Os peritos da Anadarko, multinacional norte-americana vocacionada à prospecção e exploração de petróleo, continuam muito optimistas de que poderão encontrar este chamado “ouro negro” na bacia moçambicana do Rovuma, não obstante a dúvida metódica, pois, segundo eles, a sua experiência ensinou-os que neste tipo de empreendimentos, só se pode ter a certeza quando se provar a sua existência por A+B.
Este optimismo foi manifestado por alguns dirigentes responsáveis pela prospecção e outros peritos da Anadarko, a um grupo de jornalistas moçambicanos que, desde segunda-feira última, se encontram de visita à sede desta companhia petrolífera aqui no Texas, para se inteirarem dos progressos alcançados por esta multinacional, nas prospecções que tem vindo a fazer há já três anos em Moçambique.
Na ocasião, os representantes da Anadarko reiteraram o seu optimismo, pois todos os dados geológicos recolhidos, tanto na zona costeira, bem como nas águas profundas, são muito similares às outras regiões do mundo com reservas de petróleo, e que geralmente são um indicativo da ocorrência de depósitos de petróleo ou gás natural.
Segundo Carol Law, gestora dos projectos de prospecção para as regiões da Africa Oriental e Caraíbas, a sua empresa não tenciona desistir enquanto não chegar a conclusão da inexistência de petróleo em Moçambique, porque ate agora, aqui há fortes evidencias que indicam a ocorrência de depósitos do “ouro negro”. Esta multinacional já concluiu todo o trabalho de prospecção, estando a fazer preparativos para o envio de equipamento sofisticado, que constitui o último passo deste longo e complexo processo, que marca o início das perfurações em terra e nas águas profundas.
Este processo deverá, digamos assim, arrancar entre os finais do corrente ano ou início de 2010, e será conclusivo para determinar a existência de petróleo em quantidades e qualidade comerciáveis. Segundo Ade Adeleyede, engenheiro petrolífero nigeriano e especializado em perfurações onshore (em terra) e offshore (águas profundas), e que nos deu aquilo que acabamos rotulando de ‘’verdadeira aula de sapiência petrolífera”, este e’ o único processo que permite aferir se uma determinada zona contém ou não petróleo, pois segundo ele, “a perfuração é uma espécie de Raio X geológico”.
Numa explanação claramente metódica e bastante didáctica, que nos fez dissipar todas as nossas dúvidas e ter uma melhor compreensão do complexo mundo das prospecções petrolíferas, Adeleyade vincou que todas as análises geológicas e geofísicas que antecederam a fase das perfurações – que agora se irão fazer durante um período mínimo de seis meses – podem ser equiparadas às análises que os médicos fazem geralmente para tentar diagnosticar a doença que aflige os seus pacientes.
Ele asseverou ser muito normal que uma determinada zona sem petróleo apresente uma composição geológica e geofísica similar a uma outra, noutro ponto do globo, onde foi comprovado a existência de jazidas petrolíferas. ‘’É por isso que apesar de a Bacia do Rovuma apresentar características geológicas semelhantes à de outros pontos do globo onde acabamos encontrando petróleo, não podemos neste momento ter a certeza de que ela também tem. É certo que mantemos o nosso optimismo e vontade de continuarmos a trabalhar, mas não temos a certeza de que seremos compensados’’, disse ele, passando daí a nos dar uma série de factos e dados estatísticos que nos deixaram ver que de facto a similaridade geológica nem sempre é sinónima da existência de petróleo.
Por exemplo, a Anadarko concluiu, durante o ano passado, um total de 16,7 perfurações de carácter expansivo na região já petrolífera de Alasca, aqui mesmo nos Estados Unidos, após análises geológicas terem dado fortes indicações há mais zonas suas que devem conter petróleo. Contudo, apenas 12,1 locais perfurados continham reservas daquele ouro negro, enquanto que 4,6 dos furos acabaram revelando que não continham nada.
Adeleyede deteve-se durante muito tempo a explicar quão complexo e desgastante é o processo de busca de jazidas do chamado “ouro negro”, indo ao ponto de dizer que este caso do Alasca mostra que mesmo em zonas onde já se descobriu alguns poços, há perfurações que se fazem no processo da expansão que acabam provando que eram poços secos ou com poucas quantidades que não justificam uma exploração comercial.
Ele deu a entender que a busca de petróleo assume-se em alguns casos como um jogo, em que mesmo havendo na zona em que se procura, pode se ir perfurar no ponto errado e assim concluir-se que não há nada, mas quando de facto existe. Para melhor elucidar, ele contou o caso do Gana, onde durante muitos anos várias companhias fizeram prospecções que se revelavam promissoras, mas que após a abertura dos furos coincidiam com os pontos secos.
Disse que só o ano passado é que o Gana teve a grande sorte de furar em locais certos que acabaram confirmando a velha potencialidade que se vinha revelando durante sucessivas prospecções. Ele enfatizou que ‘’mesmo na zona do Delta na Nigéria, onde sabe-se da existência e já se explora petróleo há muitas décadas, existem zonas periféricas onde vaise descobrindo mais poços e outras que revelam também potencialidades, mas que quando se fazem perfurações, não se encontra nada, ou quando se encontra, são quantidades irrisórias que não justificam o gasto de milhões de dólares em investimento”.
