de Vladimir Putin.
A lei foi condenada no exterior, mas pesquisas mostram amplo apoio dos russos. Por causa da lei, grupos de defesa dos homossexuais propuseram um boicote à Olimpíada de Inverno a ser disputada em 2014 na cidade russa de Sochi.
Alguns atletas russos, no entanto, saíram em defesa das medidas. A saltadora Yelena Isinbayeva, que conquistou o título mundial, chegou a dizer que os russos são “normais” por rejeitarem a homossexualidade. Diante da repercussão negativa, ela disse que foi mal-interpretada. Isinbayeva disse também que duas competidoras suecas que pintaram as unhas com as cores do arco-íris, em apoio ao movimento LGBT, haviam sido desrespeitosas com os seus anfitriões.
Ryzhova disse que a comemoração polémica ocorreu em um momento de euforia, após a apertada vitória contra os EUA na final de sábado. “Fazia oito anos que não ganhávamos a medalha de ouro. Não dá nem para imaginar como foi… quando percebemos que havíamos vencido”, afirmou. “Foi uma onda de sentimentos incríveis, e de alguma forma, completamente por acaso, enquanto nos cumprimentávamos nossos lábios se tocaram… Quem fantasia a respeito disso é doente.”
Gushchina e Ryzhova não quiseram comentar a lei, alegando que os preparativos para o Mundial não deixaram tempo para pensar a respeito. “Não ouvi falar nem li a respeito por causa do Mundial”, disse Gushchina a jornalistas.
Críticos de Putin dizem que a lei é parte de uma série de medidas repressivas adotadas no primeiro ano do seu terceiro mandato presidencial, com a intenção de sufocar qualquer dissidência. O presidente nega ser repressivo, e diz que a Rússia precisa de ordem e disciplina.