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Artigo com Impacto: O PT da discórdia

Artigo com Impacto: O PT da discórdia

Recordamos nestas linhas a história de um posto de transformação da Electricidade de Moçambique que durante cerca de 10 anos se afigurou o pomo da discórdia entre aquela empresa pública e a família Macandza, que muitas vezes sem sucesso rogou pela sua remoção do interior do seu quintal.

Durante 10 anos um posto de transformação (PT) deixou em pé de guerra a família Macandza e a Electricidade de Moçambique (EDM). O problema devia-se ao facto de o referido meio (PT-86) ter sido instalado no interior do quintal da sua residência. Sem indemnização, os Macandzas viram-se a conviver anos a fio com um engenho que lhes tirava a tranquilidade.

Entretanto, no dia 10 de Julho de 2008, a EDM foi manchete na Imprensa moçambicana e não só, tudo porque se deslocou ao Instituto do Coração para doar 2.500.000,00 meticais a fim de serem utilizados na operação de crianças com problemas cardíacos.

Mas na mesma sexta-feira, 10 de Julho, a Redacção do @Verdade recebeu Ângelo Micas Macandza que vinha queixar-se do facto de um transformador ter sido colocado no interior do seu quintal no bairro do Hulene, já passavam sensivelmente dez anos, mas a Electricidade de Moçambique não o removia ainda que inúmeras vezes, tivesse, encarecidamente, solicitado que esta o fizesse.

O problema despontou a 8 de Novembro de 1999, data em que o falecido pai do jovem queixoso, Alfredo Tafula Macandza, escreveu uma carta dirigida à EDM onde solicitava mais uma vez que fosse removido o PT-86 colocado no seu quintal. Por detrás estava o desejo de reabilitação da sua casa. Preocupado com o caso, o requerente até propunha opções amigáveis para solucionar o diferendo, ou seja, caso não houvesse a possibilidade de retirada poder-se-ia arranjar outro terreno para poder erguer a sua casa.

Após a submissão do requerimento, a família Macandza teve uma paciência tal que esperou pouco mais de sete anos sem resposta. Como a aflição e o desejo eram maiores que o desânimo, Macandza resgatou a sua fé e força e voltou a escrever, pela terceira vez, contra o indesejado PT-86. O teor era o mesmo: “Pedimos que retirem aquele engenho mortífero para podermos ampliar a nossa casa e albergar a família que é larga”.

Depois de ter inúmeras vezes pedido formal e pacificamente que se retirasse o transformador, Alfredo Macandza viu a sua paciência e expectativa gorarem, passava o mês de Maio de 2008. Porque os desígnios desta vida terrena são incontornáveis, Alfredo Tafula Macandza perdeu a vida, infelizmente sem a resposta da EDM. Aliás, na sua alma habitava uma fúria pela Electricidade de Moçambique que durante anos a fio mostrou quão insensível era em relação às preocupações dos seus clientes.

Mesmo antes de o requerente morrer, ele teria dito que na ausência de qualquer pronunciamento da EDM e, vendo que o tempo passou a aguardar pela resposta do requerimento, redigiu uma missiva da qual extraímos o seguinte trecho:

“Eu, Macandza, venho propor a vedação daquele espaço físico onde está o transformador num raio de dois metros quadrados, dado que pretendo deslocar uma parte das casas de banho para aquele local, o que porventura poderá perigar a vida dos meus filhos e de outras pessoas”. Mais uma vez prevaleceu a indiferença daquela empresa que igualmente é a única distribuidora de energia no país.

Como Alfredo Tafula Macandza morreu, e a EDM ainda a fazer ouvidos de mercador, eis que o seu herdeiro, Ângelo Micas Macandza, arregaçou as mangas e continuou a travar a luta contra o PT-86. Foi assim que a 18 de Maio de 2009 na mesma secção “Área de Distribuição da Cidade de Maputo”, sita na avenida das FPLM, deu entrada o quinto requerimento que foi, diga-se, favoravelmente respondido.

Portanto, foram necessários nove anos para a EDM ir à casa da família Macandza a fim de satisfazer o pedido, pelo menos o da vedação. Mas porque “um mal nunca vem só”, a obra de vedação exigiu a demolição de parte da sua casa, sita na rua dos CFM, quarteirão «5», bairro do Hulene.

Afinal era o pior que faltava aos Macandzas, pois, não obstante a proposta ter sido aceite, as obras de remodelação ficaram pelo meio. Para trás teriam deixado as casas de banho parcialmente destruídas, razão pela qual a família afectada propôs uma indemnização pelo espaço ocupado, a negociar a partir de 782.860,50 Mt. Este valor, segundo Macandza, era para compensar os dez anos em que o PT-86 ocupou o seu quintal impedindo remodelações da sua casa.

As provas que pedem sempre!

Entretanto, num contacto que o @Verdade teve com Celestino Sitoe, o porta-voz da EDM e igualmente chefe do Gabinete de Imagem e Comunicação daquela instituição, constatámos que este, de tanto não acreditar no que lhe dizíamos, deu-se ao luxo (como sempre) de pedir provas. Entregámos-lhe três dos cinco requerimentos que a família Macandza remeteu àquela instituição.

Mal acabou de os ler, Sitoe telefonou para o engenheiro Micas, (na altura) director da EDM da cidade de Maputo, o qual reconheceu o problema e prometeu mandar removê-lo. “Sossegue a família que o problema vai ser resolvido”, afirmou Sitoe, acrescentando que “se não cumprir vamos cair em cima dele, o Micas”, ironizou Sitoe, mas visivelmente chocado com o facto.

O @Verdade ainda que recém-nascido (na altura) suplantou dez anos de disputa

Foram necessários dez anos (1999-2009) para que a família Macandza visse o PT-86 removido do seu quintal permitindo que fossem feitas as remodelações da casa que em vida o seu chefe (Alfredo Macandza) queria, mas o PT impedia a concretização desse desiderato.

Entretanto, a partir do momento que o caso chegou à redacção do @Verdade e demos o devido seguimento naquele mesmo ano de 2009, em que este jornal só tinha escassos meses de existência, a EDM mudou de modus operandi e prontificou-se a resolver o problema que há 10 anos fazia a família Macandza jorrar lágrimas ante um olhar indiferente e sereno daquela empresa pública que tudo podia ter feito para evitar esse diferendo, sobretudo que o dono da casa onde habitava o engenho morresse sem que visse o problema solucionado.

Diga-se, em abono da verdade, que o posto de transformação número 86 também conhecido como pomo da discórdia, foi finalmente removido no mesmo ano. O esforço do @Verdade conseguiu pressionar a Electricidade de Moçambique a mobilizar uma equipa técnica para ir remover o engenho que coabitava indevidamente com a família Macandza há uma década.

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