Angola, sinônimo de petróleo e de diamantes, oferece hoje outras riquezas inexploradas aos paleontólogos, sob a forma de raras ossadas de dinossauros que uma longa guerra civil impediu de satisfazer a curiosidade dos cientistas. “Angola, é o último território desconhecido para os paleontólogos”, afirma Louis Jacobs, da Universidade Metodista de Dallas, Texas (EUA), membro de uma equipe internacional de caçadores de dinossauros que tem a missão de explorar esse país da África Austral.
“Por causa da guerra (1975-2002), poucos pesquisadores vieram para cá até hoje, mas nós finalmente chegamos aqui e há muitas coisas para descobrir”, entusiasma-se. “Em algumas regiões, os fósseis saltam literalmente da rocha. É como um museu subterrâneo.”
As primeiras ossadas de dinossauros foram descobertas em Angola nos anos 1960. Mas o combate pela independência da ex-colônia portuguesa em 1975 e, depois, uma guerra civil de cerca de trinta anos deixaram o país devastado, com milhões de minas espalhadas. Embora Angola permaneça como o terceiro país mais minado do mundo, atrás apenas de Afeganistão e Camboja, com 242 km2 repletos de minas e um quinto de sua população em perigo, regiões inteiras foram abertas à exploração depois do cessar-fogo.
A descoberta mais importante remonta a 2005. Um membro da equipe internacional PaleoAngola, o português Octávio Mateus, encontrou cinco ossos da pata esquerda de um saurópode, gigante entre os dinossauros, em Iembe. A partir de então, a maior parte dos fragmentos de esqueletos encontrados permitiram recensear animais aquáticos – tartarugas, tubarões, plessiossauros (répteis do período Jurássico) e mosassauros (cretáceo superior), mais ligados às serpentes do que aos dinossauros, dentre eles um espécime único que foi chamado de Angolassauro.
Mas Mateus, que trabalha com especialistas do Museu de História Natural de Maastricht (Holanda), acredita que as ossadas do saurópode permitem prever uma série de “descobertas de outros dinossauros”. “É uma questão de equipamento e de meios”, afirma. “Algumas regiões de Angola estão entre as mais ricas em fósseis do mundo”, ressalta o cientista.
Os pesquisadores também esperam que os fósseis possam permitir a reconstituição dos movimentos das placas tectônicas e datar mais precisamente a formação do Oceano Atlântico, que separou a atual América Latina da África. “Podemos identificar o momento em que os animais terrestres não conseguiram mais atravessar da África para a América do Sul e foram substituídos por animais marinhos”, explica Mateus.