Os custos é onde, segundo ele, reside o problema, porque estão envolvidos milhões de dólares em investimento que nem sempre é possível recuperar. Ele revelou que a Anadarko já gastou ate agora pouco mais de 125 milhões de dólares na prospecção de petróleo em Moçambique, e que até Setembro próximo, este valor poderá disparar para cerca de 145 a 150 milhões de dólares.
Na ocasião, fez questão de vincar que este valor irá aumentar consideravelmente após as oito perfurações previstas para tentar comprovar a existência de petróleo na Bacia do Rovuma. Disse tratar-se de uma operação muito dispendiosa, pois apenas o aluguer do pesadíssimo e sofisticado equipamento de perfuração e sondagem custará um milhão de dólares por dia, e que, por regra, durara pelo menos 45 dias cada uma delas.
Assim, uma simples aritmética demonstra que estas perfurações irão custar pelo menos 45 milhões de dólares cada. Ora, multiplicados os oitos furos por seis meses, tempo previsto da sua duração, dá para ver que, como se diz na gíria popular, será gasta uma verdadeira nota preta.
Existência ou não de petróleo só se saberá daqui a um ou dois anos
Apesar dos muitos avanços neste processo, os peritos da Anadarko dizem que o resultado final, sobre a existência de petróleo naquela bacia, só será conhecido daqui a um ou dois anos. Isto porque como disseram, mesmo após a conclusão da perfuração dos oito pontos, nomeadamente um junto da costa e sete nas aguas profundas, seguir-se-á depois uma minuciosa análise nos sofisticados laboratórios da Anadarko durante seis meses de todos os detritos de solo, rochas e outras substancias químicas extraídas durante a perfuração.
Será com base nestas rochas e outras substâncias químicas ou mesmo crude que se possa apanhar, que se terá primeiro a prova de que existe ou não petróleo. Mesmo se os resultados forem positivos, somente essas analises ‘’dirão’’ o tipo de qualidade do mesmo e se as quantidades justificam a sua exploração comercial.
Os nossos interlocutores revelaram que mesmo provando-se a existência de petróleo, em quantidades industriais, o processo de sua exploração só poderá se iniciar volvidos cinco ou seis anos, porque será necessário montar uma série de equipamentos para o efeito. ‘’Como podem ver, alem de haver certeza sobre a existência de petróleo, mesmo se descobrirmos dentro de um ou dois anos, o inicio da sua exploração vai levar quase o mesmo tempo que despendemos a procurá-lo’’, asseverou um outro perito, reiterando que não obstante tudo isto, ele e os seus colegas continuam mais optimistas que o seu esforço e das outras companhias que também estão prosperando noutras zonas poderá ser compensado, porque as evidencias da composição do seu subsolo deixa-os mais esperançados de que o país contém reservas de petróleo, tal como já se provou que contem gás.
O optimismo dos peritos de Anadarko também é partilhado pelo PCA do Instituto Moçambicano do Petróleo, o Engenheiro petrolífero Arsénio Mabote, afirmando que não é apenas esta multinacional que encontrou fortes indícios de petróleo ena Bacia do Rovuma. Ele revelou à AIM que os mesmos indícios foram detectadas por várias outras companhias que têm estado a fazer prospecções noutros blocos concedidos pelo governo moçambicano naquela mesma bacia.
Companhias de outras quatro nações também detectaram indícios que sugerem a ocorrência de petróleo
“Tal como acontece com a Anadarko, que diz estar motivada com os indícios encontrados durante a prospecção, outras companhias, mais concretamente do Canada, Itália, Noruega e Malásia, dizem que encontraram também nos blocos que lhes atribuímos para prosperar. Existem fortes indícios que sugerem a existência de petróleo naquela bacia e, por isso mesmo, irão a ultima até a fase, que consiste na realização de perfurações”, disse Mabote.
Ele ironizou dizendo que com tudo isto, “eu costumo dizer que só precisamos de rezar para fazermos perfurações em lugares certos, porque de outro modo, seria um grande azar se todas estes indícios forem falsos”. Mabote refreou um pouco este seu optimismo, dizendo a prova real será dada pelas perfurações, na pesquisa de petróleo a certeza absoluta verifica-se após a abertura dos furos que nos permitem ‘’ver’’ o que está debaixo da terra.
Mesmo numa situação de incerteza, disse Mabote, o país não deve deixar de se preparar. Mabote, diz ser nesta senda que um dos objectivos que o fez vir agora aqui à sede da Anardarko, era para vir negociar bolsas de estudo para o envio de pelo menos 25 jovens bolseiros moçambicanos para se formarem em engenharia petrolífera nos EUA. Ele disse haver vários outros jovens em formação já noutros países, especialmente na Malásia.
Questionado por um colega jornalista, se a formação quase em massa destes jovens não será prova simulada da existência de petróleo e que não querem por enquanto divulgar, Mabote disse que uma coisa não tem nada com outra, explicando que Moçambique já vem formando petrolíferos há muito tempo, mesmo antes do inicio das prospecções.
Citou como exemplo o seu próprio caso, que foi enviado a Roménia no tempo do governo do presidente Samora, no longínquo ano de 1977. “Como eu, há muitos outros que foram sendo formados nesta área, e isso é muito bom, porque se um dia encontrarmos petróleo, teremos técnicos suficientes para fazer o que der e vier”, rematou.