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Moçambique não possui uma estratégia de internacionalização do seu sistema de ensino superior

Patrício Langa, especialista em Sociologia e em Estudos do Ensino Superior

O académico e especialista em Sociologia e em Estudos do Ensino Superior, Patrício Langa, considera que Moçambique não possui uma estratégia de internacionalização do seu sistema de ensino superior, muito menos das suas instituições, e que a actual mobilidade académica internacional baseia-se nas relações de cooperação e solidariedade entre povos e países, que é, na verdade, “um modelo em decadência”.

A internacionalização, de acordo com o académico, não deve ser confundida com troca de estudantes, através da atribuição de bolsas de estudo. É, sim, um sistema caracterizado pela competitividade “agressiva” entre as nações e instituições de ensino superior, predominante, por exemplo, nos Estados Unidos da América, no Reino Unido, e na África do Sul.

“Parece radical, mas ainda não temos um sistema de internacionalização do ensino superior. Temos, sim, algum nível de mobilidade internacional”, sentenciou Patrício Langa, que, para sustentar esta constatação, referiu-se ao facto de a totalidade ou a maior parte dos estudantes moçambicanos que se encontram a estudar na diáspora terem recebido bolsas de estudo, tendo como principais destinos Portugal, China, Índia, Rússia e Argélia.

“Foi no âmbito dos acordos de cooperação, e não necessariamente de uma internacionalização”. “Estamos a falar de uma indústria que mobiliza biliões de dólares da qual Moçambique não faz parte e nem possui uma estratégia discursiva em relação a isso, senão retórica”, sublinhou o académico, que fez uma apresentação na terça-feira, 27 de Abril, na primeira sessão do terceiro ciclo de palestras alusivo aos 25 anos da Universidade Politécnica, que decorre sob o lema “Celebrar a Universidade, Perspectivar o Ensino Superior no Século XXI”.

Uma das consequências da ausência de uma estratégia de internacionalização do ensino é o facto de Moçambique ser pouco atractivo para estudantes provenientes de outros países: “A proporção destes (estudantes) no nosso país ou sistema é quase nula”.

Na ocasião, Patrício Langa apontou a internacionalização como uma estratégia de “sobrevivência” das instituições de ensino superior num mercado cada vez mais competitivo, baseado no talento, onde a inovação e a extensão têm mais relevância do que o ensino propriamente dito.

Ainda sobre este tema, o académico e especialista em Ciências da Educação, Martins Laita, referiu que a internacionalização desempenha um papel de extrema importância no desenvolvimento das instituições de ensino superior num mundo cada vez mais globalizado, onde impera o conhecimento. Porém, chamou à atenção para o facto de “a internacionalização implicar uma abertura das instituições para mais cooperação com as suas congéneres.

Da mesma forma que a mobilidade enriquece os docentes e estudantes que nela participam, a internacionalização é importante para o desenvolvimento. A mobilidade tem uma relação directa com a internacionalização. São dois aspectos fundamentais para o desenvolvimento da ciência, das pessoas e das nossas instituições”.

Intervindo na abertura do evento, o reitor da Universidade Politécnica, Narciso Matos, explicou que o ciclo de palestras, que faz parte de um conjunto de actividades que a instituição está a realizar, não visa apenas celebrar os 25 anos, mas também reflectir sobre o futuro do ensino superior em Moçambique, principalmente no período pós-Covid. “Pretendemos reflectir sobre o modo como devemos continuar a trabalhar nestes tempos de mudança, mas mudança para frente. No princípio (a pandemia) parecia algo passageiro, mas começa a ser consensual que temos que aprender a trabalhar desta maneira, e cada vez melhor”.

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