José Mujica, eleito no domingo presidente do Uruguai, foi um dos principais líderes do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros (MLN-T), uma guerrilha urbana que desde o início dos anos 1960 buscou desmontar o Estado burguês através das armas.
No começo, o MLN-T era um pequeno grupo que realizou acções que geravam simpatia na esquerda até que, em sua fase de crescimento, a partir de 1968, começou a realizar sequestros e homicídios. Entre essas ações se destacam o sequestro e execução do agente americano Dan Mitrione, a quem os tupamaros acusavam de ensinar a torturar as forces de segurança uruguaias.
A história de Mitrione é o pano de fundo do filme “Estado de sítio”, do franco-grego Costa Gavras. Também sequestraram o cônsul geral brasileiro, Aloysio Dias Gomide, e o agrónomo Americano Claude Fly, que foram libertados em 1971 depois de sete meses de cativeiro. O embaixador britânico em Montevidéu, Goeffrey Jackson, foi outro sequestrado em 1971 e contou sua história no livro “Sequestrado pelo povo “.
As acções dos tupamaros, num país mergulhado numa profunda crise económica, contribuíram para a radicalização política que resultou no golpe de Estado cívico-militar de Junho de 1973, apesar de a guerrilha já ter sido militarmente derrotada em 1972. Mujica, que foi baleado nove vezes, esteve preso em 1970 e participou na fuga em massa da Prisão de Punta Carretas em 1971.
Voltou a ser capturado em 1972, assim como toda a direcção tupamara. Os líderes do MLN-T foram feitos “reféns” da ditadura (1973-1985) e ficaram presos em diferentes quarteis do país em condições subumanas. Em 1985, com a restauração democrática, os dirigentes tupamaros foram libertados dentro de uma anistia promovida pelo primeiro governo de Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000).