Moçambique atingiu, na presente campanha de castanha de caju (2010/2011) a maior produção pós-independência, ao alcançar uma cifra de 112 mil toneladas, o que se pode considerar como sendo o relançamento desta cultura depois de, durante vários anos, ter estado em declínio total, o que inclusivamente culminou com o encerramento de algumas fábricas de processamento.
Na década de 70, Moçambique chegou a ser considerado maior produtor mundial de castanha de caju, com uma produção comercializada de cerca de 216 mil toneladas. Nas décadas de 80 e 90 o país passou por uma fase difícil nesta área, facto que teve como origem a insuficiência de recursos humanos qualificados, falta de material genético, envelhecimento do parque cajuícola, plantado nos anos 1950. Contribuíram ainda para o colapso do sector do caju a guerra civil de 16 anos, a prevalência de pragas e doenças como oídio, queima da folha e do fruto, antracnose, helopeltis, factores que culminaram com a baixa produção em quantidade e qualidade.
Citada pelo Diário de Moçambique, Filomena Maiopue, directora do Instituto do Fomento do Caju (INCAJU), afirmou que desde 2005 a esta parte, a tendência de produção da castanha de caju tem sido a de subir consideravelmente, factor que começa a encorajar a todos os que estão ligados à cadeia de produção desta cultura. “Nos últimos cinco anos, a média da castanha de caju produzida e comercializada variava entre 70 e 90 mil toneladas. Este ano já está sendo comercializado um total de 112 mil toneladas e isso é considerado uma grande conquista para o país, porque é a cifra mais alta alcançada após a independência nacional. Devo dizer que estas toneladas a que me refiro são aquelas que estão no circuito formal de comercialização, já que existe outra castanha que é retida para consumo e outra para comercialização informal”, frisou.
A interlocutora entende que este crescimento do sector do caju acontece depois de o Governo ter lançado vários instrumentos com vista a reverter o cenário em que se encontrava, a começar pelo plano directo do caju, que definiu como linhas estratégicas o novo plantio de cajueiros para a expansão do parque cajuícola, o maneio integrado do caju para o controlo de pragas e doenças, distribuição, pelos produtores, no período de 2000/2010, de mais de dez milhões de mudas, o aumento da produção até 12 toneladas por árvore anualmente, contra as três anteriores, envolvimento de provedores de serviços, entre outras actividades.
No que se refere à indústria de processamento do caju, Filomena Maiopue frisou que a capacidade instalada cresceu de 3.750 toneladas/ano, em 2001/2002, para 38.400 toneladas actualmente, como resultado da existência de 29 fábricas, embora algumas estejam ainda paralisadas. No total empregam mais de oito mil trabalhadores, contra 12 mil que existem por alturas do encerramento, em 2000, das grandes fábricas então existentes. “Neste processo de produção da castanha de caju existe algo muito interessante. Por exemplo, 50 por cento da produção de castanha que temos actualmente é proveniente da província de Nampula, seguida pelas províncias de Zambézia e Inhambane. Contudo, Inhambane está a aumentar consideravelmente a sua produção e acreditamos que na próxima campanha irá ultrapassar a província de Zambézia, o que mostra o seu cometimento nesta área”, salientou.
No entanto, face aos investimentos que o Governo pretende ver intensificados no sector do caju, algumas áreas com potencial para este tipo de cultura, incluindo a proximidade de fontes de água, foram identificadas. Em Inhambane, estão disponíveis 75 mil hectares, distribuídos pelos distritos de Panda, Massinga, Funhalouro, Vilankulo e Mabote, enquanto em Gaza são 69.500 hectares, nos distritos de Chibuto e Chicualacuala. Por sua vez, Cabo Delgado conta com 50.400 hectares nos distritos de Palma, Nangade, Macomia, Balama e Chiúre; Nampula com 50 mil hectares situados em Meconta, Mogovolas, Muecate e Moma e, por fim, a província da Zambézia tem disponíveis 25 mil hectares nos distritos de Maganja da Costa, Gilé e Pebane.
Recorde-se que ainda na década 70 a capacidade de processamento da indústria nacional era de 150 mil toneladas da castanha de caju e absorvia cerca de 20 mil operários. A exportação da castanha em bruto atingiu 70 mil toneladas enquanto a processada chegou a 24 mil toneladas (de amêndoa). A contribuição do sector representava 20 por cento do total das receitas de exportação de Moçambique. Ainda nos anos 1972/74, a amêndoa de caju contribuiu com cerca de 30 por cento para o Produto Interno Bruto (PIB) do país.