A Amnistia Internacional (AI) pediu às autoridades camaronesas a libertação das 84 crianças “detidas ilegalmente há seis meses” em operações em várias escolas corânicas no extremo norte do país.
A 20 de Dezembro de 2014, lembra a organização de defesa dos direitos humanos, uma força mista de polícias e militares cercou os bairros de Guirvidig, efectuou operações em várias escolas da cidade e deteve 43 homens, incluindo vários docentes, e 84 crianças das quais 47 de menos de 10 anos de idade. Para as autoridades, prosseguiu, as escolas em questão serviam de cobertura para campos de treino da seita islâmica Boko Haram, mas que nenhum ataque foi registado na cidade.
“Deter crianças não ajudará de modo algum a proteger os Camaroneses que vivem sob a ameaça da seita Boko Haram. O Governo deve assumir o seu compromisso de respeitar os direitos humanos na luta contra a Boko Haram, e libertar estes petizes a fim de que eles possam reencontrar as suas famílias sem delongas”, declarou a organização humanitária num texto cuja cópia foi transmitida à PANA.
Seis meses após a sua detenção, as crianças afectadas continuam detidas num centro para menores em Maroua, a principal cidade do norte, enquanto elas não foram inculpadas de nenhuma infração, precisou a AI.
Para aliviar as limitações das autoridades locais, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) forneceu colchões ao centro, e o Programa Alimentar Mundial (PAM) distribuiu alimentos cujos stocks começam a esgotar-se.
“É impensável manter crianças dessa idade longe dos seus pais por tanto tempo e como tão pouco apoio. Elas querem nada mais do que ir para as suas casas, as suas famílias. Elas não merecem sofrer danos colaterais da guerra contra a seita Boko Haram”, insurgiu-se a Amnistia.
A AI pediu que todos os petizes menores de 15 anos sejam imediatamente libertos e entregues às suas famílias e que os de mais de 15 anos sejam libertos sem delongas, a menos que eles sejam inculpados duma infração reconhecida pela lei.
“A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, da qual os Camarões são parte, fixa a idade da responsabilidade penal em 15 anos”, sublinhou a organização internacional. Além disso, a AI apelou às autoridades camaronesas para promover um inquérito independente sobre as detenções coletivas que ocorreram em Guirvidig e os encarceramentos que seguiram bem como para fazer com que os homens interpelados na operação beneficiem dum julgamento equitativo e de condições de detenção que respeitem a dignidade humana.