A exploração madeireira em Nampula prossegue de forma desenfreada sob a complacência das autoridades locais. Quase todos os dias, dezenas de árvores são abatidas e levadas em toros para o exterior. Mas a devastação da floresta chama a atenção quando os enormes camiões apinhados de diversas espécies de madeiras circulam pelas artérias da cidade com destino ao porto de Nacala.
Em quase todo o país a devastação da floresta é uma realidade visível. Porém, em Nampula ela não chama a atenção como o número de imigrantes ilegais neutralizados todos os dias, ou casos de pobreza extrema, ou os estragos causados pela guerra dos 16 anos.
Pelo contrário, a exploração madeireira de umbila, pau-preto, monzo, jambiri, entre outras espécies de primeira, segunda e de terceira qualidade, chama a atenção de forma indirecta, sobretudo quando se assiste a enormes camiões carregados de madeiras em toros a caminho do porto de Nacala, ou mesmo quando são reportados casos de apreensão de contentores cheios de madeira não processada a ser exportado para alguns países asiáticos.
Nesse promissor mercado, o preço daquele produto é definido em metros cúbicos, num negócio que a cada dia que passa vai ganhando novos protagonistas. E o seu valor depende da qualidade do espécime.
A madeira à venda nas carpintarias é de péssima qualidade, em nada comparável à majestosa madeira cujo destino são alguns países da Ásia, que é abatida nos distritos de Muecate, Murrupula, Mogovolas, Moma, Mecubúri, Malema, Ribáuè e Meconta, e na Zambézia nos distritos de Pebane, Gurué, Gilé, Alto- -Molócuè, e Mocuba.
Presentemente, as espécies dessa madeira são raríssimas. O recorde da madeira mais volumosa foi alcançado em Abril de 1999, quando um toro de 658 quilogramas foi exportado para a China, daí nunca mais se viu um espécime desse porte.
Os moçambicanos contentam-se com algumas árvores de pequeno porte que são exploradas em algumas reservas das florestas, pois em quase todos os distritos da província de Nampula já não há madeira de qualidade para os nacionais.
A madeira empacotada em contentores para exportação não é processada. E é das melhores que existem no país. O que se vende a nível do mercado nacional com o nome de madeira é de má qualidade. “Das reservas ou mesmo florestas existentes a maior parte foi totalmente explorada, algumas estão super-exploradas ou esgotadas e só um pouco parece estar subaproveitado, principalmente a madeira de terceira”, revelam algumas pessoas entendidas na matéria florestal.
A indústria madeira nacional mostra- se actualmente insustentável, para não dizer irresponsável. De referir que, Moçambique continua a enfrentar grandes desafios na gestão, conservação e utilização das suas florestas que diariamente são sacrificadas e condenadas à extinção, ou seja, as florestas estão com os dias contados.
Anualmente, milhões e milhões de hectares de florestas são consumidas pela acção humana. Acredita-se que a maior parte da superfície coberta com florestas era, há 10 anos, estimada em 40 milhões de hectares, dos quais 22,5 milhões (56,2%) eram florestas densas e 16.4 (40.9%) abertas, 357 mil hectares (0.9%) de mangais e 802 mil (2.0%) florestas abertas em áreas húmidas já tinham sido dizimadas.
No sector de Florestas e Fauna Bravia, alguns generais, em conexão com os seus comparsas de origem asiática (chineses), são os responsáveis pela exploração da madeira nas florestas e matas moçambicanas. Estima-se que até 2020 o país não terá uma árvore sequer para explorar ou exportar.
O dano ambiental será irreparável. Aliás, a situação do aquecimento global já esta a afectar Moçambique em grande escala e tudo isso mostra que nos próximos anos a situação pode ser maior do que nos dias de hoje.
Segundo a Direcção Nacional de Terras e Florestas, a degradação florestal no país está a acontecer de forma assustadora e a um nível muito acelerado. E se não forem replantadas as árvores, os danos ambientais serão devastadores, uma vez que elas são um grande protector do ambiente, um dos ocupantes do topo da cadeia de criação da fotossíntese e do ar que respiramos.
As madeiras como pau-preto, sândalo e monzo estão ameaçadas. O monzo faz parte da espécie mais explorada hoje. Mas antigamente não era assim. As árvores como o pau-preto, com milhões de espécies de árvores valiosas, cruzavam as florestas criando uma quantidade agradável do ambiente estável e proporcionando estabilidade ambiental para os moçambicanos.
Hoje, as árvores frondosas são raras, resultado do saque e abate indiscriminado. Ao matar as plantas, coloca-se o risco de desertificação do território nacional. Estima-se que em todo o mundo, as florestas de formação natural constituem o habitat da maior parte das espécies de animais e plantas e a sua biomassa (por unidade de área) é muito superior quando comparada com outros habitats.
Além disso, a floresta é uma fonte de riqueza para o Homem, uma vez que fornece madeira, resina, celulose, cortiça, frutos, protege o solo da erosão, acumula substâncias orgânicas, favorece a piscicultura, cria postos de trabalho, fornece materiais para exportação e melhora a qualidade de vida.
O pau-preto é um exemplo. Por séculos, foi um esteio de sobrevivência da arte maconde, a principal fonte de escultura e das famosas bengalas de vários idosos. Era abundante, encontrado em grandes quantidades nas matas do distrito de Meconta e Nampula – Rapale. Até os anos 1970 a madeira não tinha um valor comercial entre nós, era barato comprar uma tábua.
O seu preço só subia depois de feito o mobiliário. Vezes havia em que se oferecia madeira para trabalhos fúnebres. Hoje, o preço é proibitivo o ano inteiro. A madeira vai desaparecendo. Sem o banimento da sua exploração, as quantidades restantes não serão suficientes para recompor as espécies mais exploradas.