Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

A mão d@ VERDADE – Pés Gelados

– Doutor, eu entro no chuveiro e lá está a calcinha da minha mulher pendurada numa torneira. – Sim. – O armário do banheiro está sempre cheio de coisas dela. Potes de cremes, sprays, loções, bisnagas… Não tem lugar para as minhas coisas. Já tentei jogar tudo fora, mas não adiantou.

No dia seguinte, o armário estava cheio de coisas dela de novo. – Sim. – A coberta da cama está sempre presa no lado dela. Não consigo puxar para o meu lado. – Sim. – Não posso usar o telefone. Está sempre ocupado. – Sim. – E o pior, doutor: os pés gelados dela encostando na minha perna, na cama, quando eu menos espero. – Sim, sim. Só não entendo porque o senhor me está contando tudo isso. Parece mais assunto para um conselheiro matrimonial, não um psicólogo. – É que a minha mulher morreu há mais de um ano, doutor!

Perdedor, Vencedor

O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede. Depois foram para o vestiário, lado a lado. No vestiário, enquanto tiravam a roupa, o perdedor apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo: – Também, com essa raquete… Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor também sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os ténis. O perdedor comentou, ainda sorrindo: – Também, com esses ténis… O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor examinou o vencedor e comentou: – Também com esse físico… O vencedor perdeu a paciência. – Olha aqui – disse.

– Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Podia comprar uma raquete igual à minha e ténis melhores que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é o equipamento que ganha o jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude de vencedor. Prefere atribuir a sua derrota à minha raquete, aos meus ténis, ao meu físico, a tudo menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo o que é meu e mudasse de atitude, você também poderia ser um vencedor, apesar dessa barriga. O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse: – Também, com essa linha de raciocínio…

* Escritor brasileiro e colunista do jornal “Expresso”

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts