“Há homens que lutam um dia – e são bons. Há outros que lutam um ano – e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos – e são muito bons. Porém existem aqueles que lutam toda uma vida – estes são os imprescindíveis.” (Bertold Brecht, dramaturgo alemão)
Caros patrícios, na ressaca (quiçá na overdose ainda) dos acontecimentos trágicos e históricos dos dias 1 e 2 de Setembro, estou sem assunto!
Se fosse esperto, escriba preguiçoso, oportunista, voltava a publicar integralmente a minha crónica Sobre Tragédias Gregas.
Infelizmente, não aprendi a ser esperto, por culpa da minha escola da vida. Sim, essa escola da minha vida iniciada nas lições do vovô Paulo, o qual instilou o meu Primeiro Sonho: quando crescer, quero ser Professor de Português!
Lições essas fortalecidas com a sabedoria de rua nas minhas aventuras e do meu primo Soto, quando brincávamos de gajo (pessoazinhas de papel), e reforçadas pelo meu primeiro bêa- bá na Escola Primária A Luta Continua, ali na Sommerschield-Carreira de Tiro – feudo e burgo da minha primeira infância.
Como essa qualidade de coelho não faz parte do meu espírito animal (segundo um amigo meu: para cada ser humano, há um animal seu sósia ou correspondente) e conforme já vos segredei há umas semanas que quero ser inventor, permitam-me um rasgo de génio para inventar esta prosa.
Esta prosa foi sendo inventada tipo “Deus tem um plano para ti e ele está em execução” inadvertidamente, por via de minhas postagens na rede social do Facebook nos últimos dias… Esta prosa começou a ser inventada no meu subconsciente (ou será inconsciente, meu caro Freud?) quando li, no Jornal Savana de semana passada, uma entrevista do correspondente e delegado da Rádio Moçambique na África do Sul ao único sobrevivente dos fundadores da FRELIMO que ainda permanece fi el ao movimento libertador e partido pós-independência.
Tive o Rasgo de Génio para esta prosa quando Marcelino dos Santos respondeu ao João de Sousa que “o socialismo democrático é simplesmente um truque que as forças capitalistas construíram para deitar poeira nos nossos olhos”.
Não resisti, caros patrícios, em recordar- me deste trecho do antigo Hino Nacional: “Nossa pátria será o túmulo do Capitalismo e da Exploração”.
Será, caros patrícios, esta nossa Pátria Amada – excelsa de empreendedores do Import e cada vez menos do Export, prenhe de cidadãos escravos do Consumismo – túmulo do Capitalismo e da Exploração?
Lembrei-me, depois, caros patrícios, de um dos slogan favoritos do nosso Regime, após o fatídico 19 de Outubro de 1986: “Samora Vive em Cada Um de Nós”.
Somos nós os Filhos da Nação, tributários do Sonho Moçambicano resumido nestes dizeres de Samora: “quer dizer, nós somos ambiciosos, queremos ser produtores, consumidores e exportadores!?”
Onde está o nosso Sonho? Onde ficou a nossa Ambição? Querem saber, caros patrícios? Eureka! Está na Constituição da República de Moçambique:
CAPÍTULO II – ORGANIZAÇÃO ECONÓ- MICA
Artigo 103 (Agricultura)
1. Na República de Moçambique a agricultura é a base do desenvolvimento nacional.
2. O Estado garante e promove o desenvolvimento rural para a satisfação crescente e multiforme das necessidades do povo e o progresso económico e social do país.
Artigo 104 (Indústria)
Na República de Moçambique a indústria é o factor impulsionador da economia nacional.
Fim de citação. Sou saudosista, não é? Está bom, caros patrícios, porque do passado não se foge, mas dele se forja o futuro, esta prosa foi também inventada pela ressonância deste refrão: “Nós somos Continuadores da Revolução Moçambicana!”.
Se bem me lembro, existia a Organização da Continuadores, em que as flores que nunca murcham de Papá Samora, “os meninos à volta da fogueira vão aprender coisas de sonho e de verdade, vão aprender como se ganha uma bandeira e vão saber o que custou a liberdade”.
Existe ainda esta Organização ou, que nem outras Organizações Democráticas de Massas do tempo da Utopia (OMM e OJM), virou liga infantil do Partidão? Se sim, o que simbolicamente isso nos quer dizer…em relação à Revolução, em relação ao futuro?
Falei de futuro, caros patrícios? Ao futuro deixo estas duas dedicatórias:
– A primeira para os aventureiros, arruaceiros, manipulados, vândalos e agitadores de 1 e 2 de Setembro: “we’ll fi ght for the right to be free, we’ll build up our own society, we’ll sing we will sing, we will singing our own song (nós vamos lutar pelo direito de sermos livres, nós vamos construir a nossa própria sociedade, nós iremos cantar, cantaremos a nossa própria canção)*;
– a segunda para o Mano Azagaia: “only the strong will continue (apenas os fortes continuarão)!”**
Mesmo sem Miriam “Mama Afrika” Makeba, e sem Samora Machel a quem dedicar… aqui em Moçambique, A Luta Continua!
*trecho da música dos UB40 “Sing Our Own Song”
**título da música do fi lho de Bob “Tough Gong” Marley, Damien “Junior Gong”Marley e seu camarada Nas