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Cartunistas defendem liberdade de expressão mas temem a censura sobre o Islão

Os cartunistas e escritores defenderam a liberdade de expressão depois do ataque da quarta-feira (7) a um jornal semanal satírico em Paris, mas a realidade para alguns artistas acusados de insultar o Islão tem sido anos na clandestinidade, necessidade de protecção da polícia e, para alguns, a censura.

Entre os 12 mortos no Charlie Hebdo, um semanário que satiriza o Islão e outras religiões, estavam alguns dos melhores cartunistas da França. Antes deles, outros artistas, como o sueco Lars Vilks, também foram alvo de ameaças ou violência física.

“Quando eliminas um dos poucos bastiões da liberdade de expressão que temos, e ele foi tirado, quem se atreve a publicar qualquer coisa agora?”, disse Vilks. Vilks foi colocado sob protecção policial depois de uma charge sua que retrata o profeta Maomé como um cão, em 2007, provocou ameaças de morte e uma oferta de 100 mil dólares de recompensa pela sua cabeça, feita por um grupo iraquiano ligado à Al Qaeda.

“Se fizeres uma charge de Jesus ou do Papa pode ser publicado, mas o profeta Maomé é proibido em todos os meios de comunicação social. É regulado pelo medo misturado com o politicamente correcto”, disse Vilks. No início de 2014, uma mulher norte-americana autodenominada Jihad Jane foi condenado a 10 anos de prisão por conspirar para matar Vilks.

Vilks diz que a sua carreira foi prejudicada por preocupações quanto à segurança até mesmo com trabalhos não relacionados ao Islão. Os artistas de toda a Europa falam do temor de que o ataque a Charlie Hebdo possa conduzir à autocensura à sátira religiosa, especialmente sobre o Islão.

Para os muçulmanos, qualquer representação do profeta é uma blasfémia e as caricaturas ou outras caracterizações provocaram protestos em todo o mundo islâmico. Um grande jornal dinamarquês, o Politiken, pediu desculpas no passado pela publicação de uma charge que desagradou aos muçulmanos.

“O Politiken reconhece e lamenta que a nossa reimpressão da charge tenha ofendido os muçulmanos na Dinamarca e noutros países por todo o mundo”, disse num comunicado em 2010. Um ímã de um subúrbio de Paris destacou a ofensa que o Charlie Hebdo tinha causado, mas rejeitou a violência como uma resposta para os muçulmanos.

“Não concordamos com Charlie Hebdo. Combata o desenho com um desenho, mas não com sangue, não com ódio”, disse Hassen Chalghoumi, ímã de Drancy. A Suécia e a Dinamarca, países escandinavos cuja sociedade tem reputação de tolerância, estiveram no centro das controvérsias em todo o mundo na última década por representações de Maomé.

O Charlie Hebdo também é conhecido por provocar polémica com ataques satíricos sobre líderes políticos e religiosos, e publicou numerosas caricaturas a ridicularizar o profeta Maomé.

“‘O respeito pela religião’ tornou-se uma frase código que significa ‘medo da religião'”, disse o escritor Salman Rushdie, em comunicado. “As religiões, como todas as outras ideias, merecem crítica, sátira, e, sim, o nosso desrespeito destemido”, disse Rushdie, cujo livro “Os Versos Satânicos” levou o então líder iraniano aiatolá Ruhollah Khomeini, já falecido, a emitir uma fatwa contra ele em 1989.

“A autocensura é uma praga”, alertou William Nygaard, editor que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em 1993, quando foi baleado por um atirador desconhecido diante da sua casa em Oslo depois de ter publicado “Os Versos Satânicos” na Noruega.

Os cartunistas de todo o mundo expressaram a sua tristeza pelas vítimas da quarta-feira. “Não consigo dormir esta noite, os pensamentos estão com os meus colegas cartunistas franceses, as suas famílias e entes queridos”, escreveu David Pope, cartunista político do jornal australiano The Canberra Times, no Twitter.

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