A falta de dinheiro obrigou-o a interromper os estudos. A pobreza a emigrar. A cidade de pedra, contudo, revelou que a solução para vencer a pobreza não estava num emprego formal. Andou de emprego em emprego. Um dia decidiu trabalhar por conta a própria e viu a luz no fundo do túnel.
Em 1998, Joaquim Manuel Nhanombe deixou a sua terra natal (Inhambane) com destino à cidade de Maputo e levava consigo apenas um sonho: melhorar as condições de vida que definhavam diariamente. Mas a vida na capital do país, para quem vem do Moçambique profundo, nem sempre é o que as pessoas esperam. A adaptação foi dolorosa.
A história de Joaquim começa na cidade de Maxixe, onde nasceu em 1977. Concluiu a 7ª classe nos finais dos anos ‘80 e o seu maior desejo era frequentar o ensino secundário, mas, por falta de vaga, o jovem, de 34 anos de idade, viu o seu sonho ruir, qual um castelo de areia, uma vez que os seus progenitores não reuniam condições financeiras para colocá-lo noutra instituição de ensino. Na lógica de “não é por morrer uma andorinha que acaba a Primavera”, Joaquim decidiu procurar um meio de ganhar a vida.
Em 1998, na companhia de um amigo, abandonou a “terra de boa gente” e rumou para Maputo. Na capital do país, buscou abrigo na casa de um conterrâneo, no bairro do Chamanculo. Foi a partir daqui que Joaquim começou a adaptar-se à vida da grande cidade, sobretudo a formas de como garantir o sustento diário.
O amigo era comerciante, actividade através da qual conseguia o seu pão diário. Joaquim Nhanombe não quis enveredar pelo comércio, até porque já carregava anos de experiência como carpinteiro. O jovem entrou para o mundo da carpintaria por volta de 1991.
“Primeiramente, trabalhei como ajudante; três anos depois, isso por volta de 1994, pela experiência acumulada que tinha, decidi passar a trabalhar sozinho. Aliás, já me sentia mestre, o talento parecia transbordar pelas mãos”, conta e acrescenta: “esta profi ssão está no sangue e vou abraçá-la para sempre”.
Em Maputo, uma vida de insucesso
A vida na cidade de Maputo nunca lhe foi fácil. Joaquim bateu diversas portas à procura de emprego. Nenhuma se abriu. Volvido um ano, numa altura em que havia perdido a fé, foi admitido numa unidade fabril vocacionada à produção de mobiliário. “Nesta fábrica trabalhei durante cinco anos exercendo a função de carpinteiro”, comenta. Mas, mais tarde, a empresa faliu, facto que levou a maioria de trabalhadores parao leito da desgraça.
Os cinco anos em que trabalhou naquela unidade fabril foram suficientes para que ele ganhasse a experiência necessária para colocar em marcha o seu projecto. “Deixei de viver com o meu amigo e passei a arrendar um quarto algures na cidade de Maputo, e no meu cubículo já conseguia planificar melhor a minha vida. Até cheguei ao ponto de procurar uma mulher para viver com ela, vivemos maritalmente e, como fruto da nossa união, tivemos um filho, que já tem 6 anos de idade”, conta Joaquim.
Desempregado, o jovem não desistiu de lutar, até porque tinha como combustível a sua família. Andou pela cidade de lés-a-lés, e bateu novamente várias portas. Ao fim de muitos meses e, graças a um golpe de sorte, conseguiu uma colocação numa associação localizada no bairro da liberdade, município da Matola.
Mas, quando tudo parecia caminhar às mil maravilhas, surgiu outra situação desconfortável no seu novo posto de trabalho. “Na associação não havia seriedade. Além disso, não pagavam quase nada, acabei por me demitir em 2002 e passei a trabalhar por conta própria”. Joaquim afirma que enveredou pelo empreendedorismo, uma vez que já estava farto de trabalhar para terceiros. “Não presto contas a ninguém, senão a mim mesmo. Conheço o ofício e faço bons trabalhos sem a intervenção de terceiros”, diz.
