A Síria aceitou um cessar-fogo e um plano de paz preparado pelo enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, disse um porta-voz dele, esta Terça-feira, enquanto as tropas sírias entraram em território do Líbano em perseguição aos rebeldes que refugiaram-se no país.
Annan admitiu que terá uma “longa e difícil tarefa” para acabar com a luta, enquanto os grupos rebeldes reunidos na Turquia discutiram como unificar-se e receber mais ajuda estrangeira, depois de um ano de revolta contra o presidente Bashar al-Assad.
Em visita a Pequim, Annan disse ao primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, que a cooperação global envolvendo a China e outros países é a única forma de resolver o conflito, cujas dimensões sectárias geram temores de desestabilização em todo o Oriente Médio.
“Indico que recebi uma resposta do governo sírio e a tornarei pública hoje (terça-feira), a qual é positiva, e esperamos trabalhar com eles para traduzir isso em acção”, disse Annan aos jornalistas depois duma reunião com Wen.
Um porta-voz de Annan depois confirmou que Damasco aceitou o plano de seis artigos, que segundo Annan abrange “discussões políticas, a retirada de armas pesadas e tropas de áreas populacionais, assistência humanitária sendo autorizada de forma desimpedida, libertação de prisioneiros, liberdade de movimentos e acesso para jornalistas entrarem e saírem”.
Annan disse contar com pleno apoio da China, que em duas ocasiões já vetou resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas sobre a questão da Síria por temer que isso abra caminho para uma intervenção militar.
Antes de ir à China, Annan, ex-secretário-geral da ONU, esteve na Rússia, outro país que usou o seu poder de veto para impedir as acções do Conselho de Segurança contra a aliada Síria.
Pequim e Moscovo aceitaram o plano de Annan porque, ao contrário das propostas anteriores que tramitaram no conselho, ele não prevê a renúncia imediata de Assad.
Mas, num sinal das dificuldades para a implementação do acordo, as forças de Assad avançaram no norte do Líbano, destruindo construções rurais e entrando em confronto com rebeldes sírios entrincheirados no local, segundo os moradores.
Testemunhas disseram que o território libanês foi invadido em algumas centenas de metros. Uma fonte de segurança em Beirute admitiu ter havido confrontos perto da mal demarcada fronteira comum, mas não confirmou se houve incursão das tropas sírias Líbano.
Semana passada, os foguetes disparados da Síria atingiram o Líbano, e os moradores dizem que, há meses, os soldados libaneses cruzam rapidamente a fronteira a perseguirem os rebeldes.
“Mais de 35 soldados sírios cruzaram a fronteira e começaram a destruir casas”, disse Abu Ahmed, de 63 anos, que vive na comunidade libanesa de al-Qaa, na montanhosa região da fronteira.
Outro morador disse que os soldados, alguns dos quais deslocando-se em blindados, dispararam granadas de propulsão e trocaram tiros de metralhadoras com os rebeldes.
Ele disse que os soldados destruíram uma casa com uma escavadora. O Exército libanês bloqueou a área, onde centenas de sírios, alguns dos quais são membros activos do Exército Sírio Livre, uma força rebelde, refugiaram-se no último ano.
Os moradores disseram que os soldados sírios continuam no lado libanês, a cerca de 200 a 500 metros da fronteira.