Cerca de meio milhar de moçambicanos que vive no actual epicentro da pandemia do novo coronavírus, onde só neste domingo morreram 368 pessoas. “Até ao momento não há moçambicanos infectados, apesar de no Norte estarem muitos” disse ao @Verdade a presidente da Comunidade Moçambicanos na Itália, Sofia Gonoury. Para Bernardo, um estudante na região mais afectada pelo Covid-19, o mais difícil da quarentena “é que não se sabe até quando a vida será assim, às vezes tenho que pensar que dia da semana é hoje!”.
O Departamento de Protecção Civil de Itália actualizou neste domingo (15) que existem 24.747 infectados com o novo coronavírus, nas últimas 24 horas foram registados 3590 novos doentes e 368 pessoas morreram elevando para 1.809 os óbitos.
Diante do silêncio do Governo de Moçambique o @Verdade conseguiu contactar telefonicamente alguns moçambicanos no país que se tornou no epicentro desta pandemia.
Sofia Gonoury revelou que vivem no país europeu “mais ou menos 500 (…) até ao momento não há moçambicanos infectados, apesar de no Norte estarem muitos”.
Baseada no Centro do país, em Úmbria, Sofia revelou ao @Verdade que está de quarentena domiciliar, com o marido e o filho, desde o passado dia 2 de Março. “Estão fechadas todas actividades não necessárias como lojas, restaurantes, bares, escolas. Seguimos as directrizes do Ministério do Interior e da Saúde, ficar em casa e só sair por uma razão de forca maior ou de importância vital”.
Para a moçambicana radicada na Itália há várias décadas anos “o que mais impressiona são as estradas e as praças completamente desertas”.
A presidente da Comunidade Moçambicanos na Itália partilhou com o @Verdade que a solução é “seguir as estreitamente as directrizes do governo italiano, a prevenção ao contagio é a melhor arma para defendermos-nos”, e confidenciou-nos que no sábado (14) “na minha região tivemos infelizmente o primeiro morto por coronavírus”.
Quarentena “cria uma espécie de frustração porque não se sabe quando vai terminar”
Bernardo, estudante moçambicano na província de Brescia, na região da Lombardia, onde o surto do novo coronavírus começou e atingiu proporções dramáticas, disse ao @Verdade recordar-se que “no mês de Janeiro, percebi que a situação era crítica e séria, porém era uma coisa distante! Algumas semanas depois, acompanhei a notícia segundo a qual tinham registado dois casos na Itália, um casal chinês na Cidade de Roma, Parecia que estava tudo sob controle”.
“Depois descobriu-se o primeiro caso na Província de Lodi, sempre aqui na Lombardia e rapidamente se ouviam novos casos nas províncias vizinhas, isso já era dia 21 de Fevereiro. Dali os números sempre subiram, claramente a preocupação cresceu porque percebi que era uma situação séria e que todos estávamos em risco de ser contagiados ou de contagiar”, compartilhou com o @Verdade. Em quarentena desde então as aulas pararam na Universidade onde está, “esta semana iniciamos aulas via online, visto que ninguém deve sair”.
“A vida é dentro de casa ou no quintal! O facto de não viver sozinho é uma ajuda grande, pelos menos a nível psicológico, porque se pode conversar, basta respeitar a distância estabelecida. Outra coisa é que não se sabe até quando a vida será assim, às vezes tenho que pensar que dia da semana é hoje”, contou ao @Verdade o estudante moçambicano.
Segundo Bernardo para se poder sair, mesmo em caso de força maior, os cidadão em quarentena devem preencher um documento fornecido pelo Governo italiano. “Para quem deve ir ao trabalho, na autorização deve ter a permissão do próprio médico e do chefe da empresa! Para ir ao supermercado, precisa da autorização do médico, porém deve ser no supermercado mais próximo, e no carro não podem estar mais de duas pessoas”.
“A minha maior preocupação não é tanto pessoal, é da situação social que se está a viver agora, mas também depois. Famílias que se encontram sem saber como viver o dia, coisa fazer com as crianças todo o dia! As pessoas que vivem sozinhas, os anciãos e de certo modo cria uma espécie de frustração, também porque não se sabe quando vai terminar”, desabafou ao @Verdade o moçambicano em quarentena na Itália.
O termo quarentena surgiu na Itália no século 14, nessa altura surgiu a peste bubônica que matou mais de um terço da então população europeia. O Governo da Cidade de Veneza, temendo que a peste fosse trazida pelas embarcações que todos dias chegavam aos seus portos determinou que todas as embarcações ficassem isoladas durante 40 dias antes do desembarque dos passageiros.
O @Verdade apurou que com o crescimento exponencial de caso na Itália e diante da sobrecarga de camas nas Unidades de Tratamento Intensivos o Colégio Italiano de Anestesia, Analgesia, Ressuscitação e Cuidado Intensivo (SIAARTI, na sigla em italiano) divulgou um documento em que prevê que a falta de recursos suficientes para tratar todos os pacientes graves pode fazer com que médicos e enfermeiros tenham de escolher quem será tratado de acordo com suas chances de sobreviver.