Desde que optou por trabalhar por conta própria, a vida de Joaquim começou a ganhar novo fôlego.“Em 2003, comprei um terreno no bairro do Infulene, onde me encontro neste momento, e construí uma pequena casa. No meu pequeno quintal improvisei uma ofi cina para melhor desenvolver a minha actividade”.
Transformar a casa em armazém
Por falta de espaço para guardar as suas ferramentas de trabalho e as suas obras, Joaquim Manuel Nhanombe viu-se obrigado a depositá-las no seu quarto. Mas, embora tenha sido uma situação preocupante, diz que não se sentiu infeliz porque sabia que, mais cedo ou mais tarde, iria construir um pequeno armazém. Não tardou para que o sonho se tornasse realidade.
No ano passado, o carpinteiro construiu, paredes meias com a sua casa, um modesto armazém, aliviando, assim, o pequeno quarto que andava sempre abarrotado de madeiras e algumas obras já acabadas, cujos proprietários tardavam a fazer o levantamento. “Agora, pelo menos sinto-me bem. Já tenho onde guardar o meu material, por mais que as pessoas não levantem as suas obras a tempo, tenho onde as conservar sem nenhuma dificuldade”, afirma.
Os bons momentos do carpinteiro
A vida de Joaquim não foi feita só de privações. O carpinteiro, trabalhando por conta própria, prestou vários serviços para algumas grandes empresas mobiliárias. “Fiz aros e portas para um condomínio e ganhei 30 mil meticais. Este montante revolucionou um pouco a minha vida, apetrechei a minha casinha, e comprei um talhão ao preço de 15 mil meticais no bairro do Zimpeto. E já estou a construir outra casa”, diz e acrescenta que “se tudo correr bem até princípios do próximo, ano já terei a minha casa concluída”.
Para quem começou a viver de favor na casa de um amigo, hoje, Joaquim orgulha-se de tudo o que até o momento conquistou. “O meu talhão é grande, dá para abrir uma ofi cina no meu quintal e prosseguir com os meus trabalhos. No bairro do Zimpeto, por ser uma zona de expansão, há muitas casas a serem construídas e isso, de alguma forma, vai contribuir para as pessoas procurarem pelos meus serviços, nomeadamente fabrico e montagem de portas, janelas, aros e não só”, afi rma.
À pergunta sobre a hipótese de perder os seus habituais clientes em caso de mudança, Joaquim foi peremptório ao afi rmar que “não, porque a maioria tem o meu contacto. Certamente, quem quiser que eu lhe preste serviços vai-me localizar”. Aliás, o carpinteiro acrescenta que o local onde se encontra actualmente (bairro do Infulene) é de fraca visibilidade, facto que faz com que, directa ou indirectamente, haja pouca procura dos seus serviços. Mas, comenta, a mesma situação não se verifi cará na sua futura residência no bairro do Zimpeto.
Trabalhar sob os caprichos da natureza
Mas nem tudo é um mar de rosas. O jovem mestre Joaquim Nhanombe atravessa algumas dificuldades que se circunscrevem à falta de uma oficina segura para o desenvolvimento das suas actividades. “A oficina onde me encontro a trabalhar neste momento tem apenas um tecto improvisado, sendo que as partes laterais não têm protecção. Nos dias de chuva, sou obrigado a interromper a minha actividade, porque não tendo protecção, as madeiras podem molhar e isso pode comprometer o meu trabalho”.
Na falta de opção, Joaquim resolveu um problema provocando outro. Inicialmente, a pequena oficina estava toda ela protegida. “Retirei as chapas que protegiam os lados da oficina para cobrir o meu pequeno armazém de 6 chapas construído ao lado do meu quarto. Mas a qualquer altura hei-de repor as chapas”, comenta.
O carpinteiro conta que a sua receita média mensal, embora seja difícil de calcular, uma vez que geralmente trabalha à base de encomendas, ronda entre os dois e três mil meticais de lucro.