Muitas das organizações não governamentais da sociedade civil moçambicana afirmam estar a sofrer “fortes pressões” exercidas por organizações progenitoras externas, acabando por desaparecer por falta de meios financeiros para seu sustento.
De acordo com João Utui, do Grupo Moçambicano da Dívida (GMD), as pressões que são também feitas a partir “de dentro do país” ocorrem quando “defendemos um projecto ou uma causa nacional que elas combatem e como são patrocinadoras da nossa existência acabamos por sucumbir porque ficamos sem fundos para o funcionamento”, explicou, falando em entrevista ao Correio da manhã.
Utui ressalva que as pressões feitas a partir de dentro do país não são muito fortes, “mas as vindas de fora, de organizações-mãe, é que acabam por nos fazer desaparecer”.
Por seu turno, José Alberto Milice, de uma organização não-governamental nacional baseada na província meridional de Inhambane, e Aida Muhai, secretária executiva da Organização para Resolução de Conflitos (OREC), deploraram a falta de meios financeiros que a chamada sociedade civil moçambicana enfrenta, “situação que faz com que sejamos mendigos e totalmente dependentes e sem meios de auto-sustento”, ajuntou Milice.
José Alberto Milice salientou, por outro lado, não haver, internamente, preocupação no aproveitamento das experiências dos membros das organizações baseadas fora da cidade de Maputo, situação que faz com que “sejam sempre as de Maputo que vão às províncias falar de coisas teóricas em forma de nos ensinarem, esquecendo-se que muitos de nós estamos à frente de vários projectos como é o caso da Sasol, em Inhambane”.
Utui, Milice e Muhai falavam ao Correio da manhã à margem da conferência sobre edificação da paz nos PALOPs que debateu sobre recursos naturais, desenvolvimento e conflitos nos países da língua oficial portuguesa.
Foi neste encontro que a académica moçambicana Rosta Valoi, da Universidade Eduardo Mondlane, vaticinou que Moçambique pode ser palco de violentos conflitos se houver má gestão dos recursos naturais em descoberta.