Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Alexandre e Sandra: Uma história de amor eternizada pelas chamas

Alexandre e Sandra: Uma história de amor eternizada pelas chamas

Um casal foi encontrado carbonizado no interior da sua residência. O marido perdeu a vida no local e a esposa faleceu, sete dias depois, no leito do hospital. Há várias versões sobre a morte do casal, mas conta-se que a mulher despejou combustível sobre o corpo do esposo e, de seguida, lançou um fósforo aceso sobre o mesmo. Onde mora a verdade? Eis a questão.

Esta história começa pelo final, por sinal triste.

Quarta- feira, 1 de Setembro, as cidades de Maputo e Matola acordaram sobre um intenso fogo cruzado que opunha a polícia aos indivíduos que protestavam contra a subida de preços dos bens de primeira necessidade. Apesar disso, no quarteirão 44 do bairro 3 de Fevereiro a vida prosseguia normalmente, pelo menos quando faltava ainda meia hora para o relógio marcar as 19 horas.

Ao cair da noite, tudo parecia calmo com o casal Alexandre Chavana, de 30 anos de idade, e Sandra Chaúque de 26. A porta estava trancada e os dois filhos brincavam no pequeno pátio. De repente uma pequena nuvem de fumo que provinha da casa vizinha despertou a atenção de alguns moradores. Ninguém levou a sério, afi nal, poderia ser uma panela ao lume.

Porém, uma vizinha que não quis ser identifi cada achou estranho pois, no seu entender, não era hábito daquela família cozinhar no interior da casa. Instantes depois, o fogo aumentou e, com ele, os gritos horrendos que provinham da casa. Cerca de uma dezena de pessoas se aproximou. De seguida, instalou-se o pânico porque os vizinhos aperceberam-se de que o casal estava no interior da casa. Os gritos da vizinhança agitaram o quarteirão. “Foi um curto-circuito”, concluíam as pessoas enquanto transportavam baldes de água e tentavam arrombar a porta.

Depois a porta se abriu, as pessoas fizeram-se ao interior e debelaram as chamas que vorazmente carbonizaram o casal deixando-o inanimado. Alexandre sofreu mais nos órgãos genitais e Sandra na parte da cabeça. Enquanto o homem perdeu a vida na altura, a mulher chegou ao hospital onde perdeu a vida, uma semana depois. Morria assim um casal que em comunhão viveu durante pouco menos de oito anos. A notícia correu o bairro e deixou os moradores perplexos.

Nove horas antes

Já passavam das 10 da manhã, Sandra encontrava-se com a sua vizinha a tomar o pequeno-almoço a um metro de distância da sua residência. Tempos depois, chegou o marido da vizinha e esta foi atendê-lo e, por sua vez, Sandra decidiu ir assistir à telenovela. Ela era apenas uma dona de casa e uma pessoa de poucas conversas e quase nenhuma amizade no bairro. “Não conversava com ninguém e quando a comprimentavam não respondia”, diz uma outra vizinha. Já o seu marido era motorista de chapa e também pedreiro nos tempos vagos. Naquele dia, Alexandre foi trabalhar numa obra de construçao de um armaz ém que fi ca a sensivelmente 500 metros da sua casa.

Trinta minutos depois (11h30), contam os vizinhos, Sandra recebeu uma visita de uma amiga, porventura a única, de nome Tina, ou simplesmente Maquinane que se foi embora às 16h00. Depois de a amiga se ter ido embora, foi até à obra chamar o seu marido e trancaram-se dentro de casa onde discutiram, cena que se repetiu por mais de duas vezes naquele dia. Segundo testemunhas, as brigas do casal eram frequentemente acompanhadas por agressões físicas.

Tempos depois, Alexandre voltou ao trabalho e Sandra foi bater a porta da vizinha que lhe devia 1500 meticais. “Entregue o dinheiro à minha mãe”, disse. A vizinha quis saber sobre o que se estava a passar e, chorando, a jovem respondeu: “Nada, nada… apenas preciso de viajar”. Durante a discussão com o esposo, conta-se que jovem fez várias ameaças nos seguintes termos :“Hoje vou fazer merdas e depois voume embora”.

Sandra saiu atrás do seu marido e novamente voltaram juntos para a casa, onde permaneceram por alguns minutos. “Vimos ela retirar da casa os seus dois filhos (uma menina de 6 anos e um rapaz de 3) e, de seguida, trancou a porta. Ninguém se alarmou, afi nal, a discussão era o “pão de cada dia e foi aí onde tudo aconteceu”, contou uma vizinha.

As mil versões

O motivo e o culpado continuam um mistério. Mas Rosalina Chavana, irmã mais velha de Alexandre, conta que Sandra pretendia fazer mais uma das suas habituais viagens à África de Sul e o seu irmão proibiu, aliás, segundo a interlocutora, isso foi a gota de água que fez transbordar o copo. “O casal não se entendia, estava sempre a discutir e a lutar. A mulher viajava para a África de Sul sem o consentimento do marido e ninguém sabe o que ela ia lá fazer”, comentou.

A versão da família Chavana é de que Sandra pegou num recipiente que continha gasolina, regou a cama, derramou sobre Alexandre, acendeu o fósforo, lançou-o para o seu esposo e tentou sair do quarto. Mas Alexandre pegou- a pelos cabelos – mexas – e ambos acabaram consumidos pelas chamas. “Quando ela acendeu os fósforos queria sair do quarto, mas ele pegou-a pelas mexas”, conta Samuel Chavana, pai de Alexandre.

Contudo, há quem diga que as razões do sucedido têm a ver com a infidelidade. Algumas pessoas que moram nas redondezas do bairro e que conheciam o casal há anos afi rmam que Sandra descobriu que o seu parceiro teve um fi lho fora do casamento. Para este grupo de moradores, ela “tomou um banho” de combustível, depois deu ao seu marido e ateou o fogo. Já outros explicam que Alexandre, cansado e desconfi ado das sucessivas viagens que a sua esposa fazia às terras do rand sem lhe dizer o que ia lá fazer, além de levar mais de três meses para regressar, tenha levado o malogrado a cometer um homicídio e de seguida a suicidar-se, quando ela se preparava para mais uma saída do país.

A família de Sandra não teceu qualquer comentário a respeito, afi rmando que o momento era impróprio. A morte do jovem casal deu razão a uma série de especulações entre os moradores do quarteirão 44. Cada um tenta explicar a situação da forma que melhor lhe aprouver e, na sua maioria, coloca a moça como a vilã desta história, chegando até a dizer que era uma mulher de pavio curto e que faltava ao respeito a tudo e todos. Mas uma coisa é certa: a verdade jaz agora no túmulo.

De um namoro perfeito a uma vida tumultuosa

A relação de Alexandre e Sandra começou por ser perfeita, sobretudo durante a fase de namoro. Aos olhos dos familiares, o casal, diga-se de passagem, não podia viver um sem o outro. Depois de vários anos de namoro, ambos decidem passar a outra etapa, ou seja, como diz a gíria popular, juntar os trapos. No entanto, não deixaram de seguir todos os passos para concreti zarem a união assim como manda a tradição.

Casados, passaram a viver em casa dos pais de Alexandre e, depois de alguns anos, parti cularmente quando nasceu o primeiro fi lho do casal, a relação tornou-se tensa e complicada. Segundo conta a família do homem, Sandra começou a passar mais tempo em casa da sua mãe, no bairro de Maxaquene, e recusava tudo o que lhe era dado pelos familiares do marido. A família de Alexandre achou que o comportamento dela se devia ao facto de ambos não terem uma casa própria. Então, a família decidiu juntar dinheiro para ajudar Alexandre a construir uma moradia para albergar a sua família. E isso veio acontecer tempos depois, o casal contava já com dois fi lhos.

O casal mudou-se para sua nova casa no quarteirão 44 há sensivelmente três anos atrás. A residência é uma pequena habitação modesta, paredes sem ti nta, com dois quartos, uma sala e um pequeno cómodo que serve de despensa. Apesar de estarem na sua própria casa, a situação conti nuou na mesma, aliás, foi-se deteriorando. Conta-se que uma das razões que levou os cônjuges a uma discussão foi o facto de Alexandre ter reclamado por não ter as suas roupas limpas e engomadas devidamente, ao que Sandra retorquiu que ele devia casar com alguém que lhe passasse a roupa da maneira que ele queria.

Uma outra versão dá conta de que há sensivelmente cinco meses atrás, Sandra teria viajado para África do Sul, e teria dito ao esposo que fi caria por lá três dias, mas sucedeu que ela acabou por permanecer quatro meses nas terras do rand. Por conta destas idas e vindas de Sandra à Àfrica do Sul, por precisar de trabalhar, Alexandre acabava por deixar os seus fi lhos com as suas irmãs, uma situação que se tornou incómoda com o tempo. Estas aconselharam-no, por isso, a arranjar uma nova esposa.

Tendo seguido o conselho das suas irmãs, Alexandre estava em vias de refazer a sua vida com outra mulher, e por sinal num belo dia quando os dois estavam a caminho da casa dos seus pais, para proceder à apresentação da nova namorada, recebeu uma chamada da sua esposa que lhe informava que estaria em Ressano Garcia, ou seja, estava a chegar a casa. Posto isto, Alexandre desisti u da ideia de começar uma nova vida com a suposta namorada, tendo dito a esta que já não se realizaria a suposta apresentação, pois a sua esposa de facto estava a voltar para casa. Após despedir a moça, ele retorna à sua casa.

Por sua vez, a sua namorada ligou à irmã de Alexandre queixando-se do sucedido, a qual retorquiu dizendo que aquela situação se iria resolver a seu favor. Relatos dão conta ainda de que dias depois do sucedido, Sandra fi ca a saber por alguém que na sua ausência, o seu marido teria arranjado uma namorada e que ti nha planos de a apresentar aos seus pais, a fim de oficializar a relação.

Dona de um temperamento forte, Sandra foi atrás da rival, ameaçou-a de morte e tentou transformá-la numa escrava, obrigando-a a trabalhar na sua casa, sempre que ela saísse. Daí para diante a relação tornou-se, por assim dizer, um inferno.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!