Começou esta sexta-feira mais um Dockanema que é o evento cultural de maior impacto na cidade de Maputo. A paixão pelo cinema continua a conquistar mais adeptos, tanto a nível de público como – esperemos – de futuros cineastas. Não há dúvida que o Festival de Cinema Documental ocupa também um espaço de grande consistência na cena do cinema africano e internacional, mobilizando entusiasmo da parte dos realizadores, agentes e público cinéfilo.
E na noite de sexta foi prova disso a afluência à sala do Centro Cultural da Universidade Eduardo Mondlane, muito bem decorada para a abertura. Eram cerca de 700 pessoas que aplaudiam o director Pedro Pimenta (e a sua equipa) que, com grande alegria, dava o sinal de arranque a uns longos nove dias de programação, com grande diversidade de proveniências e temáticas, que animarão as 4 salas onde os filmes estão em exibição.
O filme de abertura foi “Behind the Rainbow” (Atrás do Arco-Íris) de Jihan El Tahri que descreveu o filme como um contributo para esclarecer a complexidade da estrutura do ANC sul-africano, as relações de poder no seu seios e a situação decisiva e difícil da África do Sul actual. E durante 110 minutos assistiu-se à análise rigorosa do percurso das lideranças Thabo Mbeki e Jacob Zuma (actual presidente).
Tema caro a Moçambique, as opiniões foram positivas quanto a esta escolha, na proximidade das eleições será de todo útil perceber as razões do conflito sul-africano e de como a luta contra a pobreza foi negligenciada em proveito de uma classe enriquecida à custa do poder e das elites que dele se aproveitam.
Escreve Olivier Barle, um crítico francês: “O que edifica este folhetim político com uma pujante actualidade é ver como a cultura de solidariedade entre os membros do ANC durante os anos de luta se tornou corrupta quando acederam ao poder de gerir o dinheiro. E como a questão do poder se torna o acesso aos privilégios mais do que a luta contra a pobreza, objectivo primordial do ANC. Este olhar sem condescendência é assim simultaneamente apaixonante e necessário para enfrentar a História contemporânea e deixarmo-nos de mistificações.“
Depois da desconstrução e explicação em ritmo cadenciado, com apontamentos de humor que o filme disponiblizou, o público – onde se encontravam muitos jovens, diplomatas, gente das empresas, cultura, cineastas moçambicanos como Licínio de Azevedo, Isabel Noronha ou Gabriel Mondlane – saiu para a rua em direcção ao Centro Cultural Franco Moçambicano onde nos esperava uma bonita festa.
Pelos vários espaços do Centro, jardins e pátio, as pessoas conversavam animadas, petiscavam, apresentavam-se e trocavam ideias sobre o filme e tudo o resto. Além da música de dj, ainda houve uma intervenção do grupo de dança e percussão Milhoro que encantou com os seus ritmos frenéticos em que os corpos pareciam personificar no balanço cada batida, com muita garra e energia, e fogo.
A partir deste sábado os filmes estão aí em várias salas, os bilhetes são grátis para os jovens até aos 26 anos, recomenda-se vivamente que os vão ver se desejam conhecer o que se anda a passar pelo mundo.