“Eu prefiro morrer de pé a viver ajoelhado”, a frase é atribuída ao revolucionário sul-americano Che Guevara mas define bem o carácter do Mister Fred, um homem que dedicou a sua vida inteira à natação e acabou por morrer, de pé, tragicamente soterrado por uma parede da piscina Olímpica do Zimpeto no passado sábado(20).
Nascido em Nampula, no Norte de Moçambique, a 12 de Dezembro de 1972, Frederico dos Santos cedo descobriu a paixão da sua vida. Começou como nadador, no clube Ferroviário de Nampula onde, ainda nos iniciados, destacou-se pelas suas braçadas rápidas e, durante um Campeonato Nacional nos anos oitenta, foi seleccionado para a então selecção de Moçambique.
Ficou em Maputo e, como era bom nadador particularmente na especialidade de costas, o clube Ferroviário da capital recrutou-lhe. Cresceu a nadar pelos locomotivas, que o deram também alojamento pois estava na metrópole sem a sua família.
Estudou até à 11ª classe, na escola secundária Francisco Manyanga, e atingida a maior idade além de nadar iniciou-se na formação de pequenos nadadores.
Entretanto, no final da década de oitenta, um primeiro prémio num concurso de literatura promovido pela embaixada de Portugal permitiu-lhe viajar para Lisboa. Reencontrou a mãe e por lá ficou, mas não perdeu a sua paixão.
Enriqueceu a sua formação como treinador de natação e trabalhou com a equipa do clube Estrela da Amadora, da capital lusitana.
Após o acordo de paz de 1992 regressou à pátria amada e voltou ao seu antigo clube, o Ferroviário de Maputo, pelo meio começou a trabalhar com a selecção nacional de natação já como técnico.
O Mister Fred, como é tratado entre a família da natação, passou mais alguns anos em Portugal onde além de exercer a sua actividade de treino foi adquirir conhecimentos adicionais sobre a modalidade.
Por volta de 2010 retorna à Moçambique e aí integrou o quadro técnico do clube Golfinhos de Maputo. Após um par de anos, juntamente com um grupo de outros amigos e amantes da natação, funda o clube Tubarões de Maputo, em 2012.
Apaixonado pelo seu trabalho Frederico era um incansável a lutador, não só para levar os Tubarões a chegarem primeiro à meta mas principalmente pela massificação da natação.
Tinha em mente tornar a natação uma modalidade que não fosse para as elites e por isso fundou, com um outro grupo de “carolas”, o clube Nguenhas de Matendene que está baseado num dos bairros periféricos da cidade de Maputo.
Inconformado com o “status quo” da modalidade, cujas provas nem sempre têm os vencedores mais justos, Frederico dos Santos criou a fama de ser “confuso”. Porém quem o conhecesse, por pouco que fosse, rapidamente notava que estava diante de um homem bom e sério que se batia pela verdade desportiva.
Homem de coração imensurável o Mister Fred deixa viuva e sete filhos.
Além da dor e luto a tragédia da piscina do Zimpeto poderá afastar os moçambicanos da natação. Uma das homenagens que os moçambicanos podem fazer à memória de Frederico dos Santos é realizar os seus sonhos. “Ele sonhava reabilitar a piscina da escola Estrela Vermelha (de Maputo) e criar um Centro de Alto Rendimento”, confidenciou-nos o seu amigo, companheiro e colega Orlando Dingane.