O apoio ao comercio regional é uma das pedras angulares da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC), mas o foco tem sido em larga escala posto sobre o comercio de bens e serviços, ignorando um grupo importante que faz o comercio ao longo da região.
Comerciantes inter-fronteiriços, muitos deles mulheres, tem estado a contribuir para o desenvolvimento de suas nações e famílias, mesmo antes do estabelecimento da organização regional. Segundo um relatório de 2004 do Programa das Nações Unidas para Alimentação, o comercio informal interfronteiriço jogou um papel significativo em prevenir o alastramento de insegurança alimentar durante a seca 2002/03 que devastou a região.
Um relatório do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulheres (NIFEM), “ Mulheres no Comercio Informal Inter-fronteiriço na Africa Austral”, diz que a contribuição do valor médio de comercio informal interfronteiriço na região é 17.6 biliões de dólares norte-amercanos por ano, contribuindo para 30-40 por cento de comercio intra-SADC. O relatório do UNIFEM foi publicado num “workshop” para Mulheres do Comercio Informal Inter-fronteiriço realizado de 8 a 11 de Fevereiro passado.
“Por ignorar o comercio informal inter fronteiriço, Estados membros da SADC estão a fazer vista grossa a uma porção significativa do seu comercio”, disse o director regional do UNIFEM para a Africa Austral, Nomcebo Manzini.
COMERCIANTES EXIGEM RECONHECIMENTO
No “workshop”, comerciantes interfronteiriços declararam 2010 como ano em que eles vão lutar para governos regionais reconhecerem a sua contribuição. “Queremos que este ano eles (governos) reconheçam que comerciantes inter-fronteiriços contribuem para o PIB (Produto Interno Bruto) e ponham em vigor um quadro legal que nos proteja, porque somos muito molestados por funcionários governamentais durante o transito”, disse Charity Mombeshora, secretaria para Assuntos de Género e Mulheres da Associação de Economia Informal da Câmara do Zimbabwe.
A sua declaração surge também numa altura em que se esta numa contagem decrescente para a realização da Taça Mundial de Futebol 2010, durante a qual se espera que aumente o negocio no pais hospedeiro do campeonato -Africa do Sule regionalmente. E a semelhança de quaisquer outros empresários, mulheres do comercio interfronteiriço querem ver o seu negocio a florir e a expandir-se. “Estamos a encorajar nossos membros a diversificarem…Eles devem trazer qualquer coisa de novo para eles mesmos e para a industria de modo que possamos crescer e vir também com contentores em vez de vir com malas ou pastas”, disse Thandi Tshukudu, do Botswana.
OBSTACULOS A SUPERAR
Mas as mulheres comerciantes estão limitadas por politicas desfavoráveis e um ambiente de trabalho que lhes e’ hostil. A falta de moeda estrangeira em alguns países e regulamentos bancários rígidos ao longo da região fazem com que as mulheres tenham dificuldades em operarem contas bancárias em vários países onde elas comercializam. Os bancos são relutantes em avançar com a assistência financeira a mulheres comerciantes, porque a actividade destas, segundo as mesmas instituições financeiras, tem muito pouco a oferecer e é de muito risco.
“O nosso principal objectivo este ano é forçar os nossos lideres a intervirem para que nos tenhamos instituições de mirofinanças, especialmente criadas para mulheres do comercio inter-fronteiriço. Queremos ter acesso a empréstimos. Estes empréstimos deveriam ser de longo prazo, não como os que nos são disponibilizados agora, onde eles esperam que você devolva o montante cedido em 30 dias”, disse a moçambicana Lúcia Cunica. “Há muitos desafios pela frente.
Um deles e’ o transporte a partir de casa…quando você chega a fronteira, funcionários (de imigração e alfandegas) tratam-nos como se fossemos criminosos…passamos horas e horas na fronteira”, disse Christine Mongo, da Zambia. “O outro desafio é quando eu estou em transito para a Namíbia. Sou cobrado direitos alfandegários no Botswana, porem estou em transito. E quando chego a Namíbia sou cobrado direitos outra vez. Ao fim do dia a margem de lucro e muito magra”, acrescenta Jacqueline Shonga.
Acomodação é uma das grandes preocupações para as comerciantes. Elas alugam casas privadas ou dormem em autocarros ou alpendres de autocarros. Algumas envolvem-se em relações sexuais a fim de assegurar acomodação para suas viagens. Elas riscam-se a violações sexuais e a outras formas de violência, bem como contrair o HIV.
Durante o “workshop”, as comerciantes prometeram criar associações e cooperativas na região para tomarem decisões estratégicas para o investimento do dinheiro gerado através da sua actividade. As associações ajudarão na formação de comerciantes inter-fronteiriços em áreas tais como pagamento do IVA, gestão de negócios e de “stocks”.