As greves que fustigam a economia sul-africana nos últimos meses já atingiram o sector da agricultura. Agricultores de De Doorns, na província do Cabo Ocidental, estão há uma semana a protestar contra um aumento salarial dos actuais 69.99 randes diários para 150.
Na última semana, os grevistas de De Doorns bloquearam uma auto-estrada e incendiaram pneus, condicionando a circulação de viaturas e de pessoas naquela região. A ministra da Agricultura, Tina Joemat-Pettersson, está desde esta semana a tentar mediar o processo, que tende a alastrar-se para as restantes províncias sul-africanas.A porta-voz do Ministério da Agricultura, Palesa Mokomele, revelou ,nesta segunda-feira, que ao longo da semana a ministra iria reunir-se com os representantes da Comissão para a Reconciliação, Mediação e Arbitragem e com a AgriSA (organização dos agricultores). Estes encontros teriam como finalidade a discussão do salário mínimo nacional, fixado em cerca de 69.99 randes por dia.
Os agricultores da região de De Doorns não estão filiados a nenhuma organização sindical, entretanto a delegação da COSATU, o Congresso dos Sindicatos da África do Sul, predispôs-se a representá-los nas negociações que estes estão a ter com o Governo e os empregadores.
O representante provincial da COSATU, Tony Ehrenreich, afirmou que os agricultores tinham rejeitado uma oferta de 80 randes diários e que tinham recebido ordens para não se fazerem aos seus postos de trabalho na segunda-feira. Ehrenreich disse ainda que os camponeses de Mpumalanga, a escassos quilómetros da fronteira com Moçambique, já tinham começado com os protestos.
Antes de a COSATU tomar o controlo da situação, que envolvia mais de oito mil agricultores, não existia uma liderança, muito menos uma lista reivindicativa. Aquela agremiação diz estar a favor destas reivindicações pois as preocupações da massa laboral são legítimas.
“Muitos farmeiros têm explorado, por muitos anos, os agricultores e isto deve acabar” defendeu o secretário provincial da COSATU, Tony Ehrenreich, tendo acrescentado que “as pessoas não podem ser sujeitas a viver em péssimas condições, quando os farmeiros fazem fortunas”.
Os violentos protestos resultaram na destruição de cerca de 30 hectares de plantações de uva e a auto-estrada nacional N1 esteve bloqueada desde o rio Touws até a De Doorns por várias horas , na segunda-feira, mas o Fórum dos Agricultores da Província do Cabo Ocidental, Agri Wes-Cape, instou os seus membros a regressarem ao trabalho uma vez que se está na época das uvas.
Polícia confirma a detenção de 11 pessoas
Durante a onda de protestos em De Doorms, cerca de 11 pessoas foram detidas quando a polícia decidiu reprimir os agricultores. “A situação continua tensa nesta região”, afirmou o porta-voz da polícia, Andre Traut, que referiu que os actos de violência começaram quando um grupo de 80 pessoas, empunhando paus e lanças, intimidaram os camponeses e os proibiram de se deslocar às machambas.
“Nós tomámos as medidas necessárias”, destacou Traut, não tendo, entretanto, divulgado a forma usada para estancar a rebelião, mas o canal de notícias da cadeia de rádio e televisão pública da África do Sul, SABC, reportou o disparo de balas de borracha. Segundo o órgão, 10 pessoas foram detidas, umas devido à violência pública e outras por intimidação.
Durante os protestos, um farmeiro foi detido, na quarta-feira da semana passada, indiciado de tentativa de assassinato depois de alegadamente ter disparado contra os camponeses em greve em De Doorns.
Já o porta-voz da delegação do partido ANC (Congresso Nacional Africano) no Cabo Ocidental, Koos Grober, afirmou que um presidente de um município naquela região lhe disse que a polícia estava a patrulhar a zona e que havia helicópteros da corporação e privados a sobrevoar a área.
A greve pode ter motivações políticas
A polícia do Cabo Ocidental afirmou que numa dada altura chegou a acreditar que a causa dos protestos fosse o aumento salarial, mas que o Ministério da Agricultura optou por se envolver. “Não estamos perante uma greve dos camponeses. Ela não foi organizada por eles, apesar de a mesma contar com a participação de agricultores. Quer nos parecer que são protestos com motivações políticas”, afirmou Wouter Kriel, porta- voz da Delegação do Ministério da Agricultura na Província do Cabo Ocidental.
“Há grandes indícios de intimidação. Temos muitos agricultores temporários contratados para a época da uva. Os que estão a provocar esta situação não são os agricultores efectivos, mas sim os eventuais”, acrescentou.