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A mulher que quer melhorar a vida dos vizinhos

A mulher que quer melhorar a vida dos vizinhos

Abandonada pelo marido por deixar de conceber, Emília Napitela, de 48 anos de idade, mãe de uma filha e funcionária do Conselho Municipal de Mocuba na área de limpeza, tem o sonho de disponibilizar água potável aos vizinhos num município onde o precioso líquido continua a ser uma miragem para grande parte da população. Com o parco salário de 2500 meticais que aufere mensalmente, abriu um poço no seu quintal, mas precisa do apoio das autoridades locais para a construção de um furo.

A vida de Emília Napitela nunca foi fácil. Foi abandonada pelo marido com quem viveu mais de 10 anos porque ela deixou de conceber, logo após o casal ter uma filha. Mas nem por isso se sente triste, até porque, diz, “a minha filha deu- -me três netos, que hoje são a minha maior alegria”. Além disso, Emília não guarda mágoas do seu ex-esposo. “Ele agora vive com uma senhora de Inhambane e já tem muitos filhos”, afirma.

Emília conta que a cada dia que passa a sociedade moçambicana está a perder os seus valores morais e deixa um conselho a outras senhoras: “A mulher é a chave da casa, não deve ficar sentada e deixar tudo nas mãos de empregados. Ela deve cuidar e respeitar o marido, independentemente da situação. Acima de tudo, tem de ter muita paciência, a mesma paciência que tem ao longo dos nove meses de gravidez”.

Natural do distrito de Ile, província da Zambézia, Emília Maria Napitela nasceu a 12 de Outubro de 1964, tendo posteriormente abandonado a sua terra natal na companhia do seu ex-marido devido à guerra civil. Além de ter a quarta classe do antigo sistema e o quinto ano de alfabetização, em 1986 fez o curso de economia doméstica ministrado pela Organização da Mulher Moçambicana (OMM) em Niassa, e lamenta o facto de não se dar mais importância a essa questão.

“Aprendíamos a reaproveitar as sobras de comida, as capulanas rotas, a cuidar da família e a organizar a casa. Aprendemos que não é preciso ter muito dinheiro para constituir um lar feliz. Sinceramente, não sei o que se aprende na OMM hoje em dia”, afirma.

Ela vive em Mocuba desde 1994 e trabalha no Conselho Municipal local há 10 anos. Começou primeiro por varrer as estradas da autarquia e, presentemente, faz a limpeza nos escritórios da instituição. Antigamente, auferia 750 meticais mensalmente e hoje ganha 2500. “Não é grande coisa, mas com o valor consigo pagar algumas despesas”, garante.

Num município onde a população consome água imprópria (grande parte vê-se obrigada a caminhar pelo menos cinco quilómetros até ao rio), Napitela decidiu aliviar o sofrimento de um pequeno grupo de pessoas residentes no bairro Samora Machel.

Com o seu próprio dinheiro, abriu um poço no seu quintal, que fornece água gratuitamente a pelo menos 50 famílias que moram ao seu redor. “Gostaria que o Governo me apoiasse na montagem de um furo metálico de água, o que iria permitir que mais pessoas passassem a consumir água potável”, afirma.

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