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O mundo ao contrário

Ao contrário da maioria do mundo não fiquei espantado com a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Barack Obama. Antes desiludido.

Foi a prova final de que o mundo se vendeu em definitivo. Não que Obama tenha alguma coisa a ver com isso. Não há dúvida de que tem reservado um papel essencial, no futuro próximo. Mas há uma fina camada de neblina que paira sobre esta decisão, e que encobre muito ao de leve as reais razões da atribuição de tão distinto prémio. Ou não. Porque está à vista de quem quer ver.

Como ouvi tanta gente inteligente sussurrar, esta atribuição é notável. Pela capacidade de comprometimento a que obriga. Como se tornasse o presidente dos Estados Unidos refém desta distinção, em cada momento que tenha de tomar opções do foro… não pacífico. Não podia discordar mais. Que deposita nas mãos do homem mais poderoso do mundo, a responsabilidade de preservar a paz, e que assim se investe no futuro. No mínimo perigoso.

Que obriga o maior produtor de armas do mundo a repensar a sua estratégia produtiva. Eloquente. Que apelida de pacífico o país mais militarizado do mundo. Coerente. Que entrega a maior distinção desta área, e é bom que se perceba do que estamos a falar, por acções futuras… Sintomático. Habituei-me a ver o prémio Nobel, como uma espécie de instituição intocável, ciosa do bomnome e ciente da importância do seu papel.

Meticulosa na forma como atribuía as distinções e indiferente a pressões políticas de meios tão diversos. Consciente da importância de actuar mais e premiar quem o faz na realidade. E é disso que se trata. Premiar acções meritórias que tenham dado um contributo significativo para a paz no mundo. O que fez Obama a favor da paz no mundo? Foi eleito! O que irá fazer Obama pela paz no mundo?

E é essa a verdadeira questão e a verdadeira motivação (na minha opinião) da atribuição do prémio. Chegámos por isso ao expoente da evolução do capitalismo. Até a Fundação Nobel investe. Através dos prémios que atribui. Não por actos praticados, mas por acções futuras. Numa espécie de obrigação cobrável a longo prazo. Num tipo de favor a crédito, a ser cobrado mais tarde.

Obama recebeu o prémio não pelo que fez, mas pelo há-de fazer. Perdeu-se assim a identidade do Nobel da Paz. A essência e a sua maior virtude. Premiar o desprendimento daqueles que o recebem. Pelo menos, talvez ingenuamente, sempre acreditei que funcionasse assim. Mesmo que muitas vezes tenha discordado das atribuições. Controversas. Sem dúvida. Difíceis de aceitar. Por vezes. Mas justificáveis por actos praticados. Devo dizer que gosto do Presidente Obama.

Que a América elegeu o homem certo na altura certa. Que ainda em estado de graça, tem sido inteligente na forma como tenta alterar as mentalidades. Mas tenho dúvidas na excessiva máquina de marketing que o empurra. Obama é neste momento uma marca imbatível, que está na moda. É uma verdadeira cash cow que a América vai espremer até não lhe sobrar o tutano. E há por isso um certo encantamento geral por tudo o que o envolve. O prémio que recebe é pura estratégia comercial.

É como uma festinha nas largas costas desta América beligerante. Género, “vá lá, não produzam tantas armas e se formos a ver a guerra não vale a pena…Boa?”. Temo uma resposta do género. “Hmmmmmmm… Sorry. Não vai dar…”.

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