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A nossa revolução foi-nos roubada, dizem os jihadistas da Líbia

Das montanhas do Afeganistão e das ruas de Bagdad às grades de ferro da Baía de Guantánamo, os líbios de Derna transformaram a sua pequena cidade num grande nome da jihad global.

Agora, com o fim de Muammar Khadafi, muitos estão em casa, mas dizem que a batalha por um Estado islâmico apenas começou.

A morte do embaixador norte-americano, mês passado, no consulado dos EUA em Benghazi, um ataque que, segundo Washington, pode ter envolvido militantes aliados da Al Qaeda, lançou uma luz global sobre os islâmicos armados do leste da Líbia.

Um efeito das reacções hostis em casa e no exterior foi que alguns grupos islâmicos, parte de uma miscelânea de milícias que preenchem o vácuo deixado por Khadafi, fizeram um recuo táctico. Alguns declararam que as suas brigadas foram desmanteladas.

Mas os combatentes islâmicos de Derna deixam claro que buscarão reparação para as injustiças, muitas das quais com pouco a ver com religião, algumas datando dos tempos coloniais, outras baseadas na percepção de que a vitória na luta contra Khadafi iniciada por ele há anos foi “roubada” por seus antigos cúmplices e pelos bobos do Ocidente.

Embora seja difícil estimar os números, armas e alianças deles, há pouca dúvida de que Derna, uma cidade portuária de 100 mil habitantes a cinco horas de carro de Benghazi, seja o lar de centenas de homens endurecidos pela batalha que querem um Estado islâmico.

E uma parcela da riqueza do petróleo que eles acreditam que tenha sido negada ao leste do país, enquanto Khadafi esmagava as suas aspirações durante décadas de violência.

Salem Dirbi, um combatente islâmico veterano, acredita que a sua revolução foi sequestrada por homens que eram leais a Khadafi e agora estão de volta ao poder, enquanto aqueles que “sacrificaram o seu sangue” para derrubar o ditador foram deixados de escanteio.

“Como vocês esperam que tenhamos confiança no Estado?”, perguntou Dirbi, na faixa dos 40 anos, que agora tenta estabelecer-se no sector de equipamentos eléctricos. “Eles estão a colocar as mesmas pessoas antigas e apenas a mudar os seus cargos para enganar o povo.”

Dirbi travou uma longa guerra contra Khadafi. Assim como muitos dos comandantes das unidades islâmicas que ajudaram a derrubar o “irmão líder”, ano passado, Dirbi passou anos nas montanhas durante uma luta violenta de guerrilha contra ele nos anos 1990.

A sua cidade natal dele vangloria-se de ter enviado mais militantes islâmicos para lutar em mais guerras santas (incluindo no Iraque, no Afeganistão e na Síria) do que qualquer outra cidade do mundo árabe.

Os combatentes islâmicos de hoje na cidade afirmam ser vítimas de uma conspiração, tornada clara quando foram acusados de estar por trás do ataque ao consulado norte-americano.

“O Estado está a formar essa conspiração. O Estado ignora deliberadamente o facto de que há um renascimento islâmico”, afirmou Dirbi, cujo irmão estava entre os mais de 1,2 mil prisioneiros islâmicos que foram metralhados por guardas numa prisão de Trípoli em 1996.

“Quero ver os homens de Khadafi a serem julgados, não sendo recompensados e premiados”, afirmou Dirbi no seu escritório recém mobiliado perto da mesquita de Ateeq, uma das 70 mesquitas da cidade.

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