Eram 9h 30, do dia 17 de Outubro, quando o Range Rover azul, afecto ao Departamento de Distribuição do Jornal @VERDADE, começou a percorrer as ruas da cidade em direcção ao Posto Administrativo de Sabié, um destino quase desconhecido para muitos moçambicanos, mas com imenso potencial agrícola e turístico e não só:
o Sabié é também o maior fornecedor de peixe de água doce à capital do país, como também um grande produtor de hortícolas.
A delegação liderada por Sérgio Labistour, director de distribuição do nosso Jornal, sob supervisão do director geral adjunto, Adérito Caldeira, ia fugindo do comodismo urbano, galgando as terras baldias, escutando o cantarolar dos pássaros e o saltitar dos caprinos diante da beleza paisagística que só a natureza sabe dar. Do interior da viatura, era possível ver manadas de bois deliciando-se com o capim seco do Verão, nas planícies de Maputo. Quarenta e cinco minutos depois, chegávamos a Moamba.
À entrada, cinco ruínas de palhotas perfiladas deram-nos as calorosas boas- vindas. “É um quartel”, afirmou Sérgio Labistour enquanto abrandava a velocidade. “Não! São antigas residências dos trabalhadores dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique”, retorquiu o Adérito, o distribuidor e, por sinal, nosso guia. A viagem prosseguiu e a avidez de espreitar a beleza natural que nos rodeava era tanta que nem a comodidade da viatura nos tirava essa apetência.
Os primeiros contactos
Na vila de Moamba, existe uma crescente expansão da rede escolar, sanitária e o desenvolvimento do comércio ambulatório, que roubam grande parte dos seus passeios. Encontrámos ali um grupo de jovens, sedentos de ler algo enquanto não conseguiam suster a emoção de terem o primeiro contacto com @VERDADE.
No horizonte da comitiva estava estampado aquele objectivo primordial da viagem: encontrar alguns inquiridos pela equipa de pesquisa da Universidade de Oxford, uma organização que está em Moçambique com o intuito de medir o impacto e importância dos “media” nos processos eleitorais.
Pela sua dimensão e força, o @VERDADE foi escolhido para o referido estudo. A seguir, vencido que foi um espaço de 48 minutos, estávamos no posto administrativo de Sabié, onde chegámos exaustos, devido ao estado deplorável em que a rodovia se apresenta num troço de 15 quilómetros, a partir da Moamba. E agora, que fazer? Por onde começar? Foi a pergunta que nos ressaltou.
A lista, de que Éramos portadores, tinha nove nomes de diferentes bairros. Estávamos no complexo Valdino, o mais importante centro comercial de Sabié. É atrás deste empreendimento comercial que mora Ester Chequa, uma senhora que há quinze dias recebeu a visita dos pesquisadores da Oxford. Por coincidência, foi a primeira a receber a equipa do nosso jornal. Nesse instante, o distribuidor e o jornalista entravam casa adentro.
Mais afastado, Adérito Caldeira, ia filmando, o que provocou uma piada de uma sexagenária, mãe da Ester: “a Xilunguana xa ni txuda ni mpalha há tchaka”, o que traduzido para português quer dizer: “o branquinho está a fotografar- me com roupa suja”.
O resto foi um conjunto de risos prolongados e, assim que se entregaram as duas edições do jornal de que éramos portadores, seguiuse um contacto prolongado, no bairro Matadouro, sob o olhar sereno da vizinhança que não se coibia de estender as mãos à procura d’@ VERDADE.
Um morto ressuscitado
Projectávamos ainda o modus operandi na pequena vila de Sabié, quando um residente nos disse que Salmina, uma das nossas procuradas, perdera a vida no ano passado, notícia que foi prontamente refutada pela nossa equipa, uma vez que, há 15 dias atrás, a referida pessoa fora inquirida pelos homens da Oxford. Quando o sol começava a abrasar chegámos, finalmente, à casa de Salmina.
Entre risos que tanto poderiam vir do purgatório, do inferno ou do Reino celestial, fosse qual fosse o local para onde os seus vizinhos a haviam remetido com a sua “morte”, Salmina recebeu-nos com o seu claro português dando-nos as boas-vindas. E ali ficámos olhando aquela mulher que, momentos antes, nos fora garantido já não fazer parte dos vivos. Por incrível que pareça, precisamente por isso, até se nos afigurava estranho receber as suas boas-vindas.
O chefe da distribuição indagou-lhe se ainda conservava o primeiro jornal. Bem devagar, Salmina voltou e entrou na casa trazendo a seguir a edição 56 d’@ VERDADE, num estado impecável de conservação. “Dona Salmina” como ali é tratada, para além dos seus trabalhos caseiros, é militante activa da Frelimo como, aliás, documentavam os panfletos que forravam, por completo, as laterais do seu apartamento. E foi assim que terminou o trabalho no Sabié, numa missão que culminou com a descoberta de um novo distribuidor do jornal naquela região. Portanto, a distribuição da nossa publicação no local ficou, desde então, sob a responsabilidade da casa Valdino.
Uma barragem desaproveitada
Pelas 16 horas saímos todos, pela primeira vez, rumo à Barragem de Corrumana e dez minutos durou a caminhada. O empreendimento constitui, nos últimos tempos, um dos gigantes regionais no fornecimento de energia eléctrica e, por isso mesmo, ficámos estarrecidos pelo desaproveitamento daquele majestoso investimento nacional. Fora do abastecimento de energia, nada mais restará àquele espaço senão um destino turístico de referência que, não fossem as burocracias por que se tem passado para se chegar ao local, estaria já a funcionar em pleno.
Ao longe, podiam ser vistos turistas pescando, presumindo- se que, muitos deles, sejam oriundos da África do Sul. De volta às origens, passámos de novo por Moamba, com paragem no restaurante Zucula, local que passará a ser ali o próximo distribuidor do jornal naquele distrito. Foi aí que saboreámos umas costelas de porco que, no final, foram regadas com um saboroso vinho do porto.
E de Moamba à Barragem de Corrumana e ao Sabié ficaram as saudades e a vontade enorme de um dia voltar!