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A ntyiso wa wansati: A vida muda todos os dias

Querida Naná: 

Tu sabes melhor que ninguém o quanto sofri às mãos do Diogo. O tipo andou anos a brincar com o meu coração, qual bola de futebol, talvez uns quatro, o que dá pelo menos para um campeonato europeu e para um mundial, por isso considero que o facto de ter sobrevivido sem mazelas a tais maus tratos faz de mim praticamente uma heroína destas coisas do coração.

A verdade é que o mistifi quei demasiado porque achava que ele era único, especial, etc, etc. E depois quando ele desapareceu da minha vida, agarrei-me a isso porque como sabes o ser humano tem horror ao vazio e também não sou lá muito boa a cortar laços.

E talvez por isso durante alguns anos a criatura foi tendo algum poder sobre mim, pairando como um fantasma insistente, de modo que cada vez que eu tinha uma relação que podia ter pés para andar, ele reaparecia, qual gato da Alice, para me dar cabo da vida, e dava. Isto aconteceu duas ou três vezes ao longo dos anos, o que me dava uma terrível sensação de desespero, até que o tempo, a vida do dia-a-dia e o meu amor crescente pelo Eduardo e o dele por mim arrumaram defi nitivamente o assunto.

É claro que de vez em quando ainda me lembrava dele e vai não vai enviava-lhe uma mensagem para saber como estava, sempre sem resposta. Não gosto de zangas e cheguei a pensar que a amizade poderia sobreviver a tantos episódios, voltas e reviravoltas, mas devo ter-me enganado, porque o Diogo decidiu zangar-se comigo, talvez para sempre.

Ouvi dizer que entretanto arranjou uma namorada e que estava muito feliz. Até comentei contigo que me sentia contente por ele, podia ser que com esta rapariga não cometesse os mesmos erros que tinham destruído a nossa relação e no meu íntimo desejei-lhe o melhor.

Claro que na minha cabeça ele continuava lindo, alto, estupendo, cheio de charme, mas a verdade é que nunca mais o vi. Como mora noutro continente, foi fácil nunca mais nos cruzarmos. Porém, como estas coisas acabam sempre por acontecer quando pertencemos mais ou menos aos mesmo grupos de amigos, acabámos por coincidir no mesmo jantar há poucos dias.

E ele já não era aquela pessoa que eu tinha amado. Se calhar nunca foi. Se calhar teve sempre aquele olhar atravessado de baixo para cima das pessoas que não conseguem olhar-te nos olhos, sabes de que estou a falar, não sabes? Se calhar nunca foi tão alto nem tão giro como projectei no meu desejo: Mal me falou e aparentava alguma tristeza que a meus olhos era impossível de disfarçar, ou não conhecesse eu o bicho do direito e do avesso. Pareceu-me que não conseguia estar ao meu lado.

Se calhar também não queria, mas o que senti foi que ele me odiava, da mesma forma que o meu ex-marido me odeia. Irónico e paradoxal, tratandose dos homens a quem mais me dediquei, a quem dei mais provas de amor, com quem fui mais tolerante e paciente.

E finalmente percebi aquilo que durante anos me disseste acerca deste assunto; o meu suposto amor por ele há muito que não era amor, era um misto de saudade, de frustração por tudo se ter perdido, de pena de mim própria, de raiva, de orgulho ferido e sobretudo de muita teimosia.

Ele apagou-se completamente para mim, agora é apenas uma recordação de um tempo que já vivi e que já passou para nunca mais voltar. Mesmo assim, quando me despedi dele, decidi não o apresentar ao Eduardo. Para quê? Não lhe quis dar essa importância. Já o Eduardo, que é sempre um senhor em todas as circunstâncias, fi ngiu que não o viu e fi cámos assim.

No dia seguinte ligou-me a Joana a dizer que ele está outra vez solteiro, parece que a outra rapariga também se fartou das parvoíces dele. Aparentemente teve mais juízo do que eu, porque só se deixou driblar durante um ano, só apanhou o Mundial de 2010. Temos pena, dirias tu, com o teu ar irónico e impassível. A verdade é que não tenho pena nenhuma dele.

A vida muda todos os dias e sou muito feliz desde que ele saiu da minha. Há pessoas que nos fazem crescer e andar para frente, e há outras que só servem para nos atrasar a vida. E o Diogo tem esse dom, o de empatar a vida das mulheres que se interessam por ele.

Imagino que já tenha atravessado o Atlântico e que continue cheio de dúvidas em relação ao amor. Se calhar a vida de uns muda, a de outros é que não. Paciência. Deus lá sabe o que faz e viva o Eduardo, que está cada vez mais giro, com mais pinta e, atrevo-me a dizer, mais alto.